Kamala e Trump trocam ataques sobre aborto, economia e imigração em debate marcado por provocações e desmentidos

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Debate Trump Kamala

Com uma fala enfática e expressiva, Kamala Harris direcionou críticas a Trump, enquanto tentava se distanciar de Joe Biden, defendendo ao mesmo tempo sua administração. Com uma oratória confiante, ela trouxe à tona sua experiência como procuradora-geral, afastando incertezas quanto à sua capacidade de responder rapidamente às acusações de Trump, sem contar com o apoio de sua equipe ou anotações, que não foram permitidas no auditório do debate.

Donald Trump iniciou o debate mantendo o tom mais sereno que usou durante o confronto direto com o presidente Joe Biden, em junho. No entanto, ao longo da discussão, ele foi gradualmente adotando uma postura mais combativa em resposta às provocações incessantes da oponente.

Ele tentou associar a democrata a Joe Biden, buscando explorar o fraco desempenho do presidente. "Ela é Biden. Ela deseja distanciar-se de Biden, mas no fundo, ela é Biden", afirmou.

A atual vice-presidente dos EUA afirmou que nos últimos quatro anos se dedicou a "resolver os problemas deixados por Donald Trump", responsabilizando o ex-presidente por ter deixado a administração com altos índices de desemprego e uma política externa desastrosa, além de ter feito uma crítica à sua condução da pandemia.

Ela foi particularmente assertiva e se destacou no debate quando foi indagada sobre o aborto. Afirmou que seu opositor irá implementar um "programa nacional para proibir o direito ao aborto", o que Trump refutou.

Depois do debate, a equipe dele expressou insatisfação em relação às correções, e Donald Trump também mencionou ter essa mesma impressão, afirmando que o debate foi um "3 contra 1".

A disputa, que se prolongou por pouco mais de 90 minutos, marcou o primeiro encontro ao vivo entre o candidato republicano e a democrata, que nunca haviam se encontrado pessoalmente antes. Antes mesmo de o debate começar, ao entrar no estúdio, Kamala Harris demonstrou uma atitude mais confiante. Aproximou-se do candidato republicano, estendeu a mão e comentou: "bom te ver".

Para Kamala Harris, o debate representou a primeira e, possivelmente, a única chance de se apresentar ao grande público — uma pesquisa do "The New York Times" revelou que 28% dos eleitores não têm certeza sobre sua identidade — e de buscar alcançar os eleitores de Trump com a mensagem de que seu oponente, um bilionário, governará apenas em interesse próprio, enquanto ela, uma ex-procuradora-geral, continuará tendo o povo em mente.

Ao abordar a primeira questão relacionada à economia, ela declarou que "cresci na classe média e continuarei a governar em favor da classe média", enquanto Trump "governará em benefício próprio". "Meus princípios permanecem os mesmos", ressaltou a democrática, que evitou uma resposta direta ao ser indagada se a situação econômica do país melhorou em comparação com quatro anos atrás. Limitou-se a afirmar que irá diminuir os impostos para aquisição de imóveis.

"Kamala conseguiu irritar Donald Trump, colocando-o em uma posição defensiva", afirma Sandra Coutinho.

"Não me importa o que ela seja, isso não faz diferença para mim. Eu mencionei isso porque li que ela não afirmou ser branca", declarou o republicano.

Harris, que tem se mostrado cautelosa ao abordar questões relacionadas a raça e gênero, utilizou a oportunidade para mencionar o histórico "racista" de Trump. "É lamentável que haja alguém que aspire à presidência e que tente usar a raça como uma forma de dividir os cidadãos americanos. Não desejamos essa postura, especialmente no que diz respeito à raça", afirmou.

Expressões faciais de Kamala e Trump — Foto: Reuters

Com a introdução dos assuntos sobre Israel e o conflito em Gaza nas discussões, os holofotes se voltaram para Kamala Harris. Os comícios dela têm sido palco de manifestações a favor da Palestina, devido ao respaldo que a administração de Joe Biden tem proporcionado a Israel desde o começo da crise.

Em uma declaração reiterativa e sem compromisso, a democrata expressou seu apoio ao direito de Israel se defender, mas também afirmou que "muitas vidas inocentes foram perdidas em Gaza". Por essa razão, ela defende um acordo de cessar-fogo e a criação de dois Estados.

