'Black Monday': entenda o que aconteceu com o dólar e se a moeda pode chegar a R$ 6

Os investidores param de investir em ações, pois os ganhos diminuem. Assim, o capital é retirado da bolsa de valores ou de investimentos diretos, e direcionado para ativos mais seguros, como os títulos de dívida dos Estados Unidos (Treasuries), que são considerados os mais seguros a nível mundial.

Devido ao grande porte da economia dos Estados Unidos, esse processo de circulação de dinheiro é reproduzido em nível internacional. Isso impacta as bolsas de valores de outras nações e valoriza o dólar.

Analistas consultados pelo g1 afirmam que a resposta dos mercados à possibilidade de recessão nos Estados Unidos foi exagerada hoje (5). Porém, ainda é possível que o dólar alcance os R$ 6 se a situação econômica tanto no país como no exterior piorar.

Compreenda o que levou a alta do dólar e os elementos que podem agravar a situação.

Evolução Do Dólar: O Que Houve?

Existem diversos motivos que podem justificar o aumento significativo do valor do dólar observado desde a semana passada.

Há uma diminuição na economia dos Estados Unidos.

Na semana passada, na sexta-feira, foi divulgado o payroll, um dos mais importantes relatórios sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos, informando que foram criados 114 mil empregos em julho, excluindo o setor agrícola.

A quantidade não só indica uma redução em relação ao mês anterior, onde o país gerou 179 mil empregos, como também ficou aquém do que era esperado pelo mercado, que previa a abertura de 175 mil novas oportunidades em julho.

A iniciativa privada criou 97 mil empregos, o que representa a segunda menor quantidade desde dezembro de 2020. Em consequência disso, a taxa de desemprego aumentou para 4,3% (em comparação com 4,1%).

O desempenho também se juntou a outra informação de emprego que ficou aquém das expectativas no país, na última quinta-feira (1º). Os requerimentos iniciais de seguro-desemprego nos EUA subiram em 14 mil na semana terminada em 27 de julho, totalizando 249 mil. Trata-se do maior número em 11 meses.

Estes dados apontam para uma desaceleração da economia de trabalho nos Estados Unidos e fortalecem a ideia de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) em breve deve começar a reduzir as taxas de juros no país.

O Federal Reserve ainda não se sentiu seguro o suficiente para diminuir as taxas, uma vez que desejava levar a inflação de volta à meta de 2%. Atualmente, o índice está em 3% nos últimos 12 meses e a preocupação era que o mercado de trabalho aquecido pudesse causar mais pressão nos preços.

Atualmente, entretanto, os investidores estão apreensivos com a possibilidade de que a tentativa do Federal Reserve dos Estados Unidos de controlar a inflação sem gerar uma recessão tenha sido infrutífera.

De acordo com Francisco Nobre, economista da XP, as informações sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos prejudicaram a chance de valorização dos investimentos brasileiros.

O contexto geopolítico mundial e valores de matérias-primas.

Na semana passada, a situação política global ficou mais complicada devido ao aumento da tensão no Oriente Médio.

Além disso, a diminuição nos valores das matérias-primas observada nos meses recentes também contribuiu para empurrar o real para uma desvalorização.

Segundo Valter Bianchi Filho, sócio-fundador da Fundamenta Investimentos, a interpretação do mercado é que, quando os preços dessas mercadorias aumentam, o Brasil receberá menos dólares por quantidade exportada. O câmbio, por sua vez, representa o fluxo de entrada e saída de dólares do país.

As ações despencam na Ásia, Europa e Estados Unidos.

A alta das taxas de juros no Japão na semana passada, para 0,25% ao ano, contribuiu para esse movimento, impulsionando parcialmente o mercado. Além disso, o banco central japonês decidiu diminuir as compras mensais de títulos para valorizar a moeda local.

Com taxas de juros extremamente baixas no Japão, principalmente enquanto as taxas aumentavam em outras economias desenvolvidas, os participantes do mercado financeiro arriscaram bastante nas transações de "carry trade".

É dessa forma que opera: investidores contraem empréstimos em países com taxas de juros baixas e investem o dinheiro em economias que oferecem retornos mais elevados. Ao obter empréstimos a juros baixos e aplicá-los a taxas mais altas, o lucro da transação provém da discrepância entre as taxas de juros.

Com o aumento da taxa de juros pelo Banco do Japão, houve uma diminuição na diferença de juros. Isso elevou o risco e diminuiu a rentabilidade das operações de carry trade, resultando em um desmonte em larga escala das posições. Esse movimento acaba fortalecendo o iene e prejudicando outras moedas.

Por último, os analistas também destacam a persistência das inquietações em relação à situação fiscal do Brasil. A incerteza ainda persiste em relação à habilidade do governo federal de administrar as finanças públicas.

No entanto, a crítica dos mercados é que as medidas propostas pela equipe econômica focam principalmente nas receitas, sendo necessário um corte mais significativo também nas despesas.

O receio de uma recessão nos Estados Unidos fez com que as bolsas da Ásia e da Oceania sofressem uma forte queda.

Possível Alta Do Dólar Para R$ 6

De acordo com profissionais do mercado financeiro, apesar da interpretação de que a resposta dos mercados foi exagerada no início desta semana, ainda existe a possibilidade do dólar atingir a marca de R$ 6, caso a situação econômica tanto no Brasil quanto no cenário externo se deteriore.

Assim, caso ocorra um agravamento da preocupação com uma possível recessão nos Estados Unidos, uma queda contínua nos preços das commodities ou uma piora na situação fiscal do Brasil, é possível que o dólar americano se valorize ainda mais.