Um projeto grandioso para a CBF: a posição do mercado - Parte XII - Migalhas
Depois de apresentado e explicado o projeto de reorganização e ressignificação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), incluindo a identificação das posições que seriam ocupadas pelas federações, clubes (e empresas do futebol) e pela própria CBF dentro do sistema, chega-se agora aos agentes financiadores e investidores, que são referidos como "mercado", em conjunto.
No texto anterior da série foi apresentado um plano em que dois caminhos são sugeridos. O primeiro tem como base a ideia de que a CBF Associação poderia se transformar em um modelo de mutualização, onde seriam criados títulos patrimoniais a serem distribuídos entre federações, clubes e sociedades anônimas do futebol. Posteriormente, a CBF Associação passaria por um processo de desmutualização, tornando-se uma companhia, com os títulos patrimoniais sendo convertidos em ações. Por fim, essa nova companhia, agora denominada como CBF S.A, passaria por uma oferta pública de ações, resultando na seguinte estrutura:
O foco deste texto é o mercado, que foi introduzido juntamente com os demais acionistas durante a oferta pública inicial.
O segundo plano proposto apresenta algumas discrepâncias no organograma, sendo a mais significativa a permanência da CBF Associação. Isso acontece porque a CBF Associação seria transformada em uma empresa e teria a subscrição de todas as ações emitidas. Depois disso, as federações, clubes (e sociedades anônimas do futebol) subscreveriam novas ações da CBF S.A. Como resultado, a CBF Associação manteria sua existência e manteria sua posição como acionista da CBF S.A., como indicado a seguir:
Em seguida, os detentores de ações dariam o seu aval para a realização de um IPO com o intuito de captar investidores, conforme evidenciado abaixo:
O centro das atenções destes próximos textos será a dinâmica atraente do mercado.
Visto pelo mercado em si, a CBF S.A. seria um bem singular, sem paralelo no mundo, uma vez que é a dona da seleção de futebol mais bem sucedida e, pelo menos em termos populares, também a mais reverenciada do planeta.
É verdade que isso não seria motivo bastante para que agentes aparentemente sensatos investissem seus recursos na nova CBF S.A. No entanto, os dados também se sobressaem e chamam atenção.
Apesar de ser operada sob princípios político associativistas, que tornam difícil a obtenção de oportunidades e valores, bem como a criação de tecnologias e produtos com escala global (sem levar em conta a preservação do grupo), a Associação CBF conseguiu registrar uma receita de aproximadamente R$ 1,3 bilhões e um superávit de R$ 238 milhões em 2023.
A luminosidade se amplia ao considerar o potencial do futuro, já que:
A equipe nacional do Brasil ainda é predominantemente apreciada dentro do país (mesmo possuindo a possibilidade de se tornar conhecida mundialmente), sendo consumida principalmente pelos brasileiros. Logo, há um vasto número de torcedores e consumidores a serem conquistados em diferentes partes do mundo.
Ainda assim, as arrecadações da CBF mostram semelhanças com as do Flamengo, por exemplo, ou seja, são provenientes somente de um time brasileiro.
Em 2023, os direitos de transmissão e as propriedades comerciais renderam cerca de R$ 538 milhões, valor inferior ao faturamento de clubes ingleses menos conhecidos, como Bournemouth e Brentford, que geraram £ 122 milhões (aproximadamente R$ 831 milhões) e £ 135 milhões (aproximadamente R$ 920 milhões), respectivamente.
, isso pode ser devido à falta de resultados positivos nos últimos anos e à falta de transparência na gestão da entidade. A CBF arrecada cerca de R$ 527 milhões com contratos de patrocínio, mas não conta com a participação dos grandes patrocinadores internacionais, que ainda não se mostram interessados em associar suas marcas à seleção brasileira. Isso pode ser atribuído à ausência de conquistas significativas nos últimos tempos e à gestão pouco transparente da entidade, entre outros fatores.
A característica de estar associado à CBF torna desafiador obter ferramentas e recursos disponíveis no mercado de capitais, que geralmente são mais efetivos do que os do mercado financeiro.
Esta combinação de fatores indica que, mais do que os números presentes, as oportunidades futuras devem incentivar o mercado em um possível convite promovido pela CBF, tendo em vista que:
O plano de negócios valida a viabilidade de expansão.
O modelo de gestão ratifica a transição para uma organização baseada em mercado;
Para que a CBF S.A. seja bem gerenciada, é fundamental que a equipe de administração seja formada por indivíduos confiáveis no meio do futebol e/ou que tenham experiência no mercado com total liberdade para atuar somente no interesse da empresa.
A CBF deveria implementar métodos de monitoramento para garantir a conformidade com as leis e regulamentos em vigor.
A oferta pública inicial deve ser realizada em um segmento específico de listagem, como o Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo, e deve contar com o auxílio de consultores renomados que seguirão as orientações estabelecidas no documento de referência CVM n. 41, emitido em 21 de agosto de 2023.
Estes são alguns pontos de apoio que justificam a possibilidade da entrada do mercado no novo cenário do futebol. O assunto será abordado novamente na semana seguinte.
Este documento pode ser acessado aqui. Ele contém não apenas informações sobre direitos e propriedades, mas também dados sobre receitas obtidas nos dias de partida.