Com odor de fuligem e imprópria para consumo: entenda o que é a 'chuva preta', que voltou a atingir o RS
Um experimento realizado por um jornalista da RBS TV revelou os sedimentos presentes na água. (Confira abaixo).
Esse fenômeno acontece quando nuvens carregadas de chuva se deparam com a fumaça gerada por queimadas. Os poluentes oriundos dos incêndios florestais no Brasil e em nações próximas, como a Bolívia, causam mudanças na coloração da água.
"Não vamos observar uma gota preta descendo do céu. O que ocorre é que essa gota transporta partículas de fuligem, e, ao se acumular em um balde ou numa piscina, essa fuligem se deposita, tornando visível uma mancha mais escura", esclarece Henrique Repinaldo, meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
A água da "chuva preta" não é adequada para o consumo humano. Especialistas do governo estadual e de instituições acadêmicas estão coletando amostras para realizar uma análise técnica das características presentes (veja mais informações abaixo).
Jornalista purifica água proveniente da 'chuva escura' que afeta o Rio Grande do Sul.
Em Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul, onde o fenômeno foi registrado na segunda-feira (9), há relatos de que a "chuva escura" chegou acompanhada de um intenso cheiro de fumaça.
"As pessoas descreveram um aroma semelhante ao de um incêndio extinto. É um cheiro de fumaça, de fato. Dessa forma, ele emite um odor quando está presente em altas concentrações", explica.
Em Santa Rosa, localizada na região Noroeste do Rio Grande do Sul, o repórter Everson Dornelles, da RBS TV, conduziu um experimento. Ele coletou água da chuva utilizando um recipiente apropriado. Em seguida, para eliminar as impurezas, utilizou um filtro de café. O que se pôde observar foi um acúmulo de partículas no filtro de papel (confira o vídeo acima).
Registros de 'chuva escura' em cidades do Rio Grande do Sul — Imagem: Acervo Pessoal/Maria Eloísa Rodrigues e Everson Dornelles/RBS TV.
Coleta E Análise Da Água De Chuva
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) anunciou que a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) fará a coleta de água da chuva para submetê-la a uma análise técnica. De acordo com a assessoria de comunicação, o órgão está esperando quantidades mais significativas de chuva para iniciar essa atividade.
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) informou que já iniciou a coleta de dados, e os primeiros resultados devem ser apresentados ao final do dia.
Cidades do Sul do Rio Grande do Sul registram precipitação de 'chuva negra'.
Fumaça Dissipada E Céu Azul De Volta
Nos últimos dias, a população do Rio Grande do Sul tem notado a beleza do sol, que apresenta um tom alaranjado, em meio ao céu cinzento. Especialistas esclareceram que essa ocorrência é resultado da interação entre a luz solar e a fumaça proveniente das queimadas florestais que atingiram a região.
A chegada de uma frente fria no estado, a partir de sábado (14), deve dissipar a fumaça. Dessa forma, será possível observar o céu limpo e azul novamente, explica Repinaldo.
"A partir de sábado, com a chegada de uma frente fria mais intensa ao estado, essa dinâmica deve se alterar. A partir da divisa com o Uruguai, essa frente fria se expandirá para as demais áreas, e teremos um fim de semana com menos nuvens. Em muitas regiões, o céu ficará mais claro, ajudando a dissipar a fumaça", esclarece.
A fumaça altera a coloração do céu em Porto Alegre no dia 9 de setembro de 2024 — Imagem: Reprodução/RBS TV