Menin vê SAF do Atlético-MG como pioneira, critica cartolas e desafeto e descarta política: "Eu seria péssimo"

12 Julho 2024
Atletico

Rubens falou de forma precisa e pontual sobre os investimentos realizados no clube Galo, as dívidas que precisam ser quitadas, os prazos estabelecidos para isso, a construção da Arena MRV. Além disso, ele elogiou o rival Cruzeiro e expressou o desejo de ver novamente clássicos com as torcidas divididas. A vida pessoal do empresário de 68 anos, que é apaixonado por tênis, também foi abordada durante a conversa.

Rubens Menin concedeu uma entrevista ao Abre Aspas do ge.

O proprietário da Sociedade Anônima de Futebol do clube também elogiou Leila Pereira, mandatária do Palmeiras, pelo estilo de administração que conduz, manifestou admiração pelo Manchester City e abordou a relação com Alexandre Kalil, antigo presidente do Galo e adversário.

É fundamental para o empreendedor abolir o tradicional modelo do "dirigente esportivo".

- Não adianta vencer um campeonato e arruinar a equipe. Se você ganha um título e prejudica tudo, como vamos fazer? Um cara vence, prejudica, endivida o time, daí outro vem e comete o mesmo erro, vence o título, endivida. Foi assim por muito tempo no Brasil. Eles destruíram o futebol brasileiro - declarou Menin.

Rubens Menin foi entrevistado pela Globo em um programa de televisão.

A estrutura acionária do Atlético sempre foi elogiada pelos proprietários por ser uma estrutura acionária "interna", com torcedores do Atlético comprando ações e se tornando proprietários do clube. Isso passou a acontecer de forma semelhante no maior rival, com a venda da estrutura acionária do Ronaldo para Pedro Lourenço, um empresário mineiro e cruzeirense apaixonado. Menin reconhece a importância do rival para o Atlético.

Falar sobre o rival pode ser difícil, mas considero o Pedrinho uma pessoa legal, dedicada ao Cruzeiro, e acredito que o time se sairá melhor com ele. Mesmo que a torcida não concorde, a presença forte do Cruzeiro é fundamental para o Atlético, para o futebol de Minas Gerais e do Brasil. Estou convencido de que o Cruzeiro estará entre os 10 times mais fortes do Brasil no futuro, juntamente com o Atlético, Grêmio, Internacional e São Paulo.

Rubens Menin e Pedro Lourenço, proprietários das Sociedades Anônimas de Futebol do Atlético-MG e Cruzeiro — Imagem: Arquivo pessoal

O tema frequente no Atlético Mineiro são os aportes em novas estrelas e contratações de destaque para o time. Hulk é o reforço mais comentado desta época no Galo. Ele chegou em 2021 e está prestes a alcançar a marca de 200 partidas pelo clube. Com 37 anos, é preciso começar a pensar na sucessão de um ídolo.

Uma das fases mais marcantes do Atlético foi quando apostamos na jovem equipe formada por Cerezo, Reinaldo, Paulo Isidoro e outros jogadores talentosos. Foi nesse momento que construímos um time excepcional, com uma base sólida e promissora.

Rubens Menin, Em Destaque

ge: Quem é Rubens Menin?

Tenho 68 anos e sou natural de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais. Sou engenheiro e desde jovem atuo na área profissional, tenho grande apreço pelo trabalho e graças a Deus alcancei algum sucesso nas empresas em que atuo. Sou um grande torcedor do time Atlético Mineiro e aprecio fazer as coisas acontecerem, mantendo uma vida bastante ativa.

Qual foi a sua experiência ao se tornar proprietário do Atlético e como tem sido gerir um clube tão renomado?

Em 1962, aos seis anos, fui pela primeira vez ao campo. Hoje, com 56 anos, lembro das vezes em que meu irmão me levava ao Independência, campo do Sete, onde o Atlético foi bicampeão. Sempre fui apaixonado pelo Atlético, mas houve um período difícil entre 1965 e 1969, quando o Cruzeiro dominava. Com o passar dos anos, o Atlético cresceu, teve altos e baixos, e me aproximei mais do clube. Conheci pessoas por lá e, aos poucos, me envolvi mais com a gestão, começando a colaborar de alguma forma por volta de 2012/13.

