Tecnologia usa som da chuva na Amazônia para prever desastres
Com a recente iniciativa, o foco está na importância de aumentar o conhecimento sobre as chuvas, que continuam sendo um fenômeno complicado de medir na Amazônia. "Os pluviômetros usados para monitorar a precipitação na região estão localizados ao longo dos rios, e há uma disparidade entre a quantidade de chuva que cai no rio e a que ocorre na floresta", destaca o pesquisador. Atualmente, a única maneira de realizar essas medições em locais onde não é viável instalar pluviômetros é através de satélites.
Treinamento Com Milhar De áudios
Em colaboração com o Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), a pesquisa utilizou um modelo de aprendizado de máquina que correlacionou gravações do som da chuva com sua intensidade. Xavier explica que essa tecnologia, que é uma etapa anterior à Inteligência Artificial, normalmente utiliza métodos estatísticos para estabelecer conexões entre diferentes fenômenos.
"Realizamos um processamento de áudio em que analisamos diferentes gravações para determinar a quantidade de chuva registrada. Alimentamos a máquina com centenas de milhares de áudios, permitindo que o modelo reconheça essa relação. Em seguida, introduzimos um novo áudio, sem informar a intensidade da chuva, e o modelo responde com base no que aprendeu", explica o pesquisador. O treinamento desse modelo de aprendizado incluiu gravações com ausência de chuva, além de chuvas leves, moderadas, intensas e torrenciais.
Todos os dados produzidos pelo novo método foram confirmados com informações obtidas por satélites, demonstrando um potencial que impressionou a equipe que participou do projeto. Isso se deve ao fato de que, ao contrário da maioria das investigações na área, o estudo reuniu gravações de áudio em locais com distintos tipos de vegetação, localizados a 30 quilômetros de distância entre si.
O primeiro local analisado foi uma floresta tropical secundária situada no campus do Instituto Mamirauá, que se destaca por ser uma área anteriormente desmatada, mas que passou por um processo de regeneração. O segundo local corresponde a uma floresta nativa, que passa por alagamentos, localizado dentro da reserva de desenvolvimento sustentável do instituto. O método criado demonstrou a capacidade de prever com precisão a intensidade das chuvas em ambas as áreas. "O modelo obteve resultados superiores às estimativas de satélite para a precipitação acumulada em uma hora, o que evidencia um grande potencial a ser explorado", ressalta Xavier.