Crise hidrelétrica no País deve trazer de volta o horário de verão

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Horário de verão

A aridez e a escassez de precipitações são os principais responsáveis pela continuidade da crise de abastecimento de água. – Arte sobre foto de Marcos Santos/USP Imagens e ilustração Daylightsavings/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0

Em abril de 2019, o horário de verão, que estava implementado desde 1985, foi abolido. A decisão foi tomada pelo presidente da época, Jair Bolsonaro, que justificou sua escolha alegando a baixa eficácia na economia de energia. Após cinco anos sem essa prática, o Brasil enfrenta a mais grave crise hídrica dos últimos 94 anos, o que reacendeu a discussão sobre a possível reintrodução do horário de verão. Sobre esse tema, o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente da USP, analisa a atual situação energética do país: “Estamos lidando com uma condição hídrica muito desfavorável, significativamente pior do que a crise recente que vivemos em 2020 e 2021. O panorama para este segundo semestre não é promissor e, na verdade, o governo está adotando medidas preventivas para proteger os níveis dos reservatórios, a fim de utilizar a reserva existente de maneira controlada, evitando um consumo excessivo da energia hidrelétrica e, assim, recorrendo de forma intensiva às termelétricas”, declara.

O professor também relata como se dá o funcionamento do horário de verão. “Existem dois momentos principais de pico no consumo de energia. O primeiro ocorre no meio da tarde, especialmente em períodos de calor, quando as pessoas utilizam mais os ventiladores, o ar-condicionado e aumentam a potência das geladeiras. Isso gera um aumento significativo no consumo nesse horário. Além disso, há uma sobreposição de demanda no final da tarde e início da noite, entre 17 e 18 horas, até por volta das 20 horas. Nessa faixa, muitas empresas e escritórios ainda estão em atividade, enquanto inúmeras pessoas já voltam para casa. Ao chegarem, ligam as luzes, tomam banho, acionam a televisão, o que eleva o consumo residencial, que se soma ao consumo dos escritórios e do setor de serviços, por exemplo”, esclarece.

A utilização excessiva de serviços que dependem da energia elétrica gera uma sobrecarga no sistema, resultando no uso de reservas valiosas de água e no aumento da conta de luz, afetando assim o orçamento do consumidor. Com a adoção dessa prática, o consumo doméstico é retardado, já que os dias parecem durar "mais", o que, por sua vez, gera uma economia de eletricidade.

A aridez e a escassez de precipitações são os principais elementos que estão exacerbando a crise hídrica. O fenômeno La Niña, que era esperado para ocorrer no final de agosto ou no começo de setembro, não se concretizou. Sua ocorrência foi postergada para o final de outubro, e espera-se que traga uma diminuição das chuvas na região Sul e um aumento na região Norte.

“Teremos um retorno das chuvas na região Norte, com previsões indicando que isso deve ocorrer mais para o final do ano. No entanto, não afetará toda a Amazônia, concentrando-se mais ao Norte e ao Oeste. Essa chuva ajudará a irrigar um pouco o Centro-Oeste e o Pantanal, mas a área Central pode enfrentar dificuldades significativas no reabastecimento de seus reservatórios. Também não temos uma previsão clara sobre quanto tempo durará esse fenômeno de La Niña. O último episódio se estendeu por quase dois anos e teve uma duração realmente estendida, com um breve período de neutralidade no meio, mas que praticamente não fez muita diferença. Não sabemos se o La Niña que está por vir vai durar seis meses, um ano ou dois anos, como aconteceu anteriormente”, acrescenta.

O professor encerra comentando sobre o alto consumo de energia elétrica. "Este ano, nossa utilização está excessiva. Não encaramos a possibilidade de apagões, pois temos uma infraestrutura que suporta essa demanda, mas o nível de consumo está alarmante. O menor índice registrado este ano, em agosto, foi superior aos picos dos anos anteriores. Essa situação realmente gera preocupação, pois, normalmente, o consumo diminui durante o inverno, mas este ano praticamente não tivemos essa estação. Passamos por um período quente e agora, na primavera, que costuma ser mais seca na região Sudeste, enfrentamos temperaturas elevadas. Assim, o que ocorreu no outono e no inverno pode se repetir nesta primavera, possivelmente com maior intensidade e frequência, resultando em ondas de calor", conclui.

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