Alexandre Padilha e Arthur Lira acumulam divergências desde o começo do governo Lula; relembre

12 Abril 2024
Alexandre Padilha

Na quinta-feira, dia 11, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), entrou em um novo conflito com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao insultá-lo com as palavras “incompetente” e “adversário pessoal”. Em resposta, na sexta-feira, dia 12, Padilha afirmou que não iria se rebaixar ao mesmo nível de Lira. Esses desentendimentos não são novidade entre os dois, que já possuem uma longa história de conflitos desde o começo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Lira Chama Padilha De Centralizador

Durante os dois primeiros meses de mandato em 2023, Lula ainda não havia obtido sucesso em garantir o apoio necessário na Câmara dos Deputados. Muitos parlamentares culpavam Padilha por não cumprir as promessas feitas e por não demonstrar vontade de dialogar. Como responsável pela coordenação política entre o Planalto e o Congresso, o ministro ocupava essa posição.

A ausência de comunicação entre os diferentes Poderes do governo levou Lira a fazer a sua primeira crítica pública a Padilha em abril de 2023. Em uma entrevista ao jornal O Globo, o presidente da Câmara disse que o departamento liderado por Padilha deveria estar melhor organizado e, de forma mais suave, mencionou que o ministro tendia a tomar a frente das decisões.

"É preciso que o governo se organize, especialmente a Secretaria de Relações Institucionais. Padilha é um indivíduo educado e sutil, mas está enfrentando desafios. Isso não tem gerado uma satisfação satisfatória nas relações. Talvez seja necessário que a equipe descentralize mais e confie mais. Quando se centraliza, cria-se uma grande restrição."

No começo do mês de maio, Lira encontrou-se com Lula e expressou a sua insatisfação com relação ao descumprimento dos acordos estabelecidos entre os Poderes. Por conseguinte, o presidente decidiu buscar uma solução para a situação e ordenou que os seus ministros autorizassem o repasse de R$ 10 bilhões em emendas destinadas aos deputados e senadores.

O desentendimento entre Lira e Padilha no final do ano passado também teve como causa as emendas. Foi o presidente da Câmara quem tomou a decisão de romper a relação, quando o governo publicou uma portaria que determinava que as emendas parlamentares na área da Saúde deveriam ser discutidas em um grupo formado por administradores estaduais e municipais do Sistema Único de Saúde (SUS).

Com base nisso, o parlamentar optou por entrar em contato com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, com o objetivo de debater questões relacionadas ao poder Executivo. As comunicações de Padilha, por sua vez, começaram a ser divulgadas por representantes do governo, como o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE).

Padilha é Excluído Dos Agradecimentos Da Reforma Tributária

No mês de dezembro, durante a promulgação da reforma tributária pelo Congresso Nacional, não houve menção de agradecimento ao Padilha, nem mesmo a sua presença na lista de convidados do evento. De acordo com a Coluna do Estadão, o pronunciamento de Lira revelou a existência de uma crise na coordenação política do governo.

A situação demonstrou que Padilha não participou das negociações da reforma e foi incapaz de desenvolver um relacionamento de comunicação efetiva com parlamentares. O sucesso nas negociações da reforma foi atribuído ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua equipe.

Por Outro Ministro

Lira deixou uma mensagem contundente ao governo durante a abertura do ano legislativo em fevereiro. Em seu discurso, ele exigiu que o Planalto cumprisse sua palavra dada e ressaltou que o Congresso honra seus compromissos políticos. Ademais, o líder da Câmara salientou que o Orçamento da União não é exclusividade do Executivo, mas de todos.

Uma política de qualidade se sustenta em um pilar crucial: a honra de pactos e o comprometimento com compromissos assumidos. Por seguir fielmente essa política, é apenas natural exigir respeito pelas decisões tomadas e o cumprimento estrito dos acordos firmados com o Parlamento - estas foram as palavras do parlamentar.

