PIB de Roraima cresce, mas estado ainda vive uma ‘economia de contracheque’
Conforme será demonstrado nas próximas notas, é fundamental considerar e ouvir as perspectivas de ambos os lados. As opiniões de empresários e cidadãos comuns não acompanham o mesmo otimismo exagerado do governo estadual, que tem utilizado um dado excepcional - um crescimento anual de 11,3% do PIB em 2022 - para justificar a continuidade da gestão atual. Esta situação ocorre em meio a quatro cassações de mandatos por parte da Justiça Eleitoral e outros acontecimentos ainda não esclarecidos, que envolvem até questões de grilagem de terras e assassinatos.
Por outro lado, donos de negócios que não contam com privilégios da administração estadual e que dependem do mercado possuem uma percepção distinta da atual situação econômica de Roraima. Ontem, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Roraima (ACIR), Vaneri Verri, afirmou que ainda estamos presos a uma economia sustentada por salários pagos pelos órgãos estaduais, municipais e federais. Uma conclusão similar foi apresentada por um pequeno empresário que relatou a ausência de clientes em seu comércio e se sente desanimado ao notar a quantidade de placas de "Vende-se" em diversos imóveis da cidade.
Em 2022, Roraima alcançou um feito significativo ao registrar o crescimento percentual mais elevado do PIB no Brasil, segundo informações do IBGE. Esse resultado, o melhor desde 2015, foi estimulado pela agropecuária, que adicionou R$ 1,7 bilhão, correspondendo a 9% do PIB do estado. A declaração foi feita por Fábio Martinez, secretário adjunto de Estado de Planejamento e Orçamento, durante uma entrevista ao programa Agenda da Semana, transmitido pela Rádio Folha 100.3 FM.
Além da agropecuária, o segmento da administração pública continuou a ser um dos principais pilares da economia local, correspondente a 47,1% do PIB do estado, com um crescimento de 4,1%. Historicamente, essa "economia do pagamento de salário", sustentada pela estrutura dos governos estadual, municipal e federal, tem sido a base do PIB de Roraima.
É esperado que essa expansão comece a perder ritmo nos anos seguintes. Elementos como a mudança na administração federal e a diminuição das importações, especialmente direcionadas à Venezuela, têm influenciado essa situação. No entanto, as estimativas continuam positivas: Martinez mencionou uma previsão que aponta para um crescimento de 3% em 2023 e 4% em 2024, enquanto o governo estadual acredita que esses índices podem ser ainda superiores.
De acordo com o Governo, o estado tem conseguido harmonizar o aumento populacional, causado por um crescimento migratório significativo, com o desenvolvimento de sua economia. Atualmente, a renda per capita do estado ocupa o 15º lugar no ranking nacional. Apesar de Roraima ainda ter o menor PIB do Brasil, há a previsão de que o estado ultrapasse o Acre e, talvez, o Amapá nos próximos anos.
Por falar nisso, o Amapá exemplifica como uma política ambiental rigorosa pode inibir o progresso econômico. Embora tenha abundantes recursos naturais, como as reservas de petróleo na Foz do Rio Amazonas, e, ao contrário de Roraima, desfrute de segurança energética, o estado enfrenta dificuldades criadas por dirigentes ambientais, barreiras que, sem dúvida, não se restringem apenas à conservação do meio ambiente. Essa abordagem restringe o crescimento e quem acaba pagando o preço é a população.
Os dados econômicos mostram que a gestão de Bolsonaro trouxe vantagens para Roraima, especialmente ao sustentar as relações comerciais com a Venezuela, que é seu principal parceiro. Com a mudança para o governo Lula, as exportações diminuíram em aproximadamente US$ 10 milhões por mês. De acordo com Fábio Martinez, o novo desafio é lidar com a competição de exportadores internos e colombianos. A proposta é diversificar e focar em mercados como os países caribenhos e a Guiana.
Durante uma entrevista ao programa Agenda da Semana, na 100.3 FM, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Roraima (Acir), Vaneri Verri, apresentou uma análise crucial sobre o crescimento econômico do estado. Ele enfatizou que a ausência de uma política que estimule a industrialização local, juntamente com a elevada carga tributária, prejudica a competitividade das empresas na região, restringindo seu potencial de expansão. Verri afirmou que, embora os índices de crescimento possam parecer atraentes, a realidade enfrentada por outros setores no estado é bastante distinta, caracterizada pela alta carga de impostos e pelas dificuldades em permanecer ativo no mercado.
Ele defende que, ao ser industrializado em Roraima, um produto enfrenta uma carga tributária distinta, impactando diretamente sua competitividade no mercado. Para ilustrar, citou o arroz produzido no estado, que, após o processamento, tem um valor muito superior ao do produto oriundo de estados como o Rio Grande do Sul. De acordo com ele, essa situação se deve à falta de uma política fiscal efetiva que promova os setores secundário e terciário, ou seja, a indústria e o comércio.
Verri considera que, na forma em que está apresentada, a Reforma Tributária trará dificuldades para os empresários da região. Ele afirma que a proposta, elaborada por pessoas com conhecimento técnico limitado, pode levar ao aumento nos preços dos produtos, diminuir a autonomia dos estados e ainda complicar a competitividade das empresas. Assim, ele ressaltou a urgência de implementar uma política pública que vise o fortalecimento da economia local e a melhoria da competitividade empresarial.
O aumento da procura por algodão no Caribe e na Guiana tem gerado entusiasmo entre os pesquisadores em Roraima. Apesar de não ser uma cultura consolidada na região, a Secretaria de Agricultura, junto com a Embrapa, está apoiando essa expansão. Além do elevado valor de mercado da fibra, essa cultura é considerada uma ótima alternativa para rotacionar com soja e milho. Com as variedades aprimoradas, espera-se que a área de cultivo atinja 1 mil hectares até 2025.