Hoje, em 2024, estamos entre os sócios da SAF. Estamos muito orgulhosos disso, pois é um trabalho que demanda muita responsabilidade, sabedoria e o futebol é um universo complexo. No entanto, acreditamos que temos capacidade para nos destacar e alcançar o sonho de todo torcedor atleticano: ter um time forte, bem organizado, respeitado pelos demais e que entre em competições com reais chances de vitória.

É possível distinguir a devoção do torcedor de Rubens do seu papel como empresário?

É complicado, pois eu acredito que é preciso ter equilíbrio nas decisões. O Atlético é uma organização de grande porte, com uma vasta equipe de colaboradores e uma torcida muito apaixonada. Embora seja natural agir com emoção, é importante também agir de forma racional, pois no futebol as coisas não são simples brincadeiras.

Rubens Menin, um dos patronos do Atlético-MG, foi fotografado por Pedro Souza.

No mundo do futebol, há algum líder que você admire e que te sirva de inspiração?

Muitas coisas me surpreenderam bastante, porém o que mais me marcou foi uma estadia de três dias que fiz no Manchester City. Lá encontrei o dirigente, presidente, que antes esteve no Barcelona, Ferran Soriano. Tive a oportunidade de conversar com ele e ele me apresentou como estavam administrando o Manchester City, é algo realmente impressionante.

A distinção essencial entre uma empresa tradicional e um clube de futebol está no fato de que a primeira busca obter a maior receita que puder, mantendo os custos controlados para gerar lucro. Já um clube de futebol busca maximizar sua receita, porém acaba investindo consideravelmente para obter resultados satisfatórios em campo. Você já se adaptou a essa realidade do futebol, com os gastos elevados, a busca pela competitividade e a pressão por resultados?

"Rubens Menin critica a herança complicada recebida por SAF no Atlético-MG", disse ao Abre Aspas.

Antes de mais nada, é necessário compreender o que é o Atlético e quais são os nossos objetivos com o clube. Por exemplo, o Atlético conta com uma torcida de quase 10 milhões de apaixonados, ficando atrás apenas dos quatro grandes clubes com as maiores torcidas: Corinthians, Flamengo, São Paulo e Palmeiras. Além disso, existem outros quatro times que estão em um patamar semelhante: Vasco, Atlético, Cruzeiro e Grêmio, formando um grupo que está se destacando cada vez mais.

O que significa retornar no futebol? Bem, o seu maior trunfo é a torcida. A torcida deseja um time vitorioso, eu já presenciei diversas equipes com torcidas gigantes que viram suas torcidas diminuírem e muitas equipes que cresceram, tendo o oposto acontecer. No futebol, é essencial competir, é preciso sempre entrar em uma competição com as melhores condições possíveis, e nós estamos trabalhando duro para isso.

Qual é a sua rotina diária no Atlético? Você comparece regularmente ao trabalho, participa de reuniões?

Eu não participo ativamente das atividades diárias do Atlético, atuo como presidente do conselho da SAF, focando mais na parte estratégica, auxiliando e pensando no rumo que devemos seguir, assim como onde não devemos ir. Apesar disso, reservei um tempo considerável durante a semana para me dedicar ao Atlético, incluindo assistir aos jogos, que é algo que me traz grande prazer.

Qual é a atual condição financeira do Atlético?

Quando iniciamos o planejamento mais detalhado do Atlético em 2019, havia uma situação de mercado importante a ser destacada. Naquela época, os juros eram de apenas 2% ao ano, o que era favorável para o clube. Tínhamos uma dívida com uma taxa de 2% ao ano, o que não pesava muito nas finanças do Atlético. No entanto, na construção da Arena, surgiram contrapartidas da prefeitura que não estavam previstas. Enquanto em outros lugares as prefeituras costumam ajudar na construção de arenas por reconhecerem os benefícios que ela traz para a cidade, como shows, eventos, empregos e entretenimento, no caso do Atlético foi algo ruim.

Nenhuma equipe tem consciência do tamanho da dívida que possui; as sujeiras escondidas pelo Atlético são inimagináveis e vão sendo reveladas aos poucos. Um jogador que processa o clube na justiça trabalhista e ganha um caso de muitos anos atrás, apenas em questões relacionadas à FIFA, foram quase 100 milhões de reais em indenizações.

Não contamos com a mesma vantagem financeira que o Flamengo possui, pois o time rubro-negro tem uma receita gigantesca e é o clube com maior faturamento no país atualmente. No entanto, dispomos de um orçamento considerável que nos permite montar uma equipe competitiva, contanto que seja administrado com muita competência, pois não podemos cometer equívocos.

