Dólar dispara de novo e renova as preocupações com a inflação brasileira

6 Agosto 2024
Dólar

A cotação cambial representa um desafio para aqueles que planejam uma viagem ao exterior ou desejam fazer compras internacionais. Além disso, também representa um obstáculo para as indústrias, aumentando os custos de produção e resultando em uma inflação mais intensa.

Além da elevação nos preços de mercadorias e matérias-primas importadas, também há repercussão nas commodities, as quais, uma vez exportadas, diminuem a oferta no mercado nacional.

As ações despencam na Ásia, Europa e Estados Unidos.

Perspectivas Para A Inflação No Brasil

Nos últimos meses, tem se observado um aumento nas previsões de inflação.

De acordo com o boletim Focus, divulgado esta semana pelo Banco Central do Brasil, os economistas do mercado financeiro projetam uma inflação de 4,12% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024. No início do ano, essa estimativa estava por volta de 3,75%.

Atualmente, diante da piora da situação observada neste segundo momento, há um elemento adicional de pressão sobre o dólar, o que acarreta consequências para a inflação.

A desvalorização cambial demora um pouco para impactar os índices de inflação. Mesmo que o dólar aumente alguns centavos, o índice de preços ao consumidor (IPCA) não costuma mostrar uma alta imediatamente, nem mesmo no mês seguinte.

A maioria das empresas mantém quantidades de produtos em estoque o bastante para conseguir lidar com variações temporárias sem a necessidade de aumentar os preços de forma imediata para os consumidores. Entretanto, se a tendência de aumento dos preços continua, os estoques se esgotam e a produção passa a ficar mais cara devido aos ajustes nos preços e aos insumos que são importados.

Um caso exemplar é a produção de gado. O alimento para os animais pode ser trazido de fora do país ou estar sujeito às variações dos valores dos cereais — que são negociados em dólar no mercado mundial. Desta forma, é preciso gastar mais dinheiro quando a moeda dos Estados Unidos se valoriza. Como resultado, o preço da carne bovina sobe.

O trigo importado é essencial para a produção de pães e massas, assim como o petróleo é fundamental na fabricação de combustíveis. Além disso, setores como tecnologia, saúde e cosméticos dependem de uma variedade de insumos importados.

Assim, os primeiros a sentir os efeitos são os fabricantes. As despesas extras provocadas pela variação cambial precisam ser repassadas. Como resultado, a alta do dólar acaba afetando os setores de serviços, como o comércio, e o cliente final.

O receio de uma recessão nos Estados Unidos fez com que as bolsas da Ásia e da Oceania sofressem uma queda brusca.

Por Que O Dólar Dos EUA Está Em Alta?

De acordo com os especialistas consultados pelo g1, existem três principais motivos que influenciam a valorização do dólar em relação ao real.

1️⃣ Decadência econômica nos Estados Unidos

Nos últimos dias, o assunto que mais despertou interesse dos investidores foi a condição econômica dos Estados Unidos, com indicadores evidenciando um arrefecimento maior do que o previsto na principal economia global.

Na sexta-feira passada (2), foi divulgado um relatório que apontou a criação de 114 mil empregos nos Estados Unidos, fora do setor agrícola, em julho. Esse número representa uma diminuição em relação aos 179 mil postos criados em junho e está bastante abaixo das projeções de 176 mil empregos.

Empresas privadas criaram 97 mil empregos, o que representa a segunda menor quantidade desde dezembro de 2020. O documento também apontou um aumento na taxa de desemprego no país, que subiu de 4,1% para 4,3%, com ênfase na redução significativa de vagas nos setores de saúde e educação, conforme destacado por Helena Veronese, principal economista da B.Side.

Outras informações sobre o mercado de trabalho já demonstravam esse abrandamento. Atualmente, há preocupações de que as taxas de juros elevadas possam agravar ainda mais a queda na economia.

Atualmente, a taxa Selic se encontra na faixa de 5,25% a 5,50%, o mais alto nível em duas décadas. Os elevados juros tornam mais caros os empréstimos e financiamentos tanto para indivíduos quanto para empresas, o que acaba por desestimular a atividade econômica e reduzir o consumo da população. Essa situação pode levar a uma recessão.

Uma crise econômica nos Estados Unidos tem diversos reflexos no mercado financeiro. Um dos efeitos mais imediatos é a diminuição dos lucros das companhias. Com previsão de resultados negativos, as ações dessas empresas sofrem desvalorização.

Existem outras questões secundárias a serem consideradas: a possibilidade de menor lucratividade leva as empresas a reduzirem investimentos, enfrentarem desafios para pagar dívidas e, em último caso, demitirem funcionários ou entrarem em falência.

