James foi protagonista na Argentina com 'nome diferente' e 'falso ...

17 Agosto 2023
James rodriguez

Rafael Valente, de São Paulo (SP)

16 de ago, 2023, 07:00

James Rodríguez deve ficar no banco de reservas na partida contra o Corinthians, no Morumbi, mas, após atuar por 36 minutos no último domingo contra o Flamengo, cresceu a expectativa para que ele dispute a partida de volta da semifinal da Copa do Brasil até porque o São Paulo precisa vencer o rival por dois gols de diferença para chegar à final. E o colombiano tem no histórico decisões.

Isso começou bem cedo na carreira dele. Ainda aos 18, ele vivenciou o risco de rebaixamento e a alegria ser campeão num mesmo ano. Ambas as situações foram com o Banfield em 2009. Detalhe é que ele saiu de uma situação de mera joia para o protagonista do time argentino.

Para entender essa mudança é preciso voltar no tempo e citar o técnico Julio César Falcioni. Foi ele quem proporcionou uma mudança radical na vida do Banfield e consequentemente na carreira de James.

O treinador chegou ao clube em março de 2009 para dirigir um time que não reagia no Clausura. A imprensa local apontava que antecessor dele, o técnico Jorge Burruchaga, tinha problemas de relacionamento com o elenco. O rebaixamento parecia ser consequência natural.

"Assumimos faltando sete partidas [na verdade, faltavam 12] para o final do Clausura [no primeiro semestre de 2009] e com o time muito ameaçado pelo rebaixamento. [Naquele momento,] James era um menino que havia sido promovido da base. Não me lembro bem se jogou muita vezes [o Clausura]. Lembro que somava alguns pouquíssimos minutos, mas escapamos do rebaixamento, veio o meio do ano e começamos uma nova pré-temporada. Aí James começou se destacar", disse Omar Piccoli à ESPN.

Assistente técnico de Falcioni, Piccoli tinha contato direto com James no treinamentos. Na época, sabia-se pouco sobre ele, que foi contratado por empréstimo do Envigado, da Colômbia, pouco depois de completar 17 anos. Tinha quase três anos de experiência como jogador profissional e algumas convocações para as seleções de base da Colômbia. Mesmo assim, ninguém imaginava seu talento.

Por isso o Banfield trabalhou para ajustar o elenco e não correr risco de queda no Apertura de 2009, cuja disputa ocorreria no segundo semestre daquele ano. James era apenas mais um no elenco...

"Houve um efeito psicológico importante para o segundo semestre com a incorporação de alguns reforços. Um ou dois nomes, acho. Trabalhamos seriamente e corrigimos os pontos fracos da equipe. Alteramos as posições de alguns dos jogadores e aí apareceu James Rodríguez como titular", disse Omar.

A mudança foi grande também porque o colombiano passou a jogar em uma função mais adequada para ele.

"Quando chegamos James estava jogando como, aquilo que chamamos na Argentina, enganche, um meia ofensivo, um típico 10. Nós o posicionamos como um volante externo. Um jogador defensivo quando o adversário tinha a posse de bola, e um jogador ofensivo quando a bola era nossa. Ele aparecia na esquerda, aí sim podendo jogar como enganche e se mover livremente", disse Omar.

James Rodríguez se adaptou bem. Dos 19 jogos da equipe no Apertura de 2009, atuou em 18, sendo 17 como titular. Marcou três gols e deu três assistências.

"Ele fez muitos bons, belos gols. Lembro de um já no Clausura [2010] no Clásico Del Sur. Ele recebeu a bola na esquerda, invadiu a área e finalizou na saída do goleiro. É um gol bem lembrado até hoje no Banfield, ainda mais quando se fala dos clássicos Banfield x Lanús. Em outra ocasião, jogamos contra o Vélez e tiveram que expulsar o jogador que o marcava porque para ele era realmente impossível parar James sem faltas. Isso por causa dos dribles, dos passes, das jogadas”, disse Omar.

Por causa do gol contra o Lanús, James foi a manchete do diário "Olé", o principal periódico esportivo do país, cujo título foi: "James Bondfield". Sua fama começou a ganhar o continente.

