Dia do sexo: o que é coreorgasmo? Entenda como esse tipo de orgasmo pode acontecer na academia

De acordo com o estudioso Alfred Kinsey, em seu livro "Comportamento Sexual na Mulher", lançado em 1953, cerca de 10% das mulheres relataram ter orgasmos durante práticas físicas em algum momento de suas vidas, sem ter relação com atividades sexuais.

Naquela época, as pesquisas realizadas pelo autor eram alvo de muitas críticas e consideradas controversas. Pouca atenção foi dada a esse assunto desde que foi mencionado pela primeira vez na literatura científica. Somente em 2011, o termo, anteriormente conhecido como Orgasmo Induzido por Exercício (OIE), foi revisado na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, pela educadora sexual Debby Herbenick, no estudo intitulado "Orgasmo e prazer provocados pelo exercício em mulheres".

A pesquisadora analisou os relatos de 370 mulheres que relataram ter alcançado o orgasmo durante a prática de exercícios físicos, sendo que 33% delas confirmaram essa experiência. Herbenick se dedicou a investigar esse fenômeno, que foi denominado de “coreorgasmo”, e lançou o livro O Treino Coreorgasmo: O Método Revolucionário para Melhorar o Sexo Através do Exercício, em 2015.

"Eu não conhecia o nome, mas já me senti muito satisfeita na academia. Muitas vezes, tive que interromper a sequência de exercícios para não atingir o orgasmo", contou uma das frequentadoras que compartilhou sua experiência.

Praticar movimentos para fortalecer a região pélvica pode auxiliar na obtenção do coreorgasmo — Imagem: Andrey Stakhovskiy/Unsplash

O Que é Coreorgasmo, Afinal?

Para muitas pessoas, pode ser um pouco difícil de entender, mas o coreorgasmo é simplesmente um orgasmo causado por exercício físico, de acordo com Bruna Krawczyk, fisioterapeuta especializada em saúde da mulher, doula e educadora perinatal.

Ainda é frequente notar a confusão causada pelo uso do prefixo "core" neste termo, porém é crucial ressaltar que não tem nada a ver com uma "coreografia", como enfatiza Jô Ferreira, que é psicóloga e sexóloga na Clínica Espaço da Mente.

Yoga e tantra contribuem para a experiência do coreorgasmo - Imagem: Ginny Rose Stewart/Unsplash.

Yoga E Tantra: Benefícios Surpreendentes

No entanto, essa ocorrência não está restrita apenas aos treinos que promovem estímulos intensos na região pélvica. Isso ocorre devido ao aumento do fluxo sanguíneo nessa área. Durante a prática de atividades físicas, também há um aumento nos níveis de endorfina e serotonina, hormônios que criam um ambiente favorável para o orgasmo, conforme explica a fisioterapeuta especializada em saúde pélvica, Laura Della Negra.

Ela menciona atividades físicas como yoga como um exemplo, que são conhecidas por trabalhar a respiração de forma profunda: "Há uma ligação importante entre o diafragma respiratório e o diafragma pélvico, semelhante à massagem tântrica, que se concentra na respiração e no relaxamento muscular."

Na massagem tântrica voltada para o prazer feminino, o método envolve a contração e o relaxamento dos músculos pélvicos, juntamente com a respiração correta: "Aumenta-se a circulação sanguínea na região pélvica. Isso, combinado com os efeitos dos hormônios mencionados, torna mais fácil alcançar o orgasmo", explica Laura Della Negra.

Vivenciando O Orgasmo Mais Intenso Da Minha Vida!

"Experimentei esse orgasmo durante uma prática de meditação chamada Kundalini (Osho), que envolve movimentos pélvicos. Na época, nem sabia que tinha esse nome", revela uma internauta. A diversidade de atividades que podem desencadear o orgasmo induzido por exercício (EIO) é evidente a partir desse tipo de relato.

Segundo Bruna Krawczyk, é essencial compreender a estrutura do corpo da mulher para alcançar orgasmos. Ela destaca que o autoconhecimento é um elemento chave nesse processo. A maioria dos orgasmos femininos se relaciona com a estimulação do clitóris, que é altamente sensível e vascularizado. O clitóris desempenha um papel vital na excitação sexual e aumenta de tamanho ao ser tocado, graças à sua rica inervação.

Agora, vamos colocar em prática com o exercício físico: "Os músculos do abdômen e do assoalho pélvico têm conexões em comum, ou seja, seguem em direção ao mesmo ponto, no osso localizado na frente da vagina, o púbis. Imagine essa área erógena sendo muito estimulada, em um exercício que trabalha bem essas fibras da parte da frente da vagina e ainda com um atrito na região?"

E dessa forma que o clitóris pode reagir com um orgasmo! Quando estimulado, o órgão envia um sinal para o cérebro, que inicia a liberação dos neurotransmissores do prazer. Bruna menciona como exemplo a cadeira flexora na posição deitada de barriga para baixo.

Laura Della Negra destaca que a pessoa não terá garantidamente essa vivência toda vez que fizer os exercícios: "Também vai depender do estado dela no dia, da intensidade do exercício. No entanto, é certo que as chances de ela ter essa segunda vivência aumentam."

"Exercício Abdominal Ajuda No Coreorgasmo"

Entre os exercícios mais populares, ela ressalta a elevação da perna (conhecida como postura da águia) e bicicleta, que ajudam a aumentar a circulação no clitóris e proporcionam relaxamento da musculatura. A fisioterapeuta pélvica também destaca que o excesso de contração no assoalho pélvico pode levar ao orgasmo.

Bruna Krawczyk motiva as mulheres que estejam interessadas em experimentar um coreorgasmo: "Eu acredito que nem todas conseguem vivenciar esse fenômeno, já que o orgasmo feminino é influenciado por diversos fatores e ainda existe muita desinformação sobre o assunto. No entanto, se a mulher tem o desejo de experimentar essa sensação, quanto mais consciente ela estiver do seu corpo nessa região e mais ativada estiver, maior será a probabilidade de atingir o ponto máximo."

A especialista sugere uma maneira de estimular a região do clitóris e alcançar o orgasmo: "A sugestão é contrair os músculos do assoalho pélvico ao mesmo tempo e, se houver atrito, melhor ainda. Quanto mais você se conhecer, maiores serão as chances de vivenciar essa experiência."

É relevante destacar que não há informações que indiquem a prevalência do coreorgasmo, porém pesquisas mostram que um terço das mulheres já experimentaram esse clímax durante o exercício físico.

Alegria Em Todas As Idades

Segundo a especialista, é possível que qualquer indivíduo tenha essa vivência, não importando a idade. Porém, ela salienta que, da mesma forma que acontece com o clímax sexual, algumas mulheres conseguem atingir e outras não. "Não é algo exclusivo das mulheres, homens também podem experimentar. No entanto, são as mulheres que mais frequentemente vivenciam, devido às diferenças anatômicas", pontua.

Jô Ferreira recorda ter auxiliado diversas mulheres que compartilharam em consultas terem sentido uma sensação "agradável e peculiar" durante a prática de exercícios físicos. "Uma vez atendi uma mulher de 50 anos, viúva, que não mantinha mais relações sexuais. E ela teve a experiência de vivenciar o coreorgasmo enquanto pedalava", destaca a especialista em sexualidade.

A explicação dada é que a sexualidade das mulheres ainda é cercada por tabus, convicções e receios que as impedem de desfrutar do prazer em certos ambientes, como uma academia, onde se sentem desconfortáveis e inadequadas, o que limita a vivência autêntica desse fenômeno.