Garoto: "Nosso objetivo é trazer a Premier League para o Brasil, mas a má administração está dificultando."

A Arena ainda precisa cumprir suas obrigações, sobretudo as melhorias nas ruas ao redor? O Atlético está buscando negociar essas contrapartidas de alguma maneira para realizar alguma alteração?

- Ainda precisamos construir uma obra de infraestrutura viária, que iremos realizar, o projeto já está pronto, há outras exigências que consideramos totalmente irrealistas, algumas delas distantes do local da Arena. O mais relevante, as contrapartidas sociais já foram todas cumpridas, algumas partes delas já foram concluídas. Estamos em discussão com a prefeitura para realizar tudo de forma gradual, à medida que as necessidades forem surgindo. No momento, estamos tendo uma ótima conversa com a prefeitura.

Não se pode negar que dívidas eram um legado de administrações passadas, o Atlético era um clube endividado. Também é inegável que nos anos 2019, 2020 e 2021, o Atlético fez muitos investimentos, recorreu a alguns empréstimos, os próprios investidores apostaram bastante dinheiro, embora sem cobrar juros, porém muitas dívidas também foram feitas nesse período. Estas dívidas resultaram em conquistas esportivas, com títulos sendo alcançados, mas também acarretaram em uma folha salarial bastante elevada. Foi de alguma forma um risco calculado, ou algo que talvez devesse ter sido evitado, gastando um pouco menos, se endividando um pouco menos, como você avalia este período da história do Atlético?

O Atlético já havia provisionado antecipadamente várias receitas do Brasileirão nos anos anteriores, tínhamos consciência disso. Esperávamos também por alguns aumentos de receitas, que aconteceram. Os orçamentos desses clubes de futebol, que costumavam girar em torno de 200 milhões, atualmente chegam a 500 milhões, a receita aumentou e acredito que continuará crescendo. Não me arrependo de nada do que foi feito. A única dificuldade inesperada foram as despesas financeiras. Conseguíamos pagar todas aquelas dívidas, mas o serviço da dívida de 150 milhões por ano foi o que mais nos afetou. Se não fosse por esse serviço da dívida, teríamos tido lucro.

Hoje em dia, com os preços dos jogadores nas alturas, o Atlético precisa ter mais de 400 milhões, seria bom subir para 500 ou até 600 para ter uma folga financeira, não acha?

Não, a arrecadação foi positiva. Na arrecadação, ao analisar o balanço, não é possível perceber a entrada da receita proveniente do direcionamento, pois esta está sendo direcionada para outros fins. Estamos prevendo um crescimento na arrecadação do Atlético, com nosso planejamento indo até 2030 de maneira consistente. Para alcançar esse objetivo, precisamos ter um bom desempenho no futebol. Sempre partimos de uma premissa, como por exemplo, este ano alcançamos as oitavas de final da Libertadores e da Copa do Brasil, daqui para frente tudo o que vier será lucro.

Você mencionou o ano de 2026 como a data para quitar a dívida, agora foi alterado para 2030? Este é o novo prazo?

Observe bem. Podemos começar do zero mais cedo. Existem diversas possibilidades a serem consideradas, o primeiro passo para os próximos dois anos, 2024 e 2025, é garantir lucro operacional, algo essencial para nós. A partir disso, veremos o que acontecerá. Temos planos A, B, C, D. Na minha visão, a indústria do entretenimento é enormemente grande, está crescendo de forma surpreendente ao redor do mundo. Acredito que o Brasil, com as SAFs, pode acessar um mercado de investimentos ainda maior, especialmente a SAF do Atlético, feita por nós sem investidores estrangeiros, são atleticanos que decidiram investir na SAF, enquanto outros clubes tiveram investimentos estrangeiros.

Penso que no futuro, seria interessante os clubes de futebol terem a possibilidade de entrar no mercado financeiro, com ações sendo negociadas na bolsa de valores. Acredito que, com o passar do tempo, os grandes clubes do mundo precisarão de uma base financeira mais sólida para investir e obter lucros. Imagino o futebol no futuro com grandes empresas envolvidas, no ramo do entretenimento e do esporte.

