25 de julho é Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela
Postado em 25 de Julho de 2024 às 09h07.
Conheça algumas das mulheres negras que se destacaram na luta pela igualdade racial e pelos direitos das mulheres no país.
Em reconhecimento à batalha e à persistência das mulheres negras, o dia 25 de julho é comemorado como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, a data também é uma celebração à Tereza de Benguela, famosa como "Rainha Tereza", que residiu no século XVIII no Vale do Guaporé (MT) e comandou o Quilombo de Quariterê.
De acordo com registros históricos, o local abrigava uma quantidade superior a cem habitantes, dentre eles indígenas. A liderança se destacou ao estabelecer um tipo de assembleia e um sistema de defesa para a comunidade quilombola. Tereza foi assassinada após ser aprisionada por militares. O Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra foi oficializado no Brasil por meio da Lei 12.987/2014.
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi criado pela ONU durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, que aconteceu em Santo Domingo, República Dominicana, em 1992. Mais de 300 representantes de vários países se reuniram para compartilhar suas experiências, denunciar opressões e discutir maneiras de lutar contra o racismo e o machismo.
Os dias marcados no calendário do ANDES-SN destacam a importância da resistência das mulheres negras na luta por seus direitos, combatendo a opressão de gênero, a exploração e a discriminação racial.
Saiba mais sobre algumas mulheres negras que se destacaram na luta pela igualdade racial e pelos direitos das mulheres.
Xica Manicongo viveu no século dezesseis e é considerada a primeira mulher trans não indígena do Brasil. Ela foi escravizada, trazida para o país e vendida a um sapateiro em Salvador. Xica foi alvo da Inquisição portuguesa por acusação de sodomia e por fazer parte de um "grupo de feiticeiros sodomitas". Na verdade, ela foi criminalizada por sua identidade de gênero, refletindo uma realidade que ainda afeta a comunidade trans e travesti no Brasil. Sua história representa a luta das mulheres trans brasileiras pelo direito à sua história e reconhecimento, na batalha contra a opressão de gênero e sexualidade.
Dandara dos Palmares, guerreira e líder quilombola, destacou-se na luta pela liberdade dos negros contra a escravidão no século XVII. Conhecida por suas habilidades na capoeira, ela enfrentou ataques ao Quilombo dos Palmares ao lado de homens e mulheres. Parceira de Zumbi dos Palmares, teve três filhos com ele. Com a intensificação dos ataques durante a invasão holandesa, Dandara foi capturada e, em 1694, preferindo a morte à escravidão, escolheu se jogar de uma pedreira para escapar do cativeiro imposto pelos homens brancos.
Teresa de Benguela, também conhecida como "Rainha Teresa", viveu no século XVIII no Vale do Guaporé, em Mato Grosso. Após a morte de seu companheiro José Piolho, assassinado por soldados, ela assumiu a liderança do Quilombo de Quariterê. O quilombo abrigava mais de cem pessoas, entre negros e indígenas, e resistiu ao longo de várias décadas, do início dos anos 1730 até o final do século. Teresa se destacou como líder por estabelecer um sistema de governança semelhante a um Parlamento e criar mecanismos de defesa para a comunidade. Não existem registros precisos de sua morte, mas uma versão sugere que ela foi capturada e morta por soldados em 1770. No Brasil, o dia 25 de julho é oficialmente comemorado como o Dia Nacional de Teresa de Benguela e da Mulher Negra.
Esperança Garcia, uma mulher que vivia em condição de escravidão, foi uma figura proeminente no século XVIII no estado do Piauí. Em 1770, ela redigiu uma carta protestando contra os atos violentos que os escravizados sofriam na fazenda de Algodões, localizada a 300 quilômetros da futura capital, Teresina. Essa carta, enviada ao governador da época, foi posteriormente identificada como uma das primeiras petições legais do Brasil, após a descoberta de uma cópia nos registros públicos do Piauí. Considerada um símbolo de resistência e coragem na luta pelos direitos no contexto da escravidão no Brasil, Esperança Garcia foi oficialmente reconhecida em 2022 pela Ordem dos Advogados do Brasil como a primeira advogada do país.
Luísa Mahin, uma negra africana guerreira da Nação Nagô - Jeje, foi um símbolo de resistência contra a escravidão no século XIX. Em 1812, ela comprou sua liberdade e se destacou como líder e articuladora da Revolta dos Malês em 1835 e da Sabinada em 1837. Além de vender quitutes, Luísa utilizava seu tabuleiro para espalhar mensagens em árabe. Ela sempre rejeitou o batismo e a religião cristã. Seu filho, Luís Gama, seguiu seus passos como poeta e um dos mais importantes abolicionistas do Brasil. Após ser descoberta, Luísa fugiu para o Rio de Janeiro, onde foi capturada e possivelmente deportada para Angola, embora não existam registros que confirmem esse destino.
Maria Felipa de Oliveira, uma mulher livre que viveu no século XIX, ficou conhecida como uma heroína da resistência durante a luta pela independência do Brasil, principalmente pelas suas ações na ilha de Itaparica, na Bahia. Maria era uma ex-escravizada que morava na ilha com outros libertos, onde se dedicavam à pesca, à coleta de mariscos e à produção de alimentos para vender. Ela liderou um grupo de cerca de 200 pessoas, incluindo mulheres negras e indígenas, em ataques surpresa contra os portugueses, destruindo navios inimigos e lutando pela liberdade. A coragem e a liderança de Maria a tornaram uma figura importante na história da independência da Bahia.
