O que é esporotricose, doença transmitida por gatos que está descontrolada?
A propagação de uma enfermidade que é transmitida pelos gatos está desenfreada e tem sido registrada em outros países além do Brasil. Fotografia: Reprodução/Journal Plos/https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0006434.g001
A esporotricose é uma infecção fúngica que afeta a pele, causada pelo fungo Sporothrix brasiliensis, e está se espalhando em diversos estados do Brasil. Outros países da América do Sul, como Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile, também têm registrado casos da doença.
De acordo com o infectologista Flávio Telles, responsável pelo Comitê de Cicotologia da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), a doença é considerada uma zoonose e continua se espalhando descontroladamente. Ele alertou sobre esse tema durante o 23º Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado em Salvador.
Além do fungo Sporothrix brasiliensis, outro causador da doença é o Sporothrix schenckii. Este último pode ser encontrado em plantas, palhas, restos de vegetação e fibras, prejudicando agricultores e outros trabalhadores rurais. De acordo com Telles, em uma entrevista à Folha de S.Paulo, atualmente no Brasil, 90% dos casos são causados pelo Brasiliensis, que é transmitido por gatos. Cachorros e humanos não transmitem a doença.
A comunidade científica já estava preocupada com a disseminação da doença, devido ao aumento significativo no número de casos registrados no Brasil. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) revelam que houve um aumento de 162% na taxa de contaminação no estado do Rio de Janeiro em 10 anos, passando de 579 casos em 2013 para 1.518 em 2022.
O número de casos em indivíduos abaixo de 15 anos aumentou dramaticamente de 26 em 2013 para 196 em 2022, o que representa um aumento de 653%. Entretanto, já havia um aumento desses números em outros estados no final de maio, como em São Paulo e Minas Gerais.
No entanto, não é factível afirmar esses valores de maneira precisa, pois em todo o país a esporotricose não é considerada uma doença que deve ser notificada compulsoriamente. Isso implica que, quando o diagnóstico é confirmado, o profissional responsável não precisa informar a Secretaria de Saúde do município, que depende da transmissão desses dados ao Ministério da Saúde. Somente em alguns municípios e estados, como é o caso do Mato Grosso do Sul, a notificação se tornou obrigatório.
Esclarecimentos Sobre A Esporotricose
Esporotricose é uma enfermidade produzida por fungos da família Sporothrix, os quais são achados na natureza em objetos orgânicos, tais como galhos, thorns, detritos vegetais, solo, palha e madeira. Para que haja transmissão da doença, é necessário que haja contato com esses materiais e uma lesão que cause a perfuração da pele.
Os animais de estimação, tanto cães quanto gatos, são suscetíveis à doença e podem transmiti-la para os seres humanos por meio de arranhões, mordidas ou espirros. Por essa razão, a doença é considerada uma zoonose e não é transmissível de uma pessoa para outra.
Os sinais podem incluir uma lesão que não sara e cresce. Ou uma pequena protuberância vermelha que se transforma em uma pústula com pus, semelhante a uma espinha, e posteriormente em uma úlcera que pode se expandir. Ou, ainda, gânglios linfáticos na periferia que seguem a rota linfática.
Os sintomas aparecem na região do corpo que teve contato com o material contaminado, por isso é mais frequente nas extremidades, abdômen e face.
Indivíduos que têm o seu sistema imunológico debilitado por doenças autoimunes podem manifestar quadros mais graves quando a esporotricose afeta regiões do organismo como os pulmões e os ossos.
Cuidado Com Os Pequenos: Dicas Essenciais
Os especialistas advertem sobre a necessidade de observar cuidadosamente o aumento dos casos em crianças, uma vez que elas tendem a ficar extremamente próximas de gatos. Elas costumam abraçá-los e beijá-los frequentemente.
Portanto, é bastante frequente que as pessoas desenvolvam esporotricose na região facial, incluindo os olhos e o nariz. A marca resultante dessa enfermidade na pele pode prejudicar bastante a sociabilidade das crianças e provocar sérios danos na confiança em si mesmas.
