Alesp sedia audiência pública sobre fechamento de salas nas Etecs ...

4 Junho 2023
Etec

Professores e alunos se reuniram, na quinta (1), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para relatar más condições de trabalho e estudo nas Escolas Técnicas (Etecs) do Estado. A principal reclamação, segundo o grupo, é o fechamento de salas em diversas unidades e cursos por não terem atingido um número mínimo de inscritos. "Nós estamos vivendo um processo de sucateamento gigante. Falta estrutura, faltam professores e, nesse semestre, o Centro Paula Souza resolveu fechar cursos, sem contar a situação da valorização dos trabalhadores e trabalhadoras", explicou Sirlene Maciel, codeputada da Bancada Feminista que convocou e comandou o evento.

Leonardo Ranzatti, professor há 42 anos de Mecânica da Etec Getúlio Vargas, lamentou que o seu curso foi um dos fechados neste semestre. Também disse que foi a primeira vez que viu essa situação em sua carreira. "Ninguém nem veio falar comigo, de um dia para o outro me disseram ?professor, cortaram o curso?. Eu não tive a chance de falar, de argumentar, por isso estamos aqui", explicou. Além da Mecânica, a escola que tem mais de 100 anos de existência, teve mais cursos fechados, como Automação e Telecomunicações. O curso de Ranzatti estava em funcionamento desde o início da Etec e, segundo ele, não tem a garantia de que voltará a ser oferecido.

As condições de trabalho dos professores também não alegram os professores do ensino técnico. O presidente da Associação dos Trabalhadores do Paula Souza (Ateps), Raphael Almeida, disse que os profissionais estão trabalhando desvalorizados e desmotivados, apontando que os salários são mais baixos que em outras escolas estaduais e por isso, muitas vagas não são preenchidas. Além disso, alguns magistrados recebem salários abaixo do piso nacional do magistério e estão com bonificações atrasadas. A associação foi formada recentemente, tendo em vista a atual conjuntura que vivem.

A condição estrutural das escolas também foi debatida. Denúncias de infestação de pombos, alagamentos, goteiras e falta de quadras poliesportivas foram apresentadas na audiência.

Os fechamentos

Além dos cursos da Etec Getúlio Vargas, também foram fechados outros nas demais unidades espalhadas pelo Estado. Segundo os presentes no evento, o critério utilizado pelo Centro Paula Souza para o não oferecimento é o número de inscritos. Os cursos que não atingissem 40 alunos, não abriram, mesmo que faltassem um ou dois alunos. Os professores listaram que as consequências desse ato serão inúmeras e impactarão as escolas, alunos e professores. Segundo Leonardo Ranzatti, a Etec na qual trabalha possui laboratórios e equipamentos que custam centenas de milhares de reais e, agora, ficarão seis meses sem uso, correndo o risco de deterioração.

O professor ainda relata que aqueles alunos que se inscreveram não terão a oportunidade de fazer os cursos que queriam e os professores que os ministravam, ficaram ociosos. "Tem 35 inscritos. Você vai impedi-los de estudar? Depois distribuíram os alunos para cursos que não eram o que eles queriam. Alguns me ligaram para reclamar e eu nem soube o que dizer", contou Ranzatti.

Lucca Gidra, presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), diz que o sentimento dos alunos é de tristeza por não poderem cursar as matérias que gostariam e o ensino é prejudicado pelas condições estruturais que as escolas enfrentam. "A situação é triste, porque o estudante tem essa vontade de entrar no ensino técnico e ter uma formação profissional. O Estado deveria oferecer, mas está se negando", afirmou Lucca.

Centro Paula Souza

O Centro Paula Souza é uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação que administra Etecs e Fatecs estaduais. Ao todo, são 224 Etecs que contam com mais de 226 mil estudantes matriculados nos Ensinos Técnico, Integrado, Médio e Especialização Técnica, segundo o site do órgão. A diretora e superintendente do Centro Paula Souza, Laura Laganá, foi convidada a participar da audiência, mas não compareceu. Os presentes informaram que, quando procurado para prestar esclarecimentos sobre os fechamentos, o Centro não os respondeu.

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