Mulher com 'pior dor do mundo' diz que deixou de fazer coisas que gosta para não sofrer com 'choques'

25 Julho 2024
A pior dor do mundo

Nos últimos meses, Ana Maria vem tentando enfrentar a doença do jeito que consegue. No entanto, uma das atividades que mais apreciava, como por exemplo, comer, está perdendo seu encanto.

Ana Maria afirma que a sensação de dor que sente é persistente e a acompanha ao longo de todo o dia.

Sempre que estou comendo, quando estou falando, quando passo a língua nos dentes, é constante o desconforto, como se estivesse levando golpes no rosto. É uma sensação estranha, ao passar a mão em certas partes do rosto ou da cabeça, onde parecem ser terminações nervosas, é uma experiência terrível.

A secretária também relata que, na tentativa de minimizar o sofrimento, começou a reduzir a quantidade de comida e a comer de forma mais acelerada, porém seus familiares estão apreensivos ao vê-la passar por essa situação dolorosa.

Eles se entristecem ao me ver nesse estado. Quando sento para comer, meu irmão observa-me com tristeza em seu olhar, percebe no meu semblante a dor que estou sentindo. A hora das refeições é a mais difícil para mim. Ingero menos alimentos, pois quanto mais rápido terminar, mais rápido me livrarei daqueles sintomas desagradáveis. Preciso me alimentar, mas sei que ao fazer isso, enfrentarei desconforto, choque, será terrível, mas é necessário.

O médico neurologista Sidney Godoi, da Clínica Frankfurt em Ribeirão Preto, confirmou que a mastigação é um dos fatores que pode desencadear a dor no caso de Ana Maria.

Quando você está mastigando, falando muito ou movimentando muito a mandíbula, isso pode desencadear crises de dor.

Ele argumenta que a razão para isso se dá devido à ramificação do nervo trigêmeo em três partes: orbitária, maxilar e mandibular, todas conectadas à região facial.

A dor apresenta uma peculiaridade única, não sendo difícil de diagnosticar, visto que segue o caminho do nervo trigêmeo. Trata-se de uma dor paroxística que se manifesta como um tipo de choque de intensidade forte, durando alguns segundos a poucos minutos, diminuindo em seguida, para depois retornar com a mesma intensidade elevada. Quando ocorrem essas dores paroxísticas que aumentam rapidamente em intensidade e desaparecem, a probabilidade de ser um caso de neuralgia trigeminal é alta.

Impacto Da Doença Em Maiores De 50 Anos

De acordo com o neurocirurgião Ricardo Santos de Oliveira, que é professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e médico do Hospital São Lucas, a neuralgia do trigêmeo afeta aproximadamente 0,004% da população.

Na cidade de Ribeirão Preto, cerca de 30 pacientes devem receber o diagnóstico de sofrerem da 'maior dor que se pode sentir'.

Ana Maria Carrér Tosta, natural de Ribeirão Preto (SP), recebeu o diagnóstico de neuralgia trigeminal em 2023. (Imagem fornecida pela própria paciente)

Ele descreve que o trigêmeo é um nervo que tem origem dentro do crânio.

Localizado no tronco encefálico, o nervo facial percorre um caminho através do crânio e da face, sendo responsável pela sensibilidade facial. Ao tocar um lado do rosto, é possível sentir a presença desse nervo. Além disso, ele possui uma função mastigatória, estimulando os músculos da mastigação e auxiliando na lubrificação da córnea. Sendo assim, suas funções são diversas.

De acordo com o especialista em neurologia, a dor no nervo trigêmeo está associada à elevação da pressão sanguínea. Por esse motivo, é mais frequente em indivíduos com mais de 60 anos de idade.

Na cidade de Alfenas, localizada em Minas Gerais, pessoas estão travando uma batalha contra uma doença.

A Santa Casa de Alfenas irá cuidar de 50 pacientes com neuralgia do trigêmeo.