O acréscimo dos incidentes em jovens evidencia a falta de gerenciamento na propagação da enfermidade. O processo de terapia da esporotricose em jovens também é mais sensível, visto que as quantidades da medicação oscilam de acordo com a massa corporal e existem poucas alternativas no comércio para os pequeninos.
De acordo com especialistas, um dos motivos para o elevado número de casos de esporotricose no Rio de Janeiro está relacionado à falta de controles eficazes dessa doença em gatos.
Tratamento: O Que Esperar
Frequentemente é identificado uma infecção bacteriana como o primeiro diagnóstico, porém, o exame micológico é o único capaz de confirmar a suspeita.
O processo terapêutico baseia-se no emprego de remédios antifúngicos orais pelo menos por um período de 3 meses, no entanto, pode haver necessidade de continuação por mais de um ano. A interrupção do tratamento é inadmissível para a obtenção do sucesso.
Apesar de a esporotricose não ser uma condição grave, negligenciar o tratamento pode agravar a situação e até levar à morte.
Para evitar contaminação na natureza é imprescindível evitar contato direto com materiais orgânicos em que o fungo pode ser encontrado. Por conseguinte, é indispensável o uso de luvas, roupas longas e calçados ao mexer com galhos, folhas e terra.
Gatos Não São Culpados
Apesar de a enfermidade poder afetar cães, a sua presença é mais recorrente em gatos. Nesses animais, os sinais mais observados são lesões cutâneas profundas, habitualmente com secreção purulenta, e espirros frequentes, que não sarão com facilidade.
Os profissionais da área veterinária afirmam que a esporotricose é uma enfermidade alarmante, sobretudo devido aos felinos que vivem nas ruas, ou até mesmo àqueles que possuem acesso livre às ruas e não possuem um tutor responsável. Por vezes, o guarda daquele animal pode achar que uma ferida foi causada em uma briga, ignorando as maiores consequências dessa patologia profunda e extremamente dolorosa. Portanto, é importante estar atento e tomar precauções para evitar a transmissão do fungo.
Embora transportem a esporotricose aos humanos, os animais sofrem tanto quanto nós. A fim de impedir sua contaminação, a melhor opção é garantir que permaneçam dentro de casa.
Uma das principais recomendações dadas pelos veterinários, que por vezes são considerados maçantes, é evitar beijar gatos vadios, visando a proteção da própria pessoa.
Atenção: de maneira alguma se deve abandonar ou sacrificar o seu animal de estimação. Similarmente com seres humanos, há tratamentos disponíveis para os animais.
Cuide Bem Do Seu Pet: Dicas Essenciais!
Qualquer animal com suspeita de esporotricose deve ser mantido separado de outras pessoas e animais. Os gatos frequentemente apresentam feridas na face, especialmente no nariz, orelhas e pés, mas essas feridas podem aparecer em qualquer parte do corpo do animal.
Também é possível que ocorram regiões onde não há pelos. É aconselhável usar luvas ao manusear o bicho. É necessário levar o animal ao veterinário para que o diagnóstico seja confirmado e o tratamento seja iniciado.
Quando a doença é confirmada, é necessário que o animal seja isolado do convívio humano na casa, especialmente de crianças, e levado para um lugar seguro.
Para garantir a limpeza de seus acessórios, brinquedos e outros itens, é necessário limpá-los com água e sabão e desinfectá-los diariamente. Caso ocorra a morte do animal, não é recomendado enterrá-lo ou descartá-lo no lixo, mas sim levá-lo imediatamente a um veterinário para cremá-lo.
Os lugares onde o animal vivia necessitam ser purificados, de preferência utilizando o composto químico hipoclorito de sódio.
De acordo com a Vice-Presidente da regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Regina Schechtman, o Departamento de Micologia, coordenado pelo dermatologista Eduardo Falcão dentro desta mesma instituição, juntamente com o Ministério da Saúde, são fontes relevantes na área dermatológica.
Com base em um artigo do VivaBem divulgado em 26/05/2023
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