Pronúncia diferente

Durante a passagem pela Argentina, que durou exatamente dois anos e quatro meses, o colombiano teve sua identidade modificada.

Na Colômbia, o nome dele era pronunciado como "Râmes", mas os argentinos usavam a pronuncia mais parecida com a forma usada pela língua inglesa, isto é, "Djeimes".

Pode parecer um detalhe banal, mas o assunto chegou até ser abordado pela mídia local.

Numa reportagem do diário "Olé" em 2009, o colombiano disse que tudo se tratava de uma brincadeira dos companheiros, que, apesar das explicações dele, insistiam na pronúncia "Djeimes". "Eu sempre dizia que era 'Râmes', mas eles não davam muita bola", declarou na época.

"Eu não conhecia essa história, mas, é claro, seu nome começa com Jota e aqui pronunciamos o jota como 'Djeimes', não como 'Râmes'. Eram assim e assim ficou. Nada que o irritasse. Ele sempre parecia feliz. James tinha um perfil de fazer amizades e espírito de grupo", disse Omar Piccoli.

'Bolinha'

No Brasil, não foi a história do nome que ficou conhecida, mas sim uma outra. A de que o Palmeiras desistiu de contratar o jovem James Rodríguez porque Jorginho, então funcionário da comissão técnica fixa do clube, achou que ele tinha a forma física fora do padrão.

"Foi apenas um jogo do Banfield e ele foi trocado no intervalo. Permaneceu 45 minutos em campo. Tinha entre 17 e 18 anos e era uma ‘bolinha'", disse Jorginho ao ESPN.com.br, em reportagem publicada em setembro de 2014.

"Nós estávamos com dificuldade para conseguir garotos para o time sub-20 que iria disputar a Copa São Paulo [de 2010]. O nosso objetivo era tentar encontrar alternativas que valessem a pena para o ano seguinte e, claro, um ou outro atleta que servisse ao profissional naquele momento. Quem viu o James bastante foi um observador chamado Alex, que acompanhava as partidas pela internet e falou dele", explica Jorginho. "Um rapaz que estava me auxiliando me levou, então, para vê-lo. Ele não jogava no meio, talvez por ser novo, estar subindo, fazia o papel do atacante pela direita e o enganche era, na verdade, o [Walter] Erviti [que iria para o Boca Juniors]".

Quando Jorginho deu essa entrevista para a ESPN, James Rodríguez acabara de terminar a participação na Copa do Mundo do Brasil como destaque, o que fez o Real Madrid investir 80 milhões de euros para tirá-lo do Monaco. Na época, era o equivalente a R$ 241 milhões.

"[Quando fui ao Banfield, em 2009] Ele não era barato [para a idade dele]. Devia valer US$ 5 milhões na época. Ninguém em sã consciência iria recomendar pagar isso por um jogador tão jovem. Ele teria de ser observado em diversas condições durante três meses - atuando de dia, de noite, com o time saindo atrás no placar. Não daria para arriscar com tanto dinheiro. Nessa idade, é fácil demais se equivocar. No Palmeiras, tenho certeza que iam me matar, cara", disse Jorginho.

Omar que conviveu com James Rodríguez por mais de dois anos achou essa história divertida, mas explicou que James Rodríguez nunca teve problemas com a balança. O que acontece é que a fisionomia do jogador colombiano costumava enganar seus observadores.

"Não, não, ele não tinha problema de peso. Mas de rosto ele [realmente] parecia gordito [expressão que usamos na entrevista] e da cintura para baixo também. Mas quando ele tirava a camisa seu abdômen estava perfeito. Ele trabalhava muito. Todos os dias ele trabalhava as pernas e alguns músculos importantes. Então, de jeito nenhum ele era gordinho. Sim, sua aparência em seu rosto, que é igual a hoje, quando você vê talvez pareça gordo, por assim dizer, mas não era", disse Omar Piccoli.

O auxiliar técnico ressaltou que desde a aquela época James Rodríguez se destacava nos treinos.

"Ele era um ótimo profissional. Ele trabalhava muito. Ele trabalhava algo diferente