Rubens Menin e Rodolfo Landim antes do jogo entre Atlético-MG e Flamengo - Imagem: Gilson Lobo/AGIF

Você mencionou o Flamengo em relação ao orçamento. Na época em que o Atlético passava por essa transição para se tornar uma SAF, muito se falava sobre a necessidade de transformação para montar um time forte e competir com Palmeiras e Flamengo, que tinham orçamentos generosos. Quando você acredita que o Atlético alcançará esse patamar em termos de orçamento e em comparação com o Flamengo?

O Flamengo possui o maior investimento no Brasil. Almejamos ter um campeonato nacional de futebol semelhante à Premier League, com fair play e critérios bem definidos. A arrecadação principal viria dessa liga. É claro que o time com mais audiência deveria ter uma fatia maior, mas também é importante considerar o critério esportivo e a participação na liga, o que poderia equilibrar a disparidade atual.

No mundo do futebol mais avançado, ou seja, a Premier League, as pessoas entendem que o nosso desejo é ver o futebol brasileiro evoluir. Quando isso acontecer, mais dinheiro virá de fora. Não será apenas a torcida do Flamengo, do Atlético, do Vasco ou de qualquer outro time; serão aqueles que estarão dispostos a investir no futebol brasileiro. Assim, conseguiremos equilibrar melhor as finanças. Atualmente, nossa receita vem principalmente de dentro do país, mas é essencial que, no futuro, tenhamos uma receita vinda de fora, que beneficie a todos.

Vocês interagiram por um longo período com o empresário americano Peter Grieve para tentar fechar um negócio. Ainda há a chance de continuar negociando com Grieve e também com outros empresários interessados em investir no Atlético?

O Atlético é um dos primeiros clubes de futebol a se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol, mas não é administrado por investidores estrangeiros, e sim por torcedores do clube que tiveram recursos financeiros para investir quando necessário. Isso faz uma grande diferença, pois essa é uma característica única do Atlético. Eu respeito as outras Sociedades Anônimas do Futebol que existem, mas o modelo do Atlético é único. Agora o Cruzeiro também está seguindo esse caminho.

Você mencionou a bolsa de valores, como o caso do Manchester United, no entanto, eles se tornaram uma empresa de capital aberto na bolsa de valores de Nova York. Vocês consideram algo semelhante para o Atlético?

Este é o desejo supremo. Eu acredito que a indústria do futebol e do entretenimento é gigantesca. É preciso ter recursos financeiros disponíveis, é somente possível ter recursos financeiros disponíveis, para realizar grandes investimentos, porém obter grandes retornos, quando você entra no mercado de capitais. Acredito que o futebol brasileiro está se aprimorando, se estruturando. A administração do futebol brasileiro hoje é muito mais eficiente do que há algum tempo, o que é ótimo. Não adianta querer ter um campeonato com apenas um time, só ganharemos muito dinheiro se tivermos um campeonato com 10 times, o que o Brasil tem capacidade de realizar, para vender no exterior. Assim como o Real Madrid ganha dinheiro no mundo todo hoje.

Você mencionou como a SAF do Atlético é inovadora. O investimento é feito por brasileiros e por torcedores do clube, o que evita possíveis conflitos entre a associação e a SAF, como vimos ocorrer no Vasco, por exemplo?

Isso é essencial, eu acredito que seja o que denominamos de pertencimento. A sócia do Atlético possui 25% da SAF, foi importante para nós garantir e consideramos crucial a associação estar sempre conectada com o Atlético. Tanto que no formato de gestão da SAF, a associação é parte integrante. O nosso presidente da associação, Sérgio Coelho, que antes era presidente da SAF, está presente conosco, é alguém que admiro muito, uma pessoa incrível. Acredito que essa gestão conjunta da associação e da SAF seja positiva.

Percebo que em alguns clubes do Brasil ainda há questões pendentes em relação à associação, é tudo muito confuso. O Atlético conseguiu resolver essa questão e está totalmente pacificado. Tudo o que levamos para aprovação no conselho da associação é aceito, nunca tivemos nenhum projeto rejeitado. Isso acontece pois a associação está totalmente alinhada conosco, o que gera um grande sentimento de pertencimento por parte da torcida também.

Você comentou que Pedro Lourenço adquiriu o Cruzeiro. Qual é a sua opinião sobre Pedrinho, vocês possuem uma amizade, ele é patrocinador do Atlético, liderando o Cruzeiro?