Devido ao aumento da pressão no interior do crânio, uma artéria acaba se tornando muito sinuosa e começando a comprimir o nervo em sua saída. Esse contato constante acaba danificando o nervo ao longo do tempo.

Oliveira compara esse nervo a um cabo de alta voltagem. Se for exposto, causará um choque.

Se você segurar a ponta do fio, você não vai levar um choque, pois ele está isolado. Mas se houver uma parte descoberta e tocarmos, existe o risco de choque. Isso é semelhante ao que acontece com o trigêmeo. O pulsar da artéria pode lesionar o nervo, causando sua exposição.

Problemas Causados Pela Dor De Dente

De acordo com Oliveira, em geral, os pacientes com neuralgia do trigêmeo são identificados durante uma consulta odontológica.

Ana Maria começou a sentir desconforto há dois anos antes de descobrir que estava doente. Foi somente quando percebeu a necessidade de trocar sua prótese dentária que descobriu sua condição de saúde.

Nunca havia experimentado essa sensação antes, pareceu-me bastante desconfortável, mas como eu utilizava uma prótese no lado esquerdo do rosto, imaginei que poderia estar relacionado a isso. Pensei: "só pode ser isso, não tem outra explicação". Então, marquei uma consulta com o dentista e relatei o que estava acontecendo, perguntando se ele achava que era possível ser por conta da prótese. Ele respondeu: "bem, é uma possibilidade, mas não posso garantir. Vamos fazer uma tomografia facial para confirmar".

Após a realização da tomografia sem sucesso, ela optou por substituir a prótese, porém a dor persistiu.

"Teve uma melhora temporária, mas durou apenas um mês. Depois a dor voltou. Foi quando o dentista recomendou que procurasse um neurologista. O neurologista solicitou uma ressonância craniana, um exame desagradável, e já suspeitava que podia ser neuralgia do trigêmeo. E de fato, o diagnóstico confirmou essa hipótese."

Godoi esclarece que essa confusão é frequente, especialmente por se tratar de uma dor que atinge especificamente o rosto.

Já atendi diversas situações em que o indivíduo chega até mim relatando que já visitou um dentista, outro dentista, extraiu vários dentes e, mesmo assim, não obteve melhora, sendo encaminhado para um neurologista. A inervação do dente provém do trigêmeo, um ramo desse nervo, então ocasionalmente pode haver confusão entre os sintomas.

Variações No Tratamento Para Cada Paciente

Ana Maria nunca imaginou que poderia acontecer, porém alega que a enfermidade é realmente debilitante. Ela recebeu a recomendação de um médico para usar dois medicamentos distintos que podem aliviar o desconforto, mas no momento decidiu tomar somente um deles.

Foi difícil para mim decidir começar a tomar a medicação prescrita para epilepsia, pois é muito forte e controlada. Desde que recebi o diagnóstico, eu carregava a receita na bolsa, mas relutava em comprá-la. No entanto, a dor que sentia era insuportável, então acabei cedendo. Não havia prazer em nada, apenas dor constante. Cada dia que eu acordava pensava que era um novo dia, mas na realidade era mais um dia de sofrimento constante. Não havia um momento sequer em que eu me sentisse em paz.

Uma opção é realizar um 'bloqueio' no nervo. "Realizamos um bloqueio inserindo uma agulha no nervo, semelhante a uma anestesia de dentista no rosto. Com isso, a pessoa deixa de sentir dor e fica com uma sensação de anestesia no rosto"

Em algumas situações, é possível realizar uma microcirurgia neurovascular, de acordo com as informações fornecidas por Oliveira.

É colocado um tipo de suporte entre a artéria e o nervo para evitar o contato direto entre eles, o que é considerado o tratamento definitivo. Embora haja riscos cirúrgicos, a paralisia não ocorre no nervo em questão, mas sim em um outro nervo chamado facial. É importante considerar os riscos de cada procedimento, porém, quando realizado corretamente e indicado adequadamente, o índice de sucesso costuma ser alto. Muitas vezes, o paciente fica livre da dor após o tratamento.

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