FGV, Banco Central e Gates Foundation apresentam resultados do estudo sobre Inclusão Financeira

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Banco Central do Brasil

Cientistas da Fundação Getulio Vargas divulgaram os achados de uma pesquisa realizada em colaboração com o Banco Central do Brasil e a Fundação Gates, que investiga o percurso das pessoas de baixa renda em busca de inclusão financeira no país. O evento aconteceu no Centro Cultural da FGV, no dia 25 de setembro, durante a Plenária promovida pela Parceria Global para Inclusão Financeira do G20 (GPFI). Esta iniciativa organiza fóruns para a troca de experiências entre nações e instituições internacionais, visando aprimorar o acesso da população global a serviços financeiros.

A pesquisa demonstrou que vinte anos de progresso nas normas, aliadas a inovações financeiras e iniciativas governamentais, expandiram o acesso e a utilização de serviços, contas, pagamentos e crédito. No entanto, a inadimplência e o comprometimento da renda cresceram, apontando para a necessidade de aprimorar a qualidade dos produtos de crédito.

A cerimônia de início do evento teve a presença de Luis Mansour, Chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco Central do Brasil; Lauro Gonzalez, Coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira (FGVcemif); e Ariadne Plaitak, Oficial Sênior de Programas e Regulação da Fundação Gates.

Inclusão Financeira Para Pessoas De Baixa Renda

Na sua fala inaugural, Mansour enfatizou que o Brasil está se aproximando do final de sua presidência no G20. Ele ressaltou que o caminho para a inclusão financeira está alinhado com os objetivos da GPFI, cuja missão é integrar a população de baixa renda ao sistema financeiro. Além disso, ele destacou a importância de assegurar que essa inclusão resulte em maior estabilidade financeira e no bem-estar social.

"A inclusão financeira empodera tanto as pessoas quanto as empresas, possibilitando sua participação na economia. Isso fortalece a resiliência econômica, diminui a vulnerabilidade e apoia um desenvolvimento sustentável e inclusivo. Na ausência disso, a sociedade se torna fragilizada", afirmou o Chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do BCB, ao enfatizar que a inclusão financeira é fundamental para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente aquele voltado para a Erradicação da Pobreza, o ODS 1.

Conforme o Coordenador do FGVcemif, o Brasil está passando por uma melhoria notável na acessibilidade e na utilização do sistema financeiro, impulsionada pela regulamentação do setor e por diversas políticas públicas, como o Bolsa Família.

“Para assegurar que nossos serviços financeiros sejam ágeis e claros, é fundamental que haja um esforço constante, já que a inclusão financeira não se resume a uma única abordagem. Cada nação enfrenta seus desafios e propõe suas soluções; unidos, podemos construir uma economia mais inclusiva”, afirmou Lauro Gonzalez.

Para Ariadne Plaitaki, a parceria entre a Gates Foundation, a FGV e o BCB é essencial para promover estudos que investiguem temas relevantes ligados à inclusão e à regulação financeira.

"Uma de nossas metas é motivar outros órgãos reguladores a utilizarem as informações disponíveis para fundamentar políticas públicas embasadas em evidências, com o intuito de que os reguladores façam escolhas mais conscientes que favoreçam tanto o mercado quanto os consumidores. Esperamos que os dados apresentados nesta pesquisa possam influenciar a formulação de políticas futuras, promovendo ainda mais a inclusão financeira", declarou.

Caminho Da Inclusão Financeira Para Pobres No Brasil

Na conferência intitulada Novos participantes de baixa renda: qual é o seu nível de vulnerabilidade e como interagem com produtos e serviços financeiros? Uma análise do contexto brasileiro, o acadêmico da FGV, Rafael Felipe Schiozer, divulgou os achados do estudo “Acesso e uso de serviços financeiros por indivíduos de baixa renda: uma abordagem brasileira”.

O estudioso declarou que o setor financeiro possibilita que as famílias se tornem mais resistentes, contudo, as pessoas de baixa renda ainda não estão recebendo serviços adequados do sistema financeiro. Isso evidencia a necessidade de compreender o acesso, a utilização e a qualidade dos serviços financeiros oferecidos.

O Programa Bolsa Família (PBF) cresceu 250% em 2023 em comparação a 2019, apresentando uma porcentagem maior de beneficiários nas regiões Norte e Nordeste, que são aquelas com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior em relação a outras partes do Brasil. Ademais, o total de beneficiários teve um incremento de 50%, sendo que as mulheres representam 58% do total e recebem 80% dos recursos transferidos.

Conforme revela a pesquisa, outro fator essencial para o avanço da inclusão financeira recentemente foi a implementação do PIX. A porcentagem de adultos com baixa renda que têm contas correntes e de pagamentos cresceu nos últimos anos, atingindo 92% em 2023.

