Por que Brasil não é mais o mesmo? Ex-volante analisa cenário e vê Neymar necessário: 'Me leva à minha juventude'

9 Out 2024

9 de outubro de 2024, às 5 horas da manhã.

O Brasil enfrenta um momento de turbulência. Desde a sua eliminação na última Copa do Mundo, a equipe não conseguiu conquistar resultados significativos e acumulou frustrações, como a saída prematura da Copa América e o desempenho nas eliminatórias. Como resultado, a seleção continua recebendo críticas em relação ao seu rendimento durante os jogos.

Distante de exibir o futebol que a tornou uma referência global, a equipe tem frustrado seus fãs — não apenas os brasileiros. Um desses admiradores é Costinha, ex-volante da seleção de Portugal, que foi vice-campeão da Eurocopa de 2004 e titular na Copa do Mundo de 2006. Em uma entrevista ao ESPN.com.br, o ex-jogador elogiou a atual geração sob o comando de Dorival Júnior, mas acredita que há algo que falta ao time.

"A torcida está ansiosa para ver o Brasil voltar a jogar como nos velhos tempos. Observamos os atletas, que são talentosos, mas parece que algo ainda não se encaixa. O que será? É preciso analisar essa questão com mais profundidade", comentou Costinha.

De fato, aprecio assistir aos jogos da seleção brasileira. Sempre me deixa curioso para ver quais serão suas próximas jogadas. Sinto que é uma pena, pois, na minha opinião, o Brasil ainda é o lugar onde, a cada instante, surge um jogador de futebol com um talento extraordinário.

O ex-jogador que vestiu a camisa 6 da seleção de Portugal foi cativado pela equipe que se consagrou pentacampeã do mundo muito antes das vitórias de 1994 e 2002. Assim como muitos fãs de futebol que nasceram na década de 1970, Costinha desenvolveu uma admiração pelo time de Zico, Sócrates e Falcão, que, apesar de não ter conquistado o título, deixou sua marca na Copa de 1982.

"Meu interesse pelo futebol começou com a geração de 1982. Ao analisarmos essa equipe, seguida pela de 86 no México, a de 90 na Itália, a de 94 nos Estados Unidos e assim sucessivamente, e considerando os jogadores que o Brasil revela ao mundo anualmente, torna-se desafiador entender o que ocorreu com a seleção."

"O atleta brasileiro ainda demonstra grande habilidade. No entanto, a dinâmica da partida mudou. Acredito que aquela essência coletiva que o Brasil possuía, capaz de impressionar os espectadores em frente à tela, já não existe mais. Estou tendo dificuldade em elaborar uma resposta", comentou Costinha.

O português também realizou uma avaliação de outras seleções, que frequentemente reproduzem a sintonia de um clube para contribuir na construção de uma equipe nacional mais robusta.

"Se observarmos o desempenho das seleções, podemos notar que muitas delas contam com jogadores que jogam juntos no mesmo clube, formando uma sintonia ideal. No meu tempo, a seleção portuguesa possuía um meio-campo do Porto, enquanto a Espanha de 2010 era composta por jogadores do Barcelona. A seleção alemã de 2014, por sua vez, era formada por atletas do Bayern de Munique", recordou.

"Em seguida, os treinadores também dispõem de pouco tempo para implementar esse estilo de jogo em equipe. Quando chega a Copa, há apenas dez dias de preparação, mas frequentemente leva de quatro a cinco meses para que o time comece a jogar de forma completa. Não é em dez dias que essa questão será solucionada", acrescentou.

Atualmente, o Brasil está em quinto lugar nas eliminatórias para a Copa do Mundo, tendo conquistado apenas três triunfos em oito jogos. Na Copa América, a seleção foi eliminada nas quartas de final, conseguindo vitória em apenas uma partida durante a competição.

"Neymar Me Traz Lembranças Da Juventude"

Reconhecido como o grande destaque de sua geração, Neymar irá completar, no próximo dia 17, um ano de ausência dos campos devido à grave lesão no ligamento cruzado anterior de seu joelho. Enquanto esteve fora de ação, muitos começaram a se perguntar se a seleção ainda poderia contar com sua presença.

Ao compartilhar suas ideias sobre o futebol brasileiro, Costinha foi honesto ao valorizar o talento do jogador. "Muita gente costuma criticar o Neymar, mas eu sou fã dele. O que ele faz fora do campo é uma questão pessoal, e ele arca com as consequências disso".

"Contudo, o que ele realiza em campo me remete à minha adolescência, quando assistia ao Zico e, mais recentemente, ao Ronaldinho Gaúcho, ao Ronaldo Fenômeno, ao Djalminha e muitos outros atletas. Ele é um jogador que transmite essa felicidade. Não se trata de um jogador que atua de maneira convencional. Atualmente, parece que tudo segue uma lógica rígida e previsível. Às vezes, falta a liberdade que existia no passado, quando os jogadores faziam toques de calcanhar e executavam dribles criativos", destacou.

O ex-atleta português também destacou que o camisa 10 do Al Hilal e da seleção é um jogador que "prende a atenção dos torcedores", fazendo uma comparação com outros grandes nomes que o Brasil já conheceu.

"Na minha opinião, existem atletas que têm a habilidade de manter os torcedores completamente envolvidos na partida. Eu sou admirador e aprecio muito o Ronaldinho Gaúcho, pois tive a oportunidade de conhecê-lo e sou grato por ser seu amigo. O Ronaldinho fazia tudo parecer mais simples e divertido. Nada era chato com ele em campo. Por isso, ao comentar sobre o Neymar, podem apontar os erros que quiserem."

"Quando Neymar entra em campo, ele não apenas intimida os oponentes, mas também possui um tipo de talento único, com sua característica ginga. É necessário encontrar uma maneira de integrá-lo ao time para que ele possa se destacar de uma maneira especial. Isso era algo que Ronaldinho oferecia, por exemplo, e que eu percebia quando Zico jogava, um verdadeiro ícone do futebol mundial. O Brasil sempre teve esse tipo de jogador, de certa forma, como Romário, que era um pouco rebelde, e também Bebeto", concluiu.