Falar sobre o rival pode ser delicado, mas eu vejo o Pedrinho como um sujeito legal, muito apaixonado pelo Cruzeiro, e acredito que o time vai se sair muito bem com ele. Mesmo que a torcida não concorde, a força do Cruzeiro é fundamental tanto para o Atlético quanto para o futebol de Minas Gerais e do Brasil. Tenho a certeza de que o Cruzeiro será um dos 10 times mais fortes do Brasil no futuro.

Está considerando vender sua participação na Sociedade Anônima de Futebol do Atlético?

Não, hoje não. O Atlético é um sonho para mim. Não vivemos apenas por viver, se pudermos contribuir com o Atlético, faremos isso. Acredito que há uma possibilidade real do Atlético se valorizar muito, tornar-se um clube muito próspero no futuro. Para isso, precisamos acessar o mercado financeiro, pois quanto vale um clube? O Pedrinho foi vendido por tanto, vale tanto, quando você tem ações na bolsa de valores, o valor do clube é determinado pelo valor das ações multiplicado pelo número total de ações. Para mim, este é o caminho para o futuro do Atlético.

Rubens Menin, presidente do Atlético-MG, foi fotografado por João Viegas.

Atualmente estamos acompanhando o desempenho do Savinho na equipe principal e muito se comenta a respeito da transação envolvendo o jogador. Você acredita que o Atlético saiu no prejuízo nessa negociação?

Se tivesse permanecido por mais tempo no Atlético, poderia ter acontecido, mas naquela época, havia uma decisão a ser tomada: vender ou não vender o Savinho. Se ele permanecesse, provavelmente ficaria no banco. Essa é a questão. O que o Manchester City faz, que é bastante inteligente, é ter uma rede de equipes onde o jogador pode ganhar experiência em campo, e quando estiver pronto, poderá ser utilizado ou não. Isso mostra que o Manchester City está em um patamar muito superior ao nosso.

A Arena MRV completará um ano desde a sua inauguração, gostaria que você fizesse uma avaliação desse primeiro ano e se a qualidade do som é uma preocupação para melhorar a experiência da torcida e a acústica do local.

- Sempre que vou àquela arena, sinto um grande orgulho, sabe? Lembro do início dela... Acho que foi um dos pontos-chave quando falei da arena. Mas me enche de orgulho, porque é simplesmente maravilhosa. Em termos tecnológicos, é a melhor do Brasil. Temos wi-fi em funcionamento, sempre surgindo novidades. Mas claro, também existem desafios. Estamos evoluindo a cada dia mais.

"Estamos nos esforçando para aprimorar o som na Arena do Atlético-MG", relata Rubens Menin.

Estádio MRV - Imagem: Daniela Veiga / Clube Atlético Mineiro

Nos últimos tempos, o Atlético firmou um pacto de exclusividade de torcida com duração de dois anos. Você vê isso como uma alternativa viável para o cenário do futebol no Brasil?

Se queremos conquistar um lugar de destaque no mundo, o futebol precisa ser considerado o evento mais relevante, o entretenimento mais significativo. Devemos iniciar esse processo com o respeito, especialmente em relação às torcidas. Em todos os cantos do planeta existem torcedores, então por que o Brasil não pode ter também? Precisamos aprimorar nesse aspecto. Na minha opinião, essa é uma área em que precisamos progredir.

Atualmente, a situação da liga é de inexistência. Há dois grupos comerciais, porém a liga propriamente dita não foi estabelecida. Você acha possível que uma liga possa ser criada até 2025?

Se não houver uma integração entre esses dois grupos e conseguirmos criar uma liga no estilo Premier League, para mim é um sonho que se concretiza, não conseguiremos alcançar o crescimento que desejamos. O futebol brasileiro passou por um período muito difícil, estivemos no fundo do poço e agora estamos em uma situação intermediária, com vários dirigentes antigos que prejudicaram bastante o futebol. Às vezes ganhavam um título, mas acabavam arruinando o clube, quantas equipes foram prejudicadas no futebol brasileiro? A SAF é uma iniciativa que veio para nos ajudar a reconstruir. Muitos clubes foram prejudicados por administrações negligentes, com atitudes horríveis tomadas no futebol.

