Morre J. Borges, mestre da xilogravura pernambucana, aos 88 anos
Faleceu na última sexta-feira, aos 88 anos, por motivos naturais, o renomado artista plástico José Francisco Borges, também conhecido como J. Borges, que era xilogravurista, cordelista, poeta e considerado um verdadeiro tesouro vivo de Pernambuco. Nascido em 1935, na cidade de Bezerros, em Pernambuco, o artista sempre manteve seu ateliê nesse local.
Conhecido por J.Borges, seu amigo Jô Oliveira, ilustrador e quadrinista de Pernambuco, elogia J.Borges como "o artista popular brasileiro mais conhecido". Jô destaca a humildade e a paciência do artista, que sempre demonstrou os materiais e técnicas utilizadas em seus trabalhos. Assim como J.Borges, o ilustrador também se inspira na cultura popular nordestina, principalmente no universo do cordel.
Conheci-o pela primeira vez nos anos 80. Ele residia em uma residência modesta e conduzia um veículo sem painel. Como instrumentos, utilizava uma faca de mesa com cabo e uma pequena lâmina de 2 ou 3 cm para realizar as gravuras", relembra Jô Oliveira.
Outro aspecto notável destacado por Oliveira é o fato de que J.Borges insistia em comercializar suas obras a preços acessíveis. Isso contribuía ainda mais para sua popularidade. Ele costumava dizer que o importante era vender em grande quantidade. Não era incomum, inclusive durante a pandemia, ver entrevistados na televisão tendo obras do artista adornando as paredes de suas casas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou seus sentimentos nas mídias sociais sobre o falecimento do artista.
Hoje nos despedimos de José Francisco Borges, conhecido como J. Borges, um dos maiores artistas da xilogravura do país. Ele começou a trabalhar ainda jovem no interior de Pernambuco, sem nunca ter frequentado escola de arte. Foi um grande orgulho poder apresentar sua obra ao Papa. Os meus pêsames aos familiares, amigos e admiradores deste talentoso artista brasileiro.
Para quem desejar conferir as obras de J.Borges, é possível visitar o Museu do Pontal no Rio de Janeiro. A mostra estará em cartaz até o dia 25 de março de 2025.
Em junho, Lucas Van de Beuque, responsável pela curadoria e direção da exposição, afirmou em entrevista à Agência Brasil que J. Borges é considerado um dos maiores artistas brasileiros da atualidade, com suas obras sendo exibidas em lugares como o Museu do Louvre, em Paris, França, além de espaços culturais no Brasil e em coleções particulares.
De acordo com o responsável pela curadoria, a mostra no Museu do Pontal revela a evolução do artista "desde os primeiros trabalhos com cordéis até suas últimas criações, como a Sagrada Família, presenteada ao Papa Francisco no ano passado pelo ex-presidente Lula, simbolizando a arte popular brasileira, e a obra O coração na mão, produzida recentemente e que tem sido um grande êxito", afirmou Van de Beuque.
As gravuras feitas por J. Borges conquistaram seguidores importantes, como o autor Ariano Suassuna. O artista recebeu diversos prêmios, como a medalha da Ordem do Mérito Cultural, o reconhecimento da Unesco na área de Ação Educativa/Cultural e o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.
J. Borges também apresentou seu trabalho em mostras realizadas nos Estados Unidos, França, Alemanha, Suíça, Itália, Venezuela e Cuba.
Também atuou como designer das capas de livros de renomados autores como Eduardo Galeano e José Saramago. Além disso, serviu de referência para produções cinematográficas e também para a apresentação da escola de samba Acadêmicos da Rocinha no ano de 2018.
Na juventude, J. Borges esculpia madeira para criar colheres de madeira e brinquedos artesanais, que vendia nas feiras locais. Foi nessa mesma época que começou a comercializar folhetos de literatura de cordel, atividade que se dedicou com mais afinco aos 21 anos.
Ele recebeu a medalha da Ordem do Mérito das mãos do presidente Fernando Henrique Cardoso em reconhecimento ao seu trabalho. Além disso, foi agraciado com o prêmio Unesco na área de Educação/Cultura e, no ano de 2002, foi um dos 13 artistas escolhidos para ilustrar o calendário anual das Nações Unidas.
No mês de maio de 2022, o artista esteve presente no programa Caminhos da Reportagem, transmitido pela TV Brasil, para falar sobre xilogravura. Assista ao episódio a seguir:
