Mauro Cid afirma à PF que entregou dinheiro a Jair Bolsonaro ‘em mãos’, diz revista

Jair Bolsonaro

Segundo uma matéria da revista Veja divulgada nesta sexta-feira, 15, o tenente-coronel Mauro Cid, que já foi ajudante do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou à Polícia Federal (PF) ter entregue uma parte do dinheiro obtido de forma ilegal com a venda de joias no exterior diretamente ao ex-líder do Executivo.

De acordo com os relatos fornecidos aos investigadores, Cid teria confessado seu envolvimento efetivo na negociação de dois relógios de luxo, um Rolex e um Patek Phillipe. O produto da venda ilegal teria sido transferido para a conta bancária de seu pai, o general aposentado Mauro Cesar Lourena Cid. Aparentemente, Bolsonaro teria recebido em dinheiro vivo o equivalente a US$ 68 mil em parcelas, com uma transferência ocorrendo nos Estados Unidos e a outra no Brasil.

As peças de joalheria foram ofertadas ao Presidente Bolsonaro em virtude de seu cargo como líder da República e, desta forma, deveriam ter sido acrescentadas ao acervo da União. No entanto, os itens foram sonegados das instâncias governamentais, adicionados ao estoque pessoal do ex-mandatário e transacionados com o propósito de obtenção indevida de lucro. Cid afirmou que considerava a comercialização das joias como algo imoral, porém não acreditava que essa prática se caracterizasse como ilegal.

As investidas para comercializar as joias foram interrompidas somente depois que o jornal Estadão divulgou, no mês de março, que indivíduos ligados ao presidente Bolsonaro haviam tentado ingressar ilegalmente no país portando um conjunto que incluía colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes, presenteados pelo governo saudita ao ex-mandatário e à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Segundo a publicação, o ex-assistente de ordens reportou que a sugestão de comercializar as joias surgiu para arcar com os custos legais do Bolsonaro. O comandante estava inquieto com a sua situação financeira, visto que já havia sido penalizado com inúmeras multas. O tenente-coronel explicou.

Ex-detento Participará De Delação Premiada

Prossegue após a divulgação comercial

No sábado, dia 9, Cid foi solto do Batalhão da Polícia do Exército em Brasília, local onde ficou detido desde maio deste ano. Sua liberação foi efetuada após a homologação de sua delação premiada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Dessa forma, o ex-assistente voluntariamente compareceu ao STF no dia 6 de agosto para comunicar sua intenção de ajudar nas investigações.

A colaboração de Cid pode auxiliar os detetives a preencherem lacunas e progredirem nas investigações mais delicadas sobre a participação de Bolsonaro nas vendas ilegais de joias. Além do escândalo do comércio proibido, o oficial de alta patente tem o potencial de auxiliar as investigações sobre grupos virtuais criminosos e enganos relacionados às carteiras de imunização.

"Cid Teve Acesso Livre Ao Planalto Na Gestão De Bolsonaro"

Durante o período de quatro anos em que Bolsonaro esteve à frente da presidência no Palácio do Planalto, Mauro Cid ocupou o cargo de chefe da ajudância de ordens do ex-presidente. Tal função é atribuída a um oficial que deve permanecer disponível ao presidente para auxiliá-lo em suas atividades, agindo como uma espécie de secretário pessoal do chefe do Executivo.

Durante esse tempo, o tenente-coronel desfrutou de autorização irrestrita para adentrar ao gabinete do presidente, ao Palácio da Alvorada e até mesmo ao quarto do ex-chefe do Executivo em instituições hospitalares, pós-procedimentos cirúrgicos.

No dia 3 de maio, Cid foi detido durante uma operação da PF que investiga a inclusão de informações falsas sobre vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. De acordo com a PF, os registros de imunização da esposa de Cid, Gabriela Santiago, do ex-presidente Bolsonaro e de sua filha Laura, de 12 anos, foram alterados pouco antes da viagem da família presidencial aos Estados Unidos, realizada em dezembro passado, após a derrota nas eleições.

O período de tempo subsequente ao evento recente ainda é uma incógnita e requer análise cuidadosa. É preciso considerar os possíveis desdobramentos e avaliar as consequências e impactos em diversas áreas. Não é possível inferir com exatidão quais serão as implicações futuras, mas é necessário estar preparado para enfrentar os desafios vindouros.

Depois que a Polícia Federal teve acesso às informações telemáticas de Cid, evidências sugeriram que Bolsonaro e seus aliados tinham pleno conhecimento das manipulações ilegais. O intuito, conforme indicado pelos investigadores, era obter benefícios desleais em situações nas quais a comprovação da vacinação contra a covid-19 era exigida. Os documentos que foram alterados seriam utilizados para driblar as restrições sanitárias que foram impostas tanto pelo Brasil quanto pelos Estados Unidos durante a pandemia.

Os trabalhos de Cid teriam beneficiado também Michelle Bolsonaro. Em uma conversa gravada pela PF entre Cid e uma assistente da ex-primeira-dama, foi mencionada a possibilidade de orientação para o pagamento de despesas de Michelle. Em áudios de WhatsApp, o ex-auxiliar demonstrou preocupação de que essa ação pudesse ser interpretada como uma fraude de "rachadinha", referindo-se a uma investigação na qual o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.

De acordo com um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), solicitado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) em 8 de janeiro, foi descoberto que Cid movimentou R$ 8,4 milhões em uma conta bancária durante três anos. Entre 2020 e 2022, foram depositados R$ 4,5 milhões em suas contas e R$ 3,8 milhões retirados, sem contar com transferências entre contas do mesmo titular. Esses números não coincidem com os valores mensais que o funcionário recebe. Cid afirmou à Receita Federal que tem uma renda tributável média de R$ 318 mil por ano. Ou seja, em três anos, a quantia depositada foi cinco vezes maior do que o seu ganho anual.

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