Enfrentamos o Atlético, costumo dizer que foi uma herança amaldiçoada, mas realmente foi uma herança terrível, algo horrível. Não adianta conquistar um título e arruinar o clube financeiramente. Assim como o Atlético teve uma herança amaldiçoada, outros clubes também enfrentaram isso e estão melhorando sua gestão. Ainda existe uma má administração que atrapalha a formação de uma união sólida. A boa gestão vai prevalecer, porque os times que não a possuírem irão acabar, é inevitável, por isso os clubes que tiverem uma boa gestão precisarão se unir em uma liga, pois é uma situação inevitável, senão não iremos a lugar algum.

Ainda é possível encontrar um equilíbrio entre esses direitos comerciais, e, caso não seja possível conciliar, é viável criar uma associação para organizar o Campeonato Brasileiro?

Ainda há espaço para todo mundo ser acomodado. Muitas pessoas estão empenhadas nisso e esperamos que seja bem-sucedido.

Qual sua conexão com a Leila? Atualmente, ela se destaca no cenário do futebol brasileiro como uma figura importante no Palmeiras. Existe amizade entre vocês? Como vocês se relacionam?

Você menciona sobre crescer junto com os meninos e o instante no futebol em que os ídolos se destacam. O Hulk é atualmente uma figura de destaque para o time do Atlético e eu lembro de ter visto uma entrevista na qual ele mencionou que foi um dos melhores investimentos feitos pelo clube. Com 37 anos, será que o Hulk encerrará a carreira no Atlético? Essa possibilidade já passa pela sua mente? Isso te inquieta, te causa preocupação?

Estou preocupado com algo, ele é um jogador excepcional e ele faz a diferença. O que acontece é que o Hulk está no Atlético há quatro anos, então tem números para mostrar o que ele representa no clube, o futebol atual depende muito de estatísticas. Vocês notam que o Hulk fez isso, aquilo e mais aquilo, suas estatísticas são impressionantes, inclusive em termos de quantidade de jogos. Ele é um atleta perfeito, um superatleta, profissional exemplar lá dentro. Ele é um vencedor, mas que também é um bom exemplo de como se vence na profissão. Sua ausência é sentida, por isso temos um contrato com ele, ele ainda tem tempo de contrato com o Atlético, estou certo de que ele tem condições de cumpri-lo. Depende mais dele do que de nós, pois o Hulk joga porque tem paixão, se um dia essa paixão acabar, ele vai parar. Isso está em suas mãos, mas acredito que ele não queira ir para outro clube no Brasil.

Rubens Menin prevê que os futuros craques do Atlético-MG surgirão das categorias de base do clube.

Está preocupado com quem vai substituir o Hulk? Ele é um ícone e, no futuro, quando ele se aposentar, precisamos considerar essa troca de geração.

Uma das fases mais marcantes do Atlético Mineiro foi quando conseguimos formar um time com jogadores da base, como Cerezo, Reinaldo, Paulo Isidoro. É importante investir na base e desenvolver nossos próprios ídolos, ao invés de apenas vender os jogadores. Os próximos grandes talentos do Atlético provavelmente surgirão da base.

Está obcecado pela Copa Libertadores?

De agora em diante, será mais difícil manter o sucesso, pois teremos a Libertadores, a Copa do Brasil e o Brasileirão cada vez mais concorridos. Nosso elenco não é muito grande para lidar com todas essas competições. Até agora conseguimos nos sair bem, mas mais para frente provavelmente teremos que escolher entre uma competição e outra.

Haverá um momento em que o Galo poderá abranger tudo?

Observo a importância da formação, a base é essencial. Observo o Bragantino, mais uma vez contra o Palmeiras, repleto de jovens talentos. Há algo interessante nisso, os times na Europa passam por muitas mudanças, alternando jogadores entre as ligas e copas, inclusive o goleiro. Eu disse que o próximo Hulk será revelado da base, torço para que isso aconteça e, então, é preciso dar oportunidade para a base jogar. Uma base sólida, aqueles que fazem isso têm obtido sucesso. É preciso saber mesclar a base com os jogadores profissionais. Essa é a abordagem que acredito que existirá no Atlético.

Os quatro pilares do Atlético-MG: Rafael e Rubens Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães. Imagem de Pedro Souza.

O principal obstáculo do Atlético é conseguir ter um time competitivo mesmo com as dívidas, é preciso conciliar esses dois cenários. Portanto, mais uma vez, a prioridade para o Atlético será investir na base. É gratificante ver os jovens jogando, muitos deles sendo convocados para as seleções.

Como o Atlético pretende alcançar a meta de se tornar uma potência global? Quais são as medidas que estão sendo tomadas nesse sentido?

