Marçal e Boulos trocam acusações e xingamentos em debate

15 Agosto 2024
Boulos

O candidato Pablo Marçal (PRTB), conhecido como "influencer", e o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) protagonizaram troca de acusações e xingamentos durante o debate entre seis postulantes à Prefeitura de São Paulo, realizado nesta quarta-feira (14) pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Faap e Terra. Além disso, a candidata do PSB, deputada Tabata Amaral, e o apresentador José Luiz Datena (PSDB) confrontaram o prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), enquanto Marina Helena (Novo) atacou Boulos. Infelizmente, as propostas para a cidade acabaram em segundo plano diante das polêmicas e discussões acaloradas.

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Foto Valor Econômico

Vídeo: Discussão acalorada entre Boulos e Marçal

A tensão entre os candidatos aumentou quando Marçal atacou Boulos, ofendendo o PT, partido da vice de Psol, e o chamando de "escória da esquerda", além de acusá-lo novamente de uso de drogas, sem provas.

Marçal insultou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-presidente Dilma Rousseff e líderes do PT, chamando-os de "quadrilheiros", e ofendeu Boulos. Ele disse: "Você é um PT Kids, um grande problema para esta nação. É o pior da esquerda", mencionando em seguida as prisões de Boulos por sua liderança no MTST, movimento dos sem-teto.

O candidato do Psol fez questão de mencionar que o concorrente do PRTB tem um histórico criminoso por roubo e iniciou um embate de palavras. Boulos acusou o adversário de ser mentiroso compulsivo, viciado em mentiras. Ele comparou o postulante a um personagem fictício chamado padre Kelmon, que causou tumulto ao participar de debates durante sua candidatura pelo PTB em 2022.

Marçal respondeu: "Caso eu seja padre Kelmon, vou expulsar o demônio com o uso da carteira de trabalho", afirmou. "Você jamais será prefeito enquanto houver um homem em São Paulo". Boulos enfatizou que não é um "mentor" e "não lucra enganando pessoas na internet".

O representante do PRTB continuou a provocar, chamando Boulos de “candidato trans” e acusando-o de ser viciado em drogas. De forma irônica, o candidato do PRTB disse que Boulos era o maior usuário de drogas na cidade de São Paulo. Em resposta, Boulos classificou a situação como “indignante” e chamou Marçal de “canalha”. Boulos também criticou Marçal por inventar mentiras sobre drogas durante o debate e por mencionar o pai de Tabata. Boulos questionou se Marçal era apenas desonesto ou um psicopata. A discussão entre os dois continuou com acusações de mentira e até mesmo ameaças de prisão pela polícia.

Fora do palco onde os candidatos se questionaram, Marçal e Boulos seguiram debatendo. Sentados juntos, o concorrente do PRTB provocou o postulante do Psol e exibiu uma carteira de trabalho. Boulos tentou atingir o documento, mas não conseguiu. As cenas de provocação foram capturadas pela equipe de Marçal e logo compartilhadas nas redes sociais, apesar de a organização do debate ter vetado a gravação de imagens durante o evento.

Durante os confrontos entre Tabata Amaral e Ricardo Nunes, a deputada mencionou uma frase famosa do ex-prefeito Paulo Maluf, o "rouba mas faz". Ela acusou o prefeito de roubar e não realizar ações. Em resposta, o prefeito criticou a deputada, alegando que ela era financiada por uma empresa com questões legais pendentes.

Em uma outra ocasião, Tabata fez novas acusações contra Nunes, apontando irregularidades. Ela afirmou: "Um prefeito que pratica atos ilícitos não é capaz de combater a criminalidade".

Datena fez uma crítica à administração de Nunes e declarou que o prefeito está com receio do Primeiro Comando da Capital (PCC), que está sendo investigado por possíveis vínculos com empresas de transporte público que operam na região. O postulante pelo PSDB também ressaltou que Nunes aparenta desejar eliminar os cidadãos mais humildes da cidade.