Ele também afirmou que Harris "despreza Israel e os árabes".

Aproveitando a oportunidade criada pelo próprio rival ao citar Putin, a democrata afirmou que "é de conhecimento geral que ele tem uma admiração por ditadores" e destacou que, se o conflito tivesse acontecido durante a presidência de Trump, o líder russo estaria "instalado em Kiev observando a Europa" e teria "o republicano como seu convidado para o almoço".

Em relação ao conflito na Ucrânia, Trump afirmou que mantém "um bom relacionamento" tanto com Putin quanto com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e prometeu que, se for eleito, colocará um ponto final na guerra. Por outro lado, segundo o republicano, Biden não tem uma boa relação com nenhum dos dois líderes.

"Permita-me lembrá-lo de que você não está competindo com Joe Biden. Na verdade, você está competindo comigo", respondeu Kamala Harris, que defendeu a postura da administração Biden em relação à guerra na Ucrânia. "Se não fosse por ele, Putin estaria dominando a Europa."

Antes do confronto, especialistas avaliaram que o encontro pessoal aconteceria sem grandes perigos para nenhuma das partes, devido à competição acirrada entre os dois — que estão empatados nas últimas pesquisas de intenção de voto (veja mais detalhes abaixo).

A previsão é que Kamala não concentre sua mensagem nas temáticas de raça e gênero, mas sim utilize as habilidades de oratória que desenvolveu ao longo de sua trajetória como procuradora-geral da Califórnia, posição que alcançou por meio do voto popular. Espera-se também que ela aproveite ao máximo a ideia de que administrará em prol da classe média, como fez durante seu tempo como procuradora, além de direcionar ataques a Trump.

Kamala: Sozinha Em Treinamento

Antes do debate, a candidata a vice-presidente pelo partido democrata passou o fim de semana isolada, se dedicando a um intenso treinamento com especialistas em debates.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, ela treinou para dar respostas ágeis e em um tom mais assertivo, a fim de se adequar ao estilo do debate. Os dois candidatos puderam entrar no estúdio da ABC News, que foi responsável pela realização do confronto, apenas com uma caneta, folhas em branco e água.

Assim como ocorreu no primeiro debate das eleições, realizado em junho entre Donald Trump e Joe Biden, a comunicação entre os candidatos e suas equipes foi vetada, permanecendo estas últimas do lado de fora do estúdio.

Naquela oportunidade, o atual chefe de estado dos Estados Unidos, também sem anotações ou contato prévio com sua equipe, apresentou um desempenho bastante insatisfatório: misturou assuntos, demonstrou desinteresse e provocou uma onda de solicitações para que abandonasse a disputa eleitoral, o que acabou fazendo aproximadamente um mês depois.

Estudo aponta para um empate técnico entre Trump e Kamala.

Por sua vez, Trump, que tem vasta experiência em debates e em falar em público, declarou que não se dedicou a se preparar para o confronto. Em vez disso, optou por passar os últimos dias realizando campanha nos estados considerados essenciais, onde o apoio a um partido ou outro muda conforme as eleições.

Esse foi o motivo central, inclusive, para a escolha do local do debate: o confronto acontecerá na Filadélfia, uma cidade da Pensilvânia, que é um dos estados onde a votação ainda não está decidida. Nas duas últimas eleições, o partido que recebeu o apoio da maioria dos eleitores dessa região saiu vitorioso.

Dado que os dois candidatos estão empatados em termos técnicos nas últimas pesquisas de intenção de voto, o desempenho individual de cada um, até mesmo um resultado mais abaixo do esperado em uma única resposta, pode influenciar decisivamente os caminhos da eleição.

O especialista em mídia da Universidade de Maryland, Mark Feldstein, afirmou à agência de notícias AFP que acredita que, nessa situação, Kamala Harris está se expondo mais.

Mesmo assim, o especialista em política dos EUA, Joshua Zive, acredita que tanto Trump quanto Kamala não devem se aventurar a discutir assuntos que são característicos de cada um deles. Isso inclui tópicos como imigração ilegal e advertências sobre uma "ameaça comunista" para Trump, e a tributação de grandes corporações, além de críticas à administração do ex-presidente republicano para Kamala.

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