Almerinda Farias Gama (1899-1999) foi uma mulher multifacetada, que atuou como advogada, jornalista, sindicalista, tradutora e ativista feminista. Ela foi uma das pioneiras na luta por direitos das mulheres e igualdade racial no Brasil. Como integrante da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, teve um papel fundamental na conquista do direito ao voto feminino no país. Gama foi uma das primeiras mulheres negras a se envolver na política no início do século XX. Além disso, ela fundou o Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos do Distrito Federal, sendo a única mulher a participar como delegada classista na Assembleia Nacional Constituinte de 1933. Sua atuação foi marcante até a promulgação da Constituição em 1934.
Antonieta de Barros desempenhou um papel crucial na história do Brasil. Nasceu em 1901 e tornou-se a primeira mulher negra a ser eleita deputada estadual no país, em 1934. Defensora da educação e lutadora contra discriminação racial e de gênero, criou o Curso Particular Antonieta de Barros para promover a alfabetização de adultos. Sua vida foi marcada pela defesa da educação como ferramenta de libertação e participação cidadã. Antonieta de Barros é lembrada por suas batalhas em prol de seus ideais em um tempo em que as mulheres tinham poucos direitos. Faleceu em 18 de março de 1952, aos 50 anos de idade.
Laudelina de Campos Melo, nascida em 1904 e descendente de escravos, deixou os estudos aos 12 anos após a morte de seu pai em um acidente de trabalho, assumindo a responsabilidade de cuidar de seus cinco irmãos mais novos. Aos 16 anos, foi eleita como presidente do Clube 13 de Maio, que organizava eventos recreativos para a comunidade negra de sua cidade. Ela teve um papel ativo em movimentos sociais e políticos e, em 1936, foi uma das fundadoras da Associação das Trabalhadoras Domésticas, em Santos (SP). Além de defender os direitos das trabalhadoras domésticas, ela também se dedicou ao movimento negro e participou de diferentes atividades culturais. Laudelina faleceu em 1991, em Campinas (SP).
Carolina Maria de Jesus (1914 - 1977) foi uma renomada autora brasileira que atuava como catadora de materiais recicláveis. Ela colecionava revistas e cadernos que encontrava no lixo e, em sua casa, guardava mais de 20 cadernos contendo relatos sobre a vida na favela. Um desses cadernos deu origem ao seu livro mais conhecido, "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada". Carolina se tornou um símbolo de resistência e determinação, sendo uma das primeiras escritoras negras a alcançar reconhecimento internacional. Através de sua escrita, Carolina destacou a importância do testemunho como forma de denunciar a desigualdade social e o racismo.
Lélia Gonzalez, nascida em 1934, foi filha de um ferroviário negro e de uma empregada doméstica indígena. Ela se destacou como intelectual, antropóloga e ativista brasileira na luta pelos direitos das mulheres negras e pela igualdade racial. Como professora universitária, Lélia foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Coletivo de Mulheres Negras N'Zinga. Suas obras e ações tiveram um impacto significativo no combate ao racismo e sexismo no Brasil. Apesar de ter falecido em 1994, Lélia tem seu legado e obra resgatados e reconhecidos atualmente. Ela é lembrada como uma voz forte na defesa da identidade e cultura afro-brasileira.
Marielle Franco nasceu no ano de 1979 e foi uma importante figura na política brasileira, representando diversas minorias ao longo de sua carreira. Mulher negra, feminista, mãe, LGBTI+, pobre e criada em uma favela, Marielle foi eleita vereadora do Rio de Janeiro e presidente da Comissão da Mulher da Câmara. Possuía mestrado em Administração Pública pela UFF, com uma dissertação intitulada "UPP: a redução da favela a três letras". No dia 14 de março de 2018, Marielle Franco foi brutalmente assassinada em um ataque ao carro em que estava, junto com seu motorista, Anderson Gomes. Os responsáveis pelo crime não sabiam que, apesar de ter sido silenciada, ela continuaria a inspirar milhões de pessoas ao redor do mundo como uma semente plantada.
Conceição Evaristo, nascida em 1946, é uma escritora e ensaísta brasileira conhecida por sua literatura comprometida com questões de raça, gênero e classe. Enquanto estudava, ela trabalhou como empregada doméstica. Com livros como "Ponciá Vicêncio" e "Becos da Memória", Evaristo dá voz às experiências das mulheres negras no Brasil. Seu trabalho tem sido fundamental para o reconhecimento da literatura afro-brasileira nacional e internacionalmente, com suas obras traduzidas para outros idiomas. Ela recebeu vários prêmios, incluindo o Jabuti, o mais prestigiado da literatura brasileira, na categoria de Contos e Crônicas por "Olhos d'água". Neste ano, foi eleita imortal na Academia Mineira de Letras, sendo a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na instituição. Além disso, Evaristo tem criado oportunidades para que outras mulheres negras se destaquem no mundo literário.
De acordo com dados da Fundação Palmares, Agência Senado, Ministério da Igualdade Racial, Instituto Esperança Garcia e FGV.