Por que Sevilla reina na Europa League e não repete sucesso em ...
Artur Rocha
31 de mai, 2023, 05:00
Em busca do sétimo título de Uefa Europa League, o Sevilla tenta manter o invejável histórico de 100% de aproveitamento em finais da competição europeia nesta quarta-feira (31). A equipe espanhola encara a Roma, de José Mourinho, a partir das16h (de Brasília), na Puskás Arena, em Budapeste, com transmissão ao vivo pela ESPN no Star+.
Maiores campeões da disputa, os Rojiblancos sabem como ninguém disputar a Liga Europa. Apesar do início de temporada com muitos percalços sob o comando de Jorge Sampaoli, hoje no Flamengo, a chegada do espanhol José Luis Mendilibar trouxe novos ares para o clube, que para chegar à final eliminou adversários de camisa pesada como Manchester United e Juventus.
Mas o mesmo clube que coleciona troféus de Europa League (2005/06, 2006/07, 2013/14, 2014/15, 2015/16 e 2019/20) não consegue repetir o mesmo sucesso em outras competições que disputa. Em LaLiga, por exemplo, o Sevilla só tem uma taça, conquistada há longos 77 anos, na temporada 1945/46.
Na Champions League, são apenas nove participações, com uma campanha de quartas de final (1957/58 e 2017/18) como melhor resultado. E, quando o assunto é a Copa do Rei, o Sevilla tem dois títulos (2006/07 e 2009/10), mas não chega a uma decisão desde 2018, quando foi goleado por 5 a 0 pelo Barcelona.
Por que isso acontece? Com uma passagem vitoriosa pelo Ramón Sánchez Pizjuán, o lateral-esquerdo Adriano, hoje aposentado do futebol, concedeu entrevista exclusiva ao ESPN.com.br e tentou explicar por que o Sevilla tem um desempenho acima na Europa League em comparação a outras competições.
Adriano atuou pelo clube espanhol de 2005 a 2010, antes de se transferir para o Barcelona, e participou dos dois primeiros títulos europeus, ainda sob a nomenclatura de Copa da Uefa. Também foi campeão duas vezes da Copa do Rei, uma da Supercopa da Uefa (2006) e outra da Supercopa da Espanha (2007).
"É uma competição que é especial e, hoje, é a cara do clube. A gente fala do Real Madrid na Champions, eu acho que é realmente isso. É uma competição que encaixa muito bem com o clube. Eu lembro do segundo ano, que fomos a mais uma final. Foi um jogo dramático contra o Shakhtar Donetsk (nas oitavas). O Palop, nosso goleiro, que fez o gol. Estávamos perdendo, empatamos o jogo com gol dele, fomos para a prorrogação e ganhamos. É algo especial, só quem vive mesmo", falou Adriano.
"Hoje, a Europa League é a cara do clube. É uma competição, vamos dizer, feita para o Sevilla (risos). Mais ou menos por aí [leu o manual da competição] (risos). Claro que, na época, a gente tinha como meta chegar a uma final da Champions também porque o nosso time tinha uma qualidade para isso, e sempre visa isso. Hoje, sem dúvida, o clube ainda tem esse pensamento, essa metodologia de chegar a uma final de uma Champions League, o pensamento é esse. A gente vê o estádio modernizou, o clube também atualizou e fez grandes contratações, depois da minha saída sempre revelou grandes jogadores, mas é uma competição especial para o clube".
Adriano também tentou explicar o motivo pelo qual os Rojiblancos acabam deixando a desejar em outras competições, mas lembrou que, na sua época, o Sevilla esteve perto de voltar a conquistar o Campeonato Espanhol, na temporada 2006/07, quando ficou atrás de Real Madrid e Barcelona na tabela.
"Na época da Champions tinha grandes clubes, então os clubes sempre se reforçaram muito bem. Eu acho que ainda falta algo a se fazer para dar esse passo dentro da Champions League. E em LaLiga, no ano que eu estava lá tivemos muito perto de poder conquistar novamente esse campeonato para o o clube. Se a gente ganhasse aquele jogo do Mallorca, passaríamos um ponto e podendo decidir em casa contra o Villarreal. E aí nós empatamos e entramos no outro jogo já sabendo que o Real Madrid tinha vencido o Recreativo de Huelva, e aí se consagrou campeão. O clube vem trabalhando para isso, mas ainda acho que falta esse algo a mais para poder conquistar LaLiga e também poder chegar um pouco mais longe na Champions".
