China restringe a venda de metais para os EUA e aumenta a tensão comercial
Bloomberg — A China intensificou as fricções comerciais com os Estados Unidos ao proibir a venda de diversos materiais utilizados em aplicações militares e tecnologias avançadas. Essa medida de retaliação ocorreu após o governo do presidente Joe Biden endurecer as restrições tecnológicas direcionadas a Pequim.
O Ministério do Comércio divulgou um comunicado na terça-feira (3) informando que o gálio, germânio, antimônio e materiais ultraduros não poderão mais ser exportados para os Estados Unidos. Além disso, Pequim implementará restrições mais severas nas vendas de grafite.
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A decisão foi adotada após a Casa Branca ter implementado, na segunda-feira (2), novas limitações à comercialização de chips de memória de alta largura de banda produzidos por empresas dos EUA e do exterior para a China. A intenção do governo Biden é retardar o progresso da China na fabricação de semicondutores avançados e na criação de sistemas de inteligência artificial que possam beneficiar suas forças armadas.
Os metais que interessam a Pequim são utilizados em uma ampla variedade de aplicações, que vão desde semicondutores até satélites e óculos de visão noturna. A China se destaca como o principal fornecedor mundial de diversos minerais cruciais, e as inquietações sobre seu domínio têm aumentado em Washington desde que o país implementou controles iniciais sobre a exportação de gálio e germânio no ano passado. Essa ação resultou em um aumento significativo nos preços e provocou mudanças nos fluxos comerciais, uma vez que os fabricantes passaram a buscar fontes alternativas, enquanto as empresas mineradoras tentaram descobrir novos depósitos e os legisladores procuraram reabastecer as reservas estratégicas do país.
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Diversos consumidores dos materiais, como a Globalwafers, a Lumentum e a Coherent, afirmaram na ocasião que não previam interrupções imediatas, uma vez que o setor possuía grandes estoques disponíveis e que era possível encontrar fontes alternativas de fornecimento.
Adicionalmente, as informações da alfândega da China indicam que não houve exportação de gálio e germânio para os Estados Unidos neste ano, o que sugere que as indústrias americanas estavam utilizando seus estoques ou comprando o metal de outros fornecedores.
Entretanto, os valores de ambos os metais subiram desde que as limitações foram divulgadas no ano passado - o gálio teve um aumento de 80%, enquanto o germânio mais que dobrou de preço.
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Efeito De US$ 3,4 Bilhões Nos EUA
Um representante da Casa Branca declarou que os Estados Unidos estão em processo de análise das novas restrições e buscando alternativas para reduzir seus efeitos, ressaltando que a ação da China evidenciava a importância de diversificar as cadeias de suprimento fundamentais. O Escritório de Indústria e Segurança do Departamento de Comércio preferiu não fazer comentários.
Origem do gálio e germânio importados pelos Estados Unidos. Fonte: Bloomberg.
A China manifesta sua contrariedade em relação ao aumento das sanções unilaterais "ilegais" impostas pelo governo dos Estados Unidos, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, durante um encontro com representantes visitantes do Comitê Nacional de Política Externa dos EUA.
"Solicitamos aos Estados Unidos que intensifiquem seus esforços para contribuir com a estabilização da relação entre os dois países e esperamos que a nova administração tome uma iniciativa positiva nas interações entre a China e os EUA ao longo dos próximos quatro anos", afirmou ele.
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Em um estudo divulgado no mês passado, o Serviço Geológico dos Estados Unidos afirmou que uma proibição completa das exportações de gálio e germânio resultaria em um impacto de US$ 3,4 bilhões na economia norte-americana.
"As restrições à exportação de minerais fundamentais estão sendo concebidas há algum tempo e representam um alerta", afirmou Joe Mazur, analista sênior da consultoria Trivium China. "Trata-se de um indicativo evidente de que a China está se preparando para responder de maneira mais contundente à pressão econômica dos EUA do que nos anos anteriores."
As ações divulgadas pelos Estados Unidos na segunda-feira incluíram a inclusão de mais 140 organizações chinesas na lista de sanções, sendo acusadas de atuar em favor de Pequim. A atenção está voltada para as empresas que fabricam equipamentos para a produção de chips, essenciais para o objetivo da China de alcançar autossuficiência em semicondutores.
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Na terça-feira, de forma independente, três entidades industriais da China, representando os setores de internet, semicondutores e automotivo, solicitaram que as companhias chinesas adotassem uma abordagem cautelosa ao adquirirem chips fabricados nos Estados Unidos.
--Com a participação de Colum Murphy, Winnie Zhu, Dan Murtaugh, Josh Xiao, Jenny Leonard e Mackenzie Hawkins.
(Atualizações com declarações do representante da Casa Branca).
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