Benedita da Silva pede "correção necessária" após fala de Zambelli

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Carla Zambelli

A congressista Benedita da Silva (PT-SP) afirmou hoje que "ações apropriadas estão sendo executadas" depois de ter sido chamada de Chica da Silva pela deputada Carla Zambelli (PL-SP).

Na última segunda-feira, durante uma transmissão ao vivo em seu perfil no Instagram, Zambelli mencionou o incidente de não poder fazer um discurso na 1ª Reunião de Mulheres Parlamentares do P20, em Maceió.

"Não direi uma palavra. Absolutamente nada, porque, assim talvez... Não sei ao certo, não é mesmo? Não compreendo a razão para o meu silêncio. Parece que já está tudo acertado pela Secretaria da Mulher, que será a Chica da Silva a se pronunciar", declarou, mencionando Benedita da Silva, que também estava presente no evento.

Depois da transmissão ao vivo, Zambelli postou uma declaração pedindo desculpas à sua colega de trabalho e admitindo ter se confundido com os nomes. "Na segunda-feira passada, a deputada Carla Zambelli errou durante uma live feita em uma rede social ao trocar o nome da deputada Benedita da Silva".

Assim que percebeu o que havia acontecido, Zambelli deletou a postagem de suas redes sociais e se retratou com a deputada Benedita. O diálogo entre elas foi cordial e houve aceitação da situação. Zambelli expressa arrependimento pelo erro cometido, mas ressalta que não teve intenção alguma de ofender sua colega no Parlamento.

Benedita disse em seu Instagram que só ficou sabendo do incidente depois que o PT emitiu uma nota de repúdio. Ela acredita que a situação será corrigida, seja de forma jurídica, seja de forma política, mas que providências já foram tomadas. Benedita acredita que ela terá que prestar esclarecimentos sobre o ocorrido, pois já há pessoas entrando com ações.

Em certo momento, Benedita declarou: "Tenho uma experiência política muito maior do que a idade dessa deputada. Conquistei meu lugar com dedicação, esforço e combate constante".

Políticos e líderes do movimento negro destacaram que a troca de nomes está relacionada a um personagem negro relevante na história do Brasil. Chica da Silva, que na verdade se chamava Francisca da Silva de Oliveira, foi uma mulher negra que nasceu escravizada e depois foi liberta no século 18. Filha de um homem branco e uma africana escravizada, ela conseguiu sua liberdade e se tornou uma das mulheres mais ricas do país, sendo um símbolo da luta e resistência da comunidade negra.

Especialistas em História indicam que a presença da figura em filmes e séries ao longo dos últimos tempos contribuiu para sua popularização, porém também resultou na disseminação de uma visão deturpada e simplificada de Chica da Silva.

Lúcia Xavier, que é coordenadora da ONG Criola, ressalta que é frequente a prática de colocar todas as mulheres negras na posição de escravizadas e sexualizadas. Segundo ela, figuras como Chica da Silva e Benedita da Silva são exemplos notáveis que contribuíram para melhorar o Brasil em suas respectivas épocas. No entanto, Lúcia Xavier acredita que possa haver uma situação em que alguém distorça a história de Chica da Silva para atribuir à deputada Benedita da Silva certas origens e estereótipos. Ela é uma das principais lideranças do movimento de mulheres negras.

Segundo Ana Flávia Magalhães Pinto, que atua como diretora-geral do Arquivo Nacional e professora do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), é comum no Brasil a aceitação passiva do racismo, o que resulta em uma escassez de informações históricas sobre pessoas negras.

Na maioria das vezes, as comparações são feitas com a escravidão, especialmente em situações de desvalorização. Um exemplo disso é a maneira como lembram de Chica da Silva, não como alguém que conquistou sua liberdade, mas sim para menosprezar o papel das mulheres negras na atualidade.

Na sua quinta gestão como deputada federal, Benedita da Silva se tornou a pioneira deputada negra a ocupar o cargo de vereadora no Rio de Janeiro, deputada na Assembleia Constituinte de 1988, senadora e governadora do estado. Ela também foi ministra da Secretaria Especial de Trabalho e Assistência Social e hoje em dia lidera a bancada feminina na Câmara.

A Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados emitiu uma declaração condenando o que considera uma "manifestação racista e preconceituosa" feita por Carla Zambelli. Segundo a nota, a comparação com a figura de [Chica da Silva] pode ser utilizada de maneira depreciativa, visando desmerecer sua origem étnica e, principalmente, sua trajetória política na defesa dos direitos das mulheres.

"Ao utilizar o termo Chica da Silva para se referir a Benedita, a deputada em questão não está elogiando a nobre colega parlamentar, mas sim utilizando ironia, deboche e desprezo para desmerecer a líder da Bancada Feminina simplesmente por discordar das regras de participação no evento", finalizou o comunicado.

O evento causou um grande impacto nas plataformas digitais. O líder máximo Luiz Inácio Lula da Silva compartilhou em sua conta na rede social Y uma imagem em que surge de mãos dadas com Benedita e disse: "Minha camarada e parceira de longa data. Exemplo de devoção, dedicação e carinho pelo povo do Brasil".

A ministra da Secretaria da Mulher, Cida Gonçalves, expressou sua solidariedade e total apoio à Benedita. Em uma publicação, ela destacou a importância da luta incansável de Benedita pelos direitos das mulheres, pela igualdade racial e pela justiça social. Cida ressaltou a urgência de o Brasil interromper essas violências direcionadas às mulheres negras em cargos de liderança e decisão.

A declaração de Zambelli foi considerada pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, como "inaceitável, desrespeitosa e racista", destacando Benedita como um exemplo para o Brasil, a política e a democracia. Franco ressaltou que Benedita pavimentou o caminho para muitas pessoas e é uma fonte de inspiração diária. Ela afirmou que estão unidas na luta contra as desigualdades e todas as formas de violência.

No seu perfil no X, a ministra do Meio Ambiente e da Mudança Climática, Marina Silva, enviou uma mensagem para Benedita: "Sempre destaco que o seu percurso, sua determinação e sua fé são motivos de inspiração para todas nós. A luta contra o racismo não tem pausas. Continuamos unidas na defesa da democracia".

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, recordou que hoje é o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial e compartilhou uma citação da filósofa e escritora Angela Davis, que disse: "Não é o suficiente não ser racista, é necessário ser antirracista. Envio meu afetuoso abraço à deputada Benedita da Silva e expresso minha indignação diante desse triste incidente".

O Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, elogiou Benedita como uma das mais importantes figuras da política no Brasil. Ele a descreveu como um exemplo para todos que batalham por um país democrático, desenvolvido e sem preconceito racial.

O conteúdo foi estendido às 20h15 para incluir as falas da diretora principal do Arquivo Nacional, Ana Flávia Magalhães Pinto.

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