O que significa Brics, quais países fazem parte e quais são os ...
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou nesta semana para Joanesburgo, na África do Sul para participar da 15º Cúpula dos Brics. O evento deve trazer discussões sobre possíveis novos membros do grupo e os planos para o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), incluindo o uso de outras moedas além do dólar nas negociações internacionais.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, está prevista a participação na Cúpula de 40 chefes de Estado ou de Governo dos continentes africano e asiático, além de América Latina e Oriente Médio. Isso reforça a importância que o Brics possui no cenário econômico internacional, principalmente entre as economias emergentes.
O que significa Brics?
Hoje, o Brics é composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O termo “Brics” foi criado em 2001 pelo ex-economista-chefe do Goldman Sachs Jim O’Neill. Na época, em um relatório chamado “Building Better Global Economic BRICs”, O’Neill apresentou países emergentes que possuíam características socioeconômicas comuns.
O doutor em relações internacionais na Universidade de Lisboa, Igor Lucena, explica que esses cinco países foram escolhidos pelo ex-economista-chefe do Goldman Sachs como os “próximos grandes players da economia global”, por causa dos seus desempenhos nos segmentos de serviços, agronegócio, indústria e energia. Na época, não havia uma visão política sobre atuação desses países, complementa o especialista.
LEIA MAIS
O grupo se consolidou oficialmente em 2006, com a participação apenas do Brasil, Rússia, Índia e China, mas em 2010, a África do Sul também passou a integrar a sigla.
O principal objetivo do Brics é a cooperação entre os países para que, em conjunto, eles possam avançar no desenvolvimento socioeconômico e garantir o crescimento de suas economias.
Vale destacar que o Brics não é um bloco econômico, como o Mercosul ou a União Europeia. Na verdade, ele é um mecanismo internacional de cooperação. Isso significa que o Brics não possui um estatuto formal de regras ou uma carta de princípios. Também não possui um secretariado fixo e nem um fundo próprio para financiar qualquer uma das suas atividades.
Qual o objetivo do Brics?
O Brics tem como objetivo auxiliar no crescimento econômico dos países do grupo, fortalecendo as indústrias e impulsionando o desenvolvimento sustentável, assim como combatendo a pobreza e o desemprego, visando a inclusão social. Lucena diz que, até antes da pandemia de coronavírus, todas as movimentações do Brics eram focadas apenas na economia.
Em 2014, o grupo criou o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como “Banco dos Brics”, para financiar projetos de infraestrutura nos países-membros e em outras nações em desenvolvimento. Na sua fundação, os países concordaram que a instituição teria um capital inicial de US$ 50 bilhões, com contribuições distribuídas entre os países fundadores do bloco.
Desde a fundação até dezembro do ano passado, o banco dos Brics aprovou U$ 32,8 bilhões em financiamento para 96 projetos, segundo levantamento da própria instituição. Desse total, US$ 5,62 bilhões foram destinados ao Brasil. Em 2021, Bangladesh, Egito, Emirados Unidos e Uruguai foram aceitos como integrantes do banco do Brics também.
Acontece que, após a pandemia e a chamada “trade war”, promovida pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, a China viu a necessidade de criar um polo de influência próprio, comenta Lucena. Ele explica que a estratégia da China de ganhar mais espaço na política internacional está em envolver o Brics na Nova Rota da Seda e, por isso, o país asiático está empenhado em atrair novos países para dentro do grupo.
Qual a diferença do Brics para o G7?
Assim como o Brics, o G7 também é um grupo de colaboração internacional e tem como objetivo discutir soluções para problemas, especialmente os econômicos, ao redor do mundo. O “grupo dos sete” foi formado em 1975 e atualmente é composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Na época em que o G7 foi criado, esses países representavam as maiores economias do mundo e, portanto, as principais lideranças internacionais.
Porém, com o crescimento dos países emergentes, a participação dos países do G7 na economia global caiu de 50%, há 40 anos, para cerca de 30% em 2020, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Por outro lado, a participação dos Brics na economia mundial passou de 10% para mais de 30% no mesmo período de tempo, superando o G7.
Essa inversão no poder econômico também se reflete nas dinâmicas de geopolítica, uma vez que o Brics acaba ganhando uma posição de liderança entre os países emergentes. A própria criação do NBD reforça essa visão, uma vez que ele funciona como uma alternativa ao Banco Mundial e ao FMI, que, segundo Lucena, representa a visão econômica do G7.
De acordo com o Itamaraty, 22 países já manifestaram formalmente o interesse em integrar o Brics e participar das políticas de apoio mútuo do grupo. Na cúpula realizada na África do Sul nesta semana, é possível que sejam discutidos quais os critérios e princípios para a entrada de novos integrantes no bloco.
A China já se demonstrou favorável à inclusão de novos membros no grupo, visto que isso pode ajudar a expandir a sua influência sobre outros países. Lucena comenta que esses objetivos geopolíticos chineses podem pressionar o Brics para adotar uma função mais política, mas isso atenderia aos interesses brasileiros e indianos.