'O futebol mudou a cidade'Durante o período em que jogou no Sevilla, Adriano foi um dos muitos jovens jogadores contratados pelo clube espanhol, que havia se tornado uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol) há pouco tempo. Além dele, outros brasileiros também já estavam no plantel, como Daniel Alves, Júlio Baptista, Renato e Luis Fabiano.
E segundo o ex-lateral, o bom desempenho do Sevilla em campo, consequentemente, ajudou no desenvolvimento da própria cidade espanhola, hoje com pouco mais de 600 mil habitantes e que também tem o Real Betis como clube de expressão.
"A minha ida foi muito rápida, até porque eu tinha mais seis meses de contrato com o Coritiba naquela ocasião, mas eu quis adiantar a minha ida para a Europa. Para mim foi muito importante a minha ida para o Sevilla, clube que estava em um crescimento muito importante, não só a nível esportivo, mas da parte da direção também, começando um novo projeto. Assinei um contrato de cinco anos e para mim foi a porta de entrada para a Europa. Um clube que, a partir dali, teve um crescimento muito rápido, muito importante, até pelo fato de ter naquele momento a gestão estar sendo trocada. O Monchi (diretor de futebol) sempre com a sua maneira de trabalhar e uma visão muito diferenciada com relação a outros diretores, sempre trazendo jogadores jovens, não tão conhecidos, mas com uma projeção para que o clube conseguisse esse crescimento dentro de campo", disse.
"É uma cidade bonita e eu tenho muitas saudades de Sevilha. Tenho amigos lá ainda, espanhóis, e a gente volta e meia conversa, manda mensagem, e é uma cidade que teve um crescimento muito grande e importante através do futebol, não só nacionalmente, mas internacionalmente pelo bom desempenho dentro de campo, pelas conquistas da Europa League, Copa do Rei, Supercopa da Europa, então trouxe um crescimento importante para a cidade".
E logo na segunda temporada no clube, Adriano foi campeão inédito da Europa League, primeiro título internacional da história do Sevilla. E o brasileiro lembrou que, à época, a competição já era bastante valorizada no Velho Continente.
"Já era valorizada, até pelo fato de que já tinha grandes clubes na época. Se você pega aquela final, o Middlesbrough era um time muito importante, tinha tradição dentro da Premier League. Daquele ano para hoje, chegamos a ganhar duas Copas da Uefa, que depois virou Europa League, mas eu acho que a visibilidade também era muito grande. Ainda mais que dava a oportunidade de vocês jogar uma Supercopa da Uefa, contra o campeão da Champions League. Os clubes que tinham a oportunidade de disputar essa competição sempre viam com bons olhos. É uma competição difícil pelo fato de ter mais times que a Champions, para você ser campeão o nível de dificuldade é muito grande".
Adriano lembrou que, após o título, o Sevilla ainda foi coroado com a "cereja do bolo" depois de vencer o Barcelona, recém-campeão da Champions com Ronaldinho, Xavi, Iniesta e outros, por 3 a 0, na final da Supercopa da Uefa.
"Uma final contra o Barcelona, aquele Super Barça, um time muito qualificado, do goleiro até o atacante era um time indiscutível, mas no jogo sabíamos o que tínhamos que fazer, a intensidade que tínhamos que entrar. O jogo foi começando a desenvolver e fomos tendo muito benefício, eles não estavam acostumados a receber jogadores tão fortes. No final fomos felizes e ali foi a cereja do bolo para a gente, realmente para a gente confirmar que o Sevilla tinha mudado em tão pouco tempo e já não era promessa, tinha virado a realidade de um clube que estava chegando realmente para mudar a história do clube e a história da competição".
Onde assistir à final da Uefa Europa League entre Sevilla x Roma?Sevilla x Roma terá transmissão, ao vivo, pela ESPN no Star+, nesta quarta-feira (31), às 16h (horário de Brasília).