Entenda a discussão nos Brics para substituir o dólar e por que Trump fez ameaças

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Brics

A conversa no âmbito dos Brics realmente acontece e conta com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, como um de seus principais apoios.

Compreenda a seguir o que implicaria a substituição do dólar nas transações entre os países do Brics e por que Trump se opõe fortemente a essa proposta. Os temas que a matéria irá explorar são:

Quem São Os Membros Dos Brics?

O grupo dos Brics foi criado em 2006 e, naquele momento, contava com Brasil, Rússia, Índia e China. Inicialmente, ele era chamado apenas de "Bric", uma referência à palavra "tijolo" em inglês, que se originava das iniciais de cada um dos países participantes. O termo foi idealizado cinco anos antes pelo economista britânico Jim O'Neil, que acreditava que essas nações emergentes se tornariam os alicerces (tijolos) da economia global em um prazo de até cinquenta anos.

Mais tarde, a África do Sul se juntou ao Brics, resultando na adição da letra "S". Lula era o presidente do Brasil durante a formação do grupo e sempre apoiou essa parceria estratégica entre as principais nações emergentes, visando conquistar maior destaque na economia global e nas instâncias de governança internacional, que são controladas pelas potências ocidentais.

Em 2023, o grupo foi expandido com a inclusão de mais seis nações: Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.

Importância Do Peso Econômico E Demográfico

Aqui estão algumas informações que ressaltam a magnitude dos Brics na economia global:

Isso não implica, a princípio, que os Brics, coletivamente, sejam mais influentes do que as potências estabelecidas. Isso se deve ao fato de que suas economias ainda são em desenvolvimento, persiste um alto nível de pobreza em suas nações e suas forças armadas ainda não se igualam às dos países mais avançados.

Outro ponto a considerar é que os Brics não formam um grupo uniforme, nem em termos políticos, nem culturais. Um exemplo disso é a escassa quantidade de valores que Brasil e Rússia têm em comum quando se trata de democracia, comércio ou geopolítica global.

Delegados de 35 nações estão presentes na última reunião da Cúpula dos BRICS.

O Papel Do Dólar No Comércio Mundial

Desde o Acordo de Bretton Woods, realizado em 1944, o dólar passou a ser a moeda-base nas transações comerciais internacionais. Sua aceitação em todo o mundo e a conexão com instituições financeiras internacionais fortaleceram seu status como padrão global.

As operações comerciais entre nações, incluindo os países integrantes do Brics, normalmente requerem a troca das moedas locais pelo dólar.

Entretanto, essa dependência cria uma fragilidade em relação às oscilações do dólar e às decisões de política monetária dos Estados Unidos, afetando as economias em desenvolvimento.

Por Que Os Brics Buscam Diminuir A Dependência Do Dólar?

Um dos motivos é exatamente a fragilidade diante de variações na política monetária dos países. O Brasil tem apresentado uma estabilidade econômica ao longo de várias décadas, o que diminui consideravelmente o risco, a curto prazo, de que as transações em dólar se tornem um obstáculo para as nações em desenvolvimento.

Entretanto, existem outras razões — principalmente de ordem geopolítica — que levam os Brics a considerar a troca.

Um dos principais eventos foi a remoção de bancos russos do sistema SWIFT, após a invasão da Ucrânia pelo país liderado por Vladimir Putin, há quase três anos. Essa medida foi uma das várias sanções impostas à Rússia desde então.

Após ser excluída do SWIFT, a Rússia começou a demandar que suas transações fossem realizadas em outras moedas, além do dólar, a fim de reduzir sua dependência do sistema financeiro global e evitar a diminuição de suas operações.

A China, importante aliada comercial da Rússia, tem buscado promover transações em sua moeda nacional, o yuan, como uma estratégia para fortalecer sua economia.

No ano anterior, enquanto a Argentina lidava com a intensificação de sua crise econômica, que perdura há vários anos, a China concedeu apoio financeiro ao país sul-americano na moeda yuan. A Argentina estava tendo problemas para conseguir recursos em instituições internacionais.

Para a China, assim, aumentar a influência do yuan em comparação ao dólar é uma etapa fundamental em sua meta de superar os Estados Unidos como a principal economia global.

Discurso de Lula no Brics abrange chamados para ação contra a mudança climática e ressalvas às guerras.

Lula Propõe Troca Do Dólar Por Outra Moeda

Lula se destaca como um dos principais apoiadores, entre os países do Brics, da implementação de uma moeda alternativa.

"O grupo precisa progredir na criação de um sistema financeiro que seja menos reliant no dólar, promovendo o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento e consolidando a cooperação econômica entre seus integrantes", afirmou ele durante a cúpula dos Brics no mês passado, que ocorreu em Kazan, na Rússia.

No ano passado, durante uma visita à China, ao lado do presidente Xi Jinping, Lula havia apoiado de maneira veemente a iniciativa.

"Por que não é possível utilizar nossas próprias moedas nas transações comerciais entre os Brics? Quem tomou a decisão de que o dólar deveria ser a moeda global? Chegou o momento de adotar uma nova abordagem", indagou.

A Resposta De Donald Trump

É nesse cenário que surge a declaração de Trump, compartilhada por ele em uma plataforma de mídia social:

Ele também classificou a proposta de trocar o dólar como "ridícula" e declarou: "Podem tentar encontrar outro 'ingênuo'. Não há possibilidade alguma de os BRICS substituírem o dólar dos EUA nas transações comerciais globais."

Essa afirmação está alinhada com as concepções protecionistas que Trump tem promovido desde o período da campanha eleitoral. Ele pretende aumentar as taxas sobre produtos importados que são comercializados nos Estados Unidos.

Ele já afirmou que, ao assumir o cargo em janeiro, irá estabelecer:

Avanços Dos Brics Até O Momento

A Rússia e a China têm estado à frente na adoção de moedas nacionais para transações entre si, buscando reduzir os impactos das sanções impostas pelo Ocidente.

Além disso, no ano anterior, o Banco Central do Brasil estabeleceu um acordo com o Banco Central da China para facilitar negociações diretas entre o real e o yuan, eliminando a necessidade de converter para o dólar americano. Essa iniciativa busca tornar as operações comerciais entre as duas nações mais rápidas e econômicas.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics, apoia a execução de projetos utilizando moedas locais, diminuindo a dependência de entidades ocidentais, como o FMI e o Banco Mundial.

No entanto, a troca do dólar nas operações do bloco ou a introdução de uma moeda exclusiva para os Brics ainda não se apresenta como uma possibilidade imediata.

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