No dia corrente, Padilha procurou reduzir as divergências com Lira em público e saudou o parlamentar em duas ocasiões separadas. Contudo, na sessão, eles não se comunicaram oralmente.

Nos coulisses, o líder da Câmara parlamentar ameaçava bloquear a aprovação de projetos importantes para o governo, até que Lula substituísse o ministro das Relações Institucionais. Por outro lado, o presidente não se curvou às exigências de Lira e optou por manter Padilha no posto.

Lira E Padilha Continuam Com Relação Tensa

Após o discurso, Lula e o presidente da Câmara se encontraram no Planalto e concordaram que melhorariam a relação entre os Poderes. De acordo com pessoas próximas, o deputado afirmou que o diálogo no Palácio da Alvorada resultou em algo mais do que um mero cessar-fogo, garantindo ao ex-presidente que tudo estava recomeçando do zero.

Padilha procurou diminuir as discrepâncias que foram mencionadas pelo líder da Câmara. De forma afetuosa ao deputado, o ministro afirmou que espera replicar uma aliança de êxito com a Câmara e o Senado em 2024 e que o governo Lula jamais romperá com o poder legislativo.

Em momento algum, o governo pretendeu desfazer a aliança com o Congresso Nacional e nunca tomará tal iniciativa. Sob a liderança de Lula, este governo evita conflitos e não se envolve em disputas.

Lula promoveu uma confraternização no Palácio da Alvorada, três semanas depois da abertura do ano legislativo, com o objetivo de estreitar as relações entre o Congresso e o Planalto. Dentre os convidados estavam Lira, líderes partidários e cinco ministros. Padilha também esteve presente, mas não teve a oportunidade de conversar com o ex-presidente.

Líder Da Câmara Tensiona Situação Em Público

Durante um encontro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) em Londrina, no estado do Paraná, na quinta-feira, Lira foi interrogado sobre rumores de que ele teria perdido força política após a votação da Câmara que confirmou a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mentores do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2018.

Lira declarou que a informação de que veio do governo e especialmente do ministro Padilha, que é pessoa com quem ele não tem bom relacionamento e que não é competente. Ele afirmou que a votação de quarta-feira não foi partidarizada e que cada deputado tinha responsabilidade sobre seu próprio voto. Não houve fechamento de questão em nenhum partido e, na maioria deles, os líderes liberaram suas bancadas para votarem como desejado.

Em resposta às declarações de Lira no Fórum Brasileiro dos Líderes de Energia no Rio de Janeiro, Padilha retrucou. Ele referiu-se à uma canção do rapper Emicida para salientar que o "sentimento de mágoa é equivalente a um câncer" e afirmou que optou por levar em conta os comentários de Lula em relação ao seu desempenho.

Na minha cidade de São Paulo, a periferia gerou uma grande personalidade em relação ao ressentimento, o rapper Emicida, que afirmou: "o ressentimento é como um tumor, envenena a raiz e o público só quer ser feliz". Eu sou um parlamentar que conversa com todos os outros parlamentares, tanto homens como mulheres, senadores e senadoras, e sei que todos ali desejam a felicidade.

Os parlamentares alinhados com Lira afirmam que o comportamento do presidente da Câmara foi causado pela influência de Padilha no processo de votação relacionado à prisão de Chiquinho Brazão - uma questão interna da casa legislativa.

Por outro lado, os defensores do governo acreditam que as observações do legislador foram impulsionadas pela fragilização da postulação do líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), para a presidência da Câmara, depois que Brazão ficou detido. Brazão é o concorrente de Lira para assumir o cargo, o qual será disputado em 2025.

De acordo com a aliança governista do Planalto, a tática adotada pelo Centrão foi colocar Brazão em liberdade com o objetivo de enviar uma mensagem ao Supremo Tribunal Federal (STF), além de evidenciar a vulnerabilidade do governo. Posteriormente, o plano seria revogar o mandato do parlamentar no Conselho de Ética, o que agradaria à opinião pública.

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