Israel diz ter tomado controle de passagem de Rafah em Gaza: por que cidade é tão estratégica

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Israel Rafah

Data: 7 de maio de 2024 Horário: 05:59 no fuso horário GMT-3.

Israel pode estar se aproximando de tomar Rafah, que é conhecida como a última fronteira de guerra em Gaza.

Israel Rafah - Figure 1
Foto BBC Brasil

Hoje, terça-feira (7/5), os militares de Israel informaram que estão responsáveis pelo comando operacional da área palestina da passagem de Rafah, situada na fronteira com o Egito.

Pessoas que estavam em Rafah relataram à BBC que testemunharam sinais de luzes que iluminaram o céu durante toda a noite, além de ouvirem um incessante som de explosões.

As forças armadas de Israel relataram ter eliminado 20 indivíduos identificados como "terroristas afiliados com o Hamas".

Atualmente, esta ação é ainda restrita e não é a ofensiva terrestre em grande escala em Rafah, que as potências mundiais têm chamado a atenção.

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Encerramento das Sugestões de Conteúdo

Há preocupações de que, caso ocorra um ataque terrestre, ocorram consequências humanitárias catastróficas em uma cidade repleta de palestinos que escaparam de outras áreas de Gaza.

Desde o início da luta entre Israel e o Hamas, a urbe palestina de Rafah converteu-se em um ponto de abrigo para os habitantes civis e uma rota de acesso para os suportes humanitários.

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Localizada no extremo sul da Faixa de Gaza, abrangendo aproximadamente 55 quilômetros quadrados, a cidade é o único acesso restante a Gaza não sob controle de Israel. Por décadas, tem sido um ponto de chegada para ajuda humanitária e uma porta aberta para doentes, feridos e viajantes.

Desde o começo da guerra atual - causada pelo ataque inesperado do Hamas a Israel em 7 de outubro, que resultou na morte de 1.200 pessoas e no sequestro de cerca de 240, informado pelas autoridades israelenses - Rafah se tornou o último abrigo para mais de um milhão de palestinos que foram evacuados de suas cidades devido a bombardeios e invasões terrestres das Forças de Defesa de Israel (FDI).

Devido à grande quantidade de indivíduos que chegaram, a localidade de Rafah presenciou um aumento populacional significativo, expandindo de aproximadamente 280 mil habitantes para quase 1,4 milhão de pessoas. Tal fato levou o líder do Conselho Norueguês para os Refugiados, Jan Egeland, a rotulá-la como "o maior acampamento de refugiados do mundo".

No entanto, a reputação da cidade como um lugar de refúgio para aqueles que estão fugindo da guerra foi posta em dúvida em fevereiro deste ano. Isso aconteceu quando Israel iniciou uma operação que levou à morte de várias pessoas palestinas e possibilitou o salvamento de dois reféns que estavam sob o domínio do Hamas.

Benjamin Netanyahu, o líder de Israel, instruiu as tropas de defesa a prepararem a retirada imediata de cidadãos de Rafah, como parte de um ataque ofensivo de grande magnitude.

Este comunicado gerou inquietação na comunidade global, resultando em uma série de reprovações e alertas em relação aos projetos de Israel, que temiam o surgimento de uma "situação humanitária desastrosa".

No dia seis de maio, há uma segunda-feira, medos ressurgiram quando as Forças de Defesa de Israel iniciaram uma ação em Rafah, divulgando folhetos que orientavam cerca de cem mil indivíduos a deixarem uma localidade na parte leste da cidade e seguirem rumo a Khan Younis e Al-Mawasi.

Algum tempo depois, as tropas de Israel deram início a uma sequência de investidas numa determinada região urbana, como parte de uma "operação restrita".

Contudo, Rafah possui uma relevância que ultrapassa significativamente essa mobilização.

Em Gaza é Alvo De Ataques Ataques Miram 'Fortaleza' Do Hamas Em Gaza

Em fevereiro, o escritório de Netanyahu declarou que seria impraticável alcançar o objetivo da guerra sem eliminar o Hamas, bem como deixar quatro unidades do mesmo em Rafah.

Israel Rafah - Figure 2
Foto BBC Brasil

Essa é a alegação pela qual o primeiro-ministro tem enfatizado por meses a fio.

De acordo com Israel, há multidões de soldados do Hamas, inclusive alguns de seus comandantes, posicionados em Rafah.

Ele afirma o desejo de pôr fim a aproximadamente quatro batalhões do Hamas que estariam presentes no local, como parte de sua estratégia para eliminar a força militar do grupo palestino.

Calcula-se que aproximadamente 200 mil cidadãos israelenses foram forçados a deixar suas residências depois do começo da guerra contra o Hamas e se deslocar para áreas mais protegidas do país, afastadas das fronteiras que poderiam ser atacadas pelo Hamas ou a sua organização aliada no Líbano, a milícia xiita Hezbollah.

Há muitas pessoas que já vinham lidando com foguetes esporádicos vindos de Gaza e lançados em direção a Israel há anos. O governo comandado por Netanyahu ignorou a situação por um tempo, até que reagiu através de um curto conflito que levou a um novo acordo de cessar-fogo.

Este era o cenário atual da área até o atentado ocorrido em 7 de outubro.

Desde então, decisão tomada pelas autoridades israelenses e parte da população não permite mais a aceitação de um Hamas armado no controle de Gaza.