Conheço bastante bem o universo dos investimentos, e sei que o valor de uma empresa está muito ligado à sua gestão. Se as pessoas começarem a perceber que o Atlético é bem administrado, que tem um bom planejamento, ele vai se valorizar bastante. É preciso ter competitividade, e isso nós temos, mas sem a torcida, um time nunca terá alto valor de mercado. Por isso, é essencial ter competitividade e uma boa gestão. Precisamos mostrar ao mundo lá fora que o Atlético é bem administrado. Estamos trabalhando nisso, é uma tarefa árdua, mas estamos conseguindo.

Quais são as ações do Atlético que você lamenta?

Veja só! São tantos remorsos. No entanto, não adianta ficar remoendo, afinal, depois que passou, é fácil criticar. O maior arrependimento é o de não agir. Eu costumo ter o hábito de pensar 'e se tivesse feito diferente? Ok, eu errei, mas e se tivesse agido de outra forma?' E as ações que tomamos e não são reconhecidas. Eu não tenho receio de agir. Sempre é melhor agir do que se arrepender.

Você já fez alguma contratação da qual se arrepende?

Sim, é possível que tenha ocorrido. No entanto, não irei mencionar especificamente quem foi, mas com certeza aconteceu.

Você está preocupado com a situação do Corinthians, Cruzeiro e Vasco, que estão envolvidos em polêmicas e investigações? Estes casos controversos podem afetar a confiança de investidores brasileiros e estrangeiros no mercado nacional.

Isso me desanimou bastante, por isso que digo que o futebol antigo foi prejudicado pela má gestão. Então, eu, o Ricardo, Renato e Rafael decidimos viajar para Portugal para observar as coisas de perto. Em Porto, conseguimos ver como o futebol deve ser administrado. Passamos dois dias na cidade, visitando estádios, e foi lá que surgiu a ideia da Arena. Concordamos que era necessário acabar com essa situação no futebol, pois não estava funcionando, como já havíamos percebido.

Destruíram todas as equipes, não adianta vencer um campeonato e desmantelar o time. Eu conquisto um título e destrói, aí como resolver isso, o indivíduo vence, destroi, endivida o time, então outro chega lá, comete o mesmo erro, vence o campeonato, endivida, foi assim, o Brasil passou por isso durante muito tempo. Eles arruinaram o futebol brasileiro. São pessoas que se acham sabedoras de tudo e não possuem tecnologia, não têm gestão e desvalorizaram o futebol.

O líder em 2013 era Alexandre Kalil. O atual prefeito que adota medidas compensatórias é Alexandre Kalil. Qual é a dinâmica da relação entre vocês dois, que de certo modo não é mais considerada uma relação, mas que a torcida acompanha de perto esse antagonismo entre vocês? Em diversas ocasiões, um critica o outro, há essa troca de farpas. Até que ponto esse conflito vai se prolongar?

Penso que o tempo é o grande juiz das coisas. Elas se desenrolam no momento certo, não é verdade?! Espero que consigamos representar o Atlético com comprometimento, respeito, integridade e determinação, pois não temos o direito de nos aproveitar do clube, não posso usá-lo para meu próprio benefício, quero contribuir para o Atlético, essa é a diferença.

Alexandre Kalil, antigo prefeito de Belo Horizonte e ex-líder do Atlético Mineiro — Fotografia: Rodrigo Clemente/PBH

O presidente atual do Atlético é muito legal, porque ele mesmo paga quando dá uma camisa, quando se hospeda em um hotel e até mesmo a comida que come no clube, tudo sai do seu próprio bolso. Ele não usa o cartão de crédito do Atlético. Isso sim é o tipo de postura que eu valorizo, servir ao clube em vez de usá-lo para benefício pessoal. Como diz o ditado, o tempo é o senhor da razão.

Você considera a possibilidade de seguir uma carreira na política? Você possui esse desejo?

O Atlético terá um avião semelhante ao do Palmeiras?

- Não, não creio. Atualmente optamos por avião fretado, o que é fundamental em termos de qualidade. Apesar de representar um custo adicional, antigamente o Atlético viajava de ônibus. Porém, é necessário considerar o tempo que o profissional leva para se preparar e ter tranquilidade para descansar. O Hulk embarca em um avião e não encontra paz, então é essencial ter conforto e luxo. Não é preciso adquirir uma aeronave, as operadoras que utilizamos são de excelente qualidade.

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