Os investidores, assim, param de apostar em altas rentabilidades e recuam. O capital, consequentemente, deixa de circular na bolsa de valores ou nos investimentos diretos em empresas e se direciona para ativos mais resguardados. É o exemplo dos títulos da dívida dos Estados Unidos (as Treasuries), tidos como os mais seguros internacionalmente.

Devido à dimensão da economia dos Estados Unidos, esse fluxo financeiro é reproduzido em nível mundial. Isso impacta as bolsas de valores de outras nações e valoriza o dólar.

2️⃣ Incerteza política na região do Oriente Médio

Segundo Helena Veronese, da B.Side, as direções do conflito no Oriente Médio têm potencial para afetar significativamente o dólar e a inflação, mais do que a própria atividade econômica dos Estados Unidos. A especialista em economia explica que se a situação evoluir para um conflito armado entre Irã e Israel, isso poderia ter repercussões globais, especialmente devido aos preços do petróleo.

A região do Oriente Médio é a maior produtora e exportadora de petróleo global, o que significa que se houver uma queda na oferta, os preços podem subir drasticamente.

A mercadoria está presente em diversas cadeias de produção. Se o preço do petróleo aumenta significativamente, isso pode impactar de forma ampla a inflação, seja através dos serviços de transporte ou dos produtos que o utilizam em sua fabricação.

Em situações de instabilidade, como conflitos armados, o dólar se torna a moeda preferida por aqueles que buscam investimentos seguros. Novamente, aumenta a demanda por títulos do governo dos Estados Unidos, por exemplo.

O Brasil enfrenta um dilema em relação ao seu cenário fiscal. Há preocupações em relação ao aumento do endividamento público, ao déficit orçamentário e à sustentabilidade das contas do governo. Este é um desafio complexo que requer medidas urgentes para mitigar os riscos econômicos e garantir a estabilidade financeira do país.

Além disso, os investidores e especialistas também estão preocupados com a situação financeira do Brasil. A incerteza persiste em relação à habilidade do governo federal de gerenciar as finanças públicas.

No entanto, os mercados criticam que as medidas propostas pela equipe econômica focam principalmente nas receitas, sendo necessário um corte mais significativo também nas despesas.

Segundo Maria Luísa Nepomuceno, que é especialista em investimentos de renda fixa na empresa Nord Research, as expectativas do mercado são de que o governo federal demonstre um compromisso geral com a meta fiscal deste ano e dos próximos, em vez de apenas alguns ministros, como o Fernando Haddad, advogando por cortes de despesas.

Segundo Ariane Benedito, uma economista com expertise em mercado financeiro, demonstrações adicionais de comprometimento com a questão fiscal poderiam contribuir positivamente para manter o valor do dólar estável. Isso ocorre porque, além das questões fiscais, a economia brasileira conta com outros aspectos favoráveis no momento.

Até Onde O Dólar Pode Chegar

Segundo as previsões do boletim Focus, a cotação do dólar deve atingir R$ 5,30 no final do ano. Nenhum dos especialistas consultados pela reportagem hoje acredita que seja aconselhável adquirir dólares neste momento como forma de se proteger contra as variações do câmbio.

Proteja-se Do Aumento De Preços!

André Colares, líder da Smart House Investments, ressalta que a alta do câmbio provoca pressão inflacionária nos alimentos. Existem diversas maneiras de evitar os impactos desses aumentos de preços e proteger o consumidor.

De acordo com o especialista, é fundamental dar preferência às compras feitas em supermercados atacarejos em vez de mercadinhos de bairro. Como possuem uma variedade maior de produtos, os atacarejos conseguem oferecer preços mais baixos e absorver a inflação de forma menos agressiva.

Colares ainda recomenda ao consumidor que faça um estoque de alimentos que não estraguem, para não ser prejudicado pelo aumento dos preços a cada mês. Por exemplo: adquirir quantidades maiores de arroz e feijão para durar dois a três meses, em vez de apenas um.

Thiago Godoy, responsável pela área de educação financeira na Rico Investimentos, também aborda a importância de selecionar o momento certo para efetuar as compras, pois os preços podem sofrer variações dependendo da data. De acordo com ele, é provável que os preços estejam mais altos no início do mês, quando as pessoas recebem seus salários, do que próximo do dia 15.

Antes de executar essa ação, é fundamental realizar uma pesquisa de preços, que pode ser feita online ou pessoalmente nos estabelecimentos comerciais. Godoy sugere que o cliente verifique os valores do item que deseja adquirir e os anote em algum lugar de fácil consulta, para que possa verificar sempre que preciso.

Dessa forma, torna-se mais simples e eficaz analisar quais lugares e períodos são mais benéficos para realizar os gastos. Isso é especialmente útil quando se trata de alimentação, porém as mesmas orientações podem ser aplicadas a qualquer tipo de compra.

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