Contudo, desde o início da crise, muitos especialistas em política e estratégia militar apontaram que a intenção de Netanyahu de extinguir o Hamas seria muito complicada - talvez até utópica - sem considerar o elevado custo humano decorrente dos túneis que foram construídos pelo grupo como forma de proteção em Gaza. Ademais, não é fácil distinguir quem são os combatentes e os civis no cenário atual.

O governo de Israel assegura que suas tropas têm extrema precaução para evitar danos à população civil, no entanto, desde o início do conflito, cerca de 34 mil indivíduos perderam suas vidas em Gaza, sendo que a maioria dessas pessoas são mulheres e crianças. Todas essas informações foram divulgadas pelo Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, que é controlada pelo Hamas.

O repórter da BBC Frank Gardner adverte que não se sabe ao certo o que Israel poderia conquistar com uma ação bélica em Rafah.

Ainda não foi possível realizar a libertação dos reféns, apesar dos cinco meses de conflito intenso em Gaza. Em novembro, houve uma saída expressiva de reféns com sucesso graças a um acordo negociado pelo Catar e Egito. Entretanto, desde então, não houve mais avanços nesse sentido.

De acordo com a avaliação do exército israelense, quatro grupos combatentes do Hamas continuam ativos, tanto na superfície quanto subterraneamente, na cidade de Rafah, e as forças israelenses desejam concluir a ofensiva conforme o planejado. Porém, mesmo que haja sucesso na eliminação desses grupos, as perspectivas de liberação segura dos reféns são bastante reduzidas.

Jogo Político E Alianças Em Pauta

Do ponto de vista político, os eventos em Rafah podem ter influência nas negociações em curso há meses com o Hamas pelo Catar e Egito, buscando uma trégua nas hostilidades e a soltura de cidadãos israelenses e palestinos retidos em Israel.

Todavia, não se sabe ao certo a total abrangência da trégua, visto que o governo de Netanyahu afirmou que as exigências de Israel estavam longe de serem satisfeitas e despachou uma delegação ao Cairo.

Na passada semana, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, enalteceu a sugestão e afirmou que esta era muito benevolente por parte de Israel, e consequentemente, que o Hamas deveria aprová-la.

Contudo, o transcorrer da semana foi desprovido de quaisquer progressos no decorrer das negociações.

Israel está considerando uma operação militar em Rafah, que pode piorar ainda mais as relações entre o governo de Netanyahu e os Estados Unidos. Isso ocorre porque o presidente Joe Biden já deixou claro que é contra qualquer ataque militar sem antes garantir a proteção dos civis que habitam a região.

De acordo com fontes da Casa Branca, Biden reafirmou sua posição a Netanyahu em uma conversa telefônica na segunda-feira.

Escalada em Rafah pode prejudicar os planos do governo dos Estados Unidos em alcançar um acordo para estabelecer relações diplomáticas entre Israel e Arábia Saudita, os quais já foram afetados pelo ataque do Hamas em 7 de outubro.

Com o intuito de progredir neste percurso, a Arábia Saudita aguarda que Israel se disponha a encerrar o conflito com o Hamas e assuma o compromisso de seguir uma via que leve à edificação de uma nação Palestina.

A melhora das relações entre Israel e Arábia Saudita é considerada um grande progresso não só por causa das suas implicações de um acordo bilateral, mas também porque ambos os países, juntamente com os Estados Unidos, desconfiam das políticas do Irã no Oriente Médio e do seu projeto de desenvolvimento de energia nuclear.

Uma outra conexão crucial que pode ser afetada devido a uma ação em Rafah é a relação entre Israel e Egito. Este último foi o primeiro país árabe a reconhecer Israel como um Estado.

Desde o começo do confronto presente, o governo liderado por Abdel Fattah al-Sisi tem se mostrado apreensivo quanto à hipótese de que o impacto da violência em Gaza possa acabar por atrair os combatentes e líderes do Hamas para a região do Sinai.

O Cairo desconfia dos integrantes do Hamas, um grupo que surgiu como uma extensão da Irmandade Muçulmana Egípcia e é tido como uma ameaça à sua estabilidade.

Além disso, no Egito existe uma preocupação em relação ao efeito que uma operação israelense em larga escala em Rafah poderia ter na situação humanitária.

Recentemente, várias pessoas na comunidade global têm manifestado preocupação com relação ao risco de centenas de milhares de palestinos refugiados em Rafah serem forçados a mover-se em direção à fronteira com o Egito. Em diversas ocasiões, o Cairo tem reiterado que não pretende receber refugiados palestinos em seu território.

O aspecto que mais preocupa Frank Gardner, da BBC, consiste neste ponto.

De acordo com estimativas de Israel, cerca de 100 mil residentes de Gaza podem ser afetados por uma possível ofensiva. Entretanto, agências de ajuda palestinas afirmam que esse número se aproxima de 250 mil. Além disso, muitos desses indivíduos já foram obrigados a deixar suas casas no norte do território.

Apesar de Israel ter justificado essa ação como uma ofensiva restrita a alvos específicos do Hamas em Rafah, há sempre a possibilidade de que ocorra uma intensificação da crise.

De fato, a organização chamada Jihad Islâmica, um outro grupo palestino armado que opera em Gaza em parceria com o Hamas, tem disparado projéteis contra o sul de Israel.

A investida de Israel também deixou em estado de cautela a Jordânia, o segundo país árabe vizinho com o qual Israel estabeleceu laços diplomáticos.

Durante um encontro na Casa Branca com Biden, o rei Abdullah 2º deixou claro que uma investida israelense em Rafah teria a possibilidade de expandir o conflito para outras áreas da região, o que aumentaria a probabilidade de um "novo massacre" ocorrer.

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