“Atualmente, aproximadamente 90% dos brasileiros que recebem o PBF possuem ao menos uma chave PIX”, destaca Schiozer. O pesquisador explica que a idade é um aspecto crucial para a adesão a esse serviço, observando que as pessoas em faixas etárias mais avançadas, incluindo os aposentados, são as que menos utilizam o PIX.

Na sua apresentação, Schiozer também discutiu a questão do acesso dos brasileiros ao crédito e o impacto desse acesso na renda das pessoas de baixa renda. Conforme o pesquisador, para ser classificado como um “usuário de crédito”, é necessário que a pessoa tenha utilizado um cartão de crédito ou realizado qualquer tipo de empréstimo nos últimos 12 meses. De acordo com dados de dezembro de 2022, 57% dos usuários do CadUnico utilizaram crédito.

Houve um aumento no comprometimento da renda para todos os grupos do CadÚnico em 2021 e 2022, mas esse aumento foi mais significativo entre os assistidos pelo Bolsa Família. Em 2022, o comprometimento da renda atingiu 36% entre os homens e 38% entre as mulheres, enquanto a média para a população brasileira em geral ficou em torno de 25% a 27%, segundo o pesquisador.

Nesse contexto, Schiozer enfatiza que o superendividamento representa o maior risco em relação à inclusão financeira de indivíduos com renda baixa. “É fundamental, portanto, analisar a eficácia dos programas e das políticas públicas para compreender a extensão dessa inclusão financeira”, finalizou.

Dados Essenciais Para A Análise Da Inclusão Financeira

Após a exposição do pesquisador, houve uma fala do Assessor do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do Banco Central do Brasil, Lucas Teixeira. Ele salientou que essa pesquisa está em consonância com a estratégia do Banco Central, que visa promover a educação financeira.

"Banco Central E A Inclusão Financeira"

Conforme Teixeira, é fundamental melhorar a avaliação dos riscos de superendividamento das pessoas, e as tecnologias de Inteligência Artificial podem ajudar a examinar todo o processo de inclusão financeira.

“Realizamos um estudo promovido pela plataforma digital do Banco Central, no qual quase 8 milhões de brasileiros utilizam cartão de crédito e enfrentam taxas de juros elevadas. Essa análise dos extratos de cartões de crédito revelou informações importantes sobre os consumidores e seus hábitos. Diante desses dados, é fundamental que haja um investimento em educação financeira desde os primeiros anos escolares,” afirmou Teixeira.

De acordo com ele, o próximo passo é aprofundar a compreensão da trajetória financeira das pessoas. “Nosso objetivo é investigar as causas além das simples correlações, para obter provas que ajudem a aprimorar as regulamentações e políticas voltadas para a inclusão financeira.”

Diálogos Para Fomentar A Inclusão Financeira No Brasil

O evento prosseguiu com a Sessão 2, dedicada ao Acesso da população que ainda não possui conta bancária e ao ambiente propício para a inclusão financeira, impulsionada pela concorrência e pela infraestrutura digital pública. A mediação ficou a cargo de Lauro Gonzalez, e a mesa contou com as contribuições de Janaina Attie, Chefe da Divisão de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central do Brasil; S. Rajagopalan, Professor do International Institute of Information Technology Bangalore; Francesca Brown, Diretora Global de Políticas e Advocacia do Women's World Banking; e Gilson Rodrigues, Presidente do G10 Bank.

A Sessão 3, que discutiu a qualidade na oferta de produtos e serviços financeiros, incluindo políticas e exemplos práticos, contou com a presença de Rafael Wowk, do setor de Políticas Públicas do Nubank; Juliana Mozachi, Chefe do Departamento de Supervisão de Conduta do Banco Central do Brasil; Mauricio de Almeida Prado, Diretor Executivo do Plano CDE; Saku Veersamy, Executiva de Conduta e Comunicação com o Cliente da Nedbank; e Andrés Vasquez, Diretor Executivo da Nequi - Bancolombia. A moderação desta Sessão foi realizada por Rafe Mazer, Consultor da Presidência do G20 GPFI.

As atividades do dia foram concluídas com a Sessão 4, intitulada "Bem-estar financeiro: promovendo a inclusão financeira e as políticas públicas". Este painel contou com a participação de Amaury Oliva, que é Diretor de Sustentabilidade, Cidadania Financeira, Relações com o Consumidor e Autorregulação na Federação Brasileira de Bancos (Febraban); Sangeetha Malaiyandi, Pesquisadora de Bem-Estar Financeiro no Escritório de Proteção Financeira do Consumidor dos EUA; Caroline Paranayba, Diretora do Departamento de Benefícios do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; além de Paul Gubbins, Consultor do FSD Kenya.

Para ver a transmissão completa do evento, clique em: transmissão em inglês ou transmissão em português.

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