Marina Helena tentou se apresentar como candidata de direita, alegando de forma falsa que a prefeitura de São Paulo adota a "ideologia de gênero" na cidade, defendeu a redução do tamanho do Estado na administração pública e criticou o PT e o ex-prefeito e atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamando-o de "Taxad". A representante do Novo atacou Boulos e fez acusações de ligação de membros do PT com o crime organizado. Já o candidato do Psol afirmou que ela faz parte do grupo "bolsonarista". Em seguida, o candidato do Psol atacou o ex-presidente Jair Bolsonaro como um "ladrão de joias".

Marina e Marçal se uniram e o candidato do PRTB elogiou a candidata. Nunes também se absteve de atacar Marçal.

A disputa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apoia Boulos, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado de Nunes, não recebeu muito destaque dos candidatos. Somente no final do debate, o candidato do Psol citou três declarações de Bolsonaro ("O erro da ditadura foi torturar e não matar", "Não te estupro porque você não merece" e "Não confio na urna eletrônica") e questionou o prefeito se ele concordava com seu aliado político. Nunes evitou o assunto e não mencionou o ex-presidente. Em seguida, ele perguntou a Boulos sobre sua relação com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e trouxe à tona o caso da rachadinha do deputado André Janones (Avante-MG), que foi discutido no Conselho de Ética da Câmara. O parlamentar do Psol defendeu o arquivamento do caso.

Após o debate, Marçal enfatizou que sua estratégia é partir para o embate com seus oponentes, especialmente Boulos, e afirmou que não irá debater propostas de governo. "A proposta está no plano governamental", declarou. "É baixaria mesmo, terão que lidar com isso", disse em entrevista à imprensa. Quando perguntado se considera apropriado adotar esse tom agressivo em um debate, o candidato do PRTB respondeu que esse é o seu "estilo". "É como a cor da pele, cada um tem o seu."

Boulos alertou para a importância de não banalizar o discurso raso que ocorreu no debate, com acusações sérias feitas sem provas concretas. Ele destacou a necessidade de não tornar comum o absurdo, lembrando das consequências que o país já enfrentou ao naturalizar situações absurdas, como a eleição de Bolsonaro. O candidato do Psol enfatizou que ficou incomodado com as provocações de Marçal e ressaltou que sua reação foi de indignação legítima. Para Boulos, é compreensível que diante de mentiras descaradas e provocação injusta, qualquer pessoa reaja com indignação.

Nunes descreveu a falta de civilidade no debate como "agressão direta e desnecessária". "As pessoas não estão participando do debate de forma construtiva, estão buscando apenas trechos para compartilhar na internet."

Os assuntos escolhidos aleatoriamente para os primeiros quatro blocos do debate - educação, problemas econômicos, organização urbana e segurança pública - foram introduzidos como temas principais em cada bloco, porém acabaram sendo ignorados em algumas discussões entre os candidatos.

Na área da segurança pública, Nunes e Tabata sugeriram aumentar o contingente de guardas civis metropolitanos e intensificar a investigação sobre o envolvimento desses profissionais com organizações criminosas. Por outro lado, Marina defendeu uma postura de "tolerância zero" em relação à criminalidade e afirmou que o Brasil é conhecido como o país da impunidade. Enquanto isso, Marçal propôs aumentar o número de profissionais na guarda para 21 mil, ideia que foi questionada pelo prefeito devido aos altos custos de manutenção dessa estrutura.

Além de defender a expansão de escolas em período integral e outras melhorias na educação, Tabata mencionou a suspeita de desvio de verbas em creches conveniadas à prefeitura. A empresa da família de Nunes está sendo investigada pela Polícia Federal nesse caso, e ela encorajou o público a pesquisar sobre a 'máfia das creches'. A questão do analfabetismo também foi abordada durante o debate, com Boulos sugerindo o 'Mutirão Paulo Freire' para alfabetizar jovens e adultos, enquanto Datena prometeu que as crianças serão capazes de ler e escrever aos 8 anos de idade.

*Estagiária sendo orientada por Fernanda Godoy

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