Economia forte, real desvalorizado e exterior adverso pressionam Copom por mais altas de juros; entenda

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A primeira suposição é a mais plausível, conforme o boletim Focus desta semana. O documento compila as previsões de especialistas de mais de 100 instituições e indica que a taxa de juros básica deve finalizar o ano em 12%.

Contudo, muitos analistas acreditam que é possível que a situação se agrave ainda mais, considerando o nível da taxa de câmbio, a robustez da atividade econômica e as incertezas em relação ao futuro da dívida pública do país — fatores que contribuem para a pressão sobre a inflação. De acordo com as previsões do Focus, o aumento da taxa de juros ainda não terminou e deve atingir 13,5% até o final de 2025.

Neste artigo, você irá compreender o que ocorreu, os fatores que impulsionaram a elevação e quais são as previsões para a taxa de juros em 2025.

Camarotti: Conjunto moderado intensifica a pressão sobre o Banco Central.

Fatores Que Podem Influenciar Decisões Do Copom

De acordo com especialistas entrevistados pelo g1, diversos fatores ajudam a entender o aumento contínuo da Selic nas últimas reuniões, além das indicações de que essa taxa permanecerá alta no futuro.

Existem três pontos que carregam fatores inflacionários. O mercado considera que, enquanto o governo não apresentar alternativas para conter o crescimento das despesas públicas e do endividamento, será cada vez mais complicado controlar a inflação. (veja mais detalhes a seguir)

Retornando ao mais recente boletim Focus, a previsão dos economistas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a medida oficial da inflação no Brasil, aumentou de 4,71% para 4,84% ao término de 2024. Esse cenário indicaria que a inflação superaria o limite superior da meta, fixado em 4,50%.

Compreenda cada um dos itens a seguir.

A direção das finanças públicas continua a gerar preocupações. De acordo com a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, o crescimento das despesas observado no ano passado concentrou-se em transferências de recursos para as famílias, o que estimula o consumo e exerce pressão sobre a inflação.

“Continuamos enfrentando um elevado déficit [quando as despesas ultrapassam as receitas]. E o que os investidores perceberam é que o sistema fiscal pode não ser adequado para conter os gastos do governo”, afirma a economista.

As informações mais recentes publicadas pelo Banco Central mostram que, apesar do superávit de R$ 36,9 bilhões em outubro, as contas do governo ainda apresentam um déficit acumulado de R$ 56,7 bilhões ao longo do ano, representando 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB). O objetivo fixado pelo novo arcabouço fiscal era que o déficit fosse eliminado.

De acordo com o economista da ASA, Leonardo Costa, o mercado ainda não percebeu, seja no pacote do governo ou nas recentes comunicações, qualquer sinal de preocupação em relação à dinâmica do endividamento. Segundo ele, apenas com essa métrica sob controle é que investidores, tanto brasileiros quanto estrangeiros, conseguiriam ganhar a confiança necessária para investir no país, o que ajudaria a valorizar a cotação do dólar, por exemplo.

Klava avalia as perspectivas de aumento das taxas de juros e as deliberações no Congresso.

Da mesma forma que os repasses governamentais para os programas sociais, a robustez da economia brasileira e do mercado de trabalho também devem contribuir para sustentar o consumo das famílias em níveis elevados.

Adicionalmente, a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua revelou que a taxa de desemprego no Brasil diminuiu para 6,2% no trimestre que se encerrou em outubro, alcançando o menor nível de desocupação desde o início da série histórica do indicador, em 2012.

Foi estabelecido um novo marco no total de pessoas empregadas, e a renda média mensal real alcançou R$ 3.255 nesse período, registrando um aumento de 3,9% em relação ao ano anterior.

Além dos fatores internos, os economistas entrevistados pelo g1 também mencionaram aspectos internacionais que podem impactar as decisões do Copom.

A eleição de Trump indica um aumento do protecionismo na indústria dos Estados Unidos, incluindo o aumento de tarifas sobre produtos importados e a redução de impostos que acarretará perda de arrecadação.

Com a elevação dos preços dos produtos importados e a redução da arrecadação do governo, as inquietações a respeito da capacidade do país de honrar seus compromissos com a dívida dos Estados Unidos têm crescido — situação que também é observada aqui.

Isso eleva a demanda dos investidores por retornos maiores, ou seja, taxas de juros mais elevadas. Como resultado, diminui a expectativa de que o Fed consiga cortar os juros americanos de maneira substancial e mantê-los em níveis baixos por um período prolongado.

Taxas de juros elevadas resultam em títulos do governo americano (Treasuries) oferecendo retornos mais altos. Sendo vistos como os ativos de investimento mais seguros globalmente, os Treasuries com rendimentos mais elevados chamam a atenção de investidores internacionais, que direcionam seus capitais para os Estados Unidos, o que fortalece a moeda americana.

Na prática, uma apreciação generalizada do dólar intensifica a pressão sobre as moedas de nações emergentes, como o Brasil. Com a movimentação de dólares sendo redirecionada para os Estados Unidos, a taxa de câmbio no Brasil tende a se deteriorar, o que pode aumentar a inflação.

Na reunião mais recente, o Banco Central mencionou até a situação incerta nos Estados Unidos como um ponto de atenção para os próximos encontros.

"O cenário externo continua complicado, principalmente devido à instabilidade econômica nos Estados Unidos, o que gera mais incertezas em relação aos tempos de desaceleração, desinflação e, por consequência, à postura do Fed [Banco Central americano]", afirmou a nota de outubro.

Expectativas Para A Taxa De Juros Em 2025

Diante de diversos fatores que elevam a inflação no Brasil, a avaliação do mercado indica que não há previsões de diminuição nas taxas de juros no curto prazo. Todos os economistas entrevistados pelo g1 antecipam novos aumentos nas taxas de juros nas próximas reuniões do Copom.

De acordo com Rafaela Vitória, além da pressão inflacionária, uma potencial intensificação de despesas em 2026, que é um ano de eleições, também está sendo monitorada.

"Pedimos que você se empenhe neste ano para que em 2025 possamos obter uma diminuição das despesas obrigatórias. O presidente apresentou uma proposta de emenda constitucional, uma lei complementar e uma lei ordinária, que também afetará os militares. São quatro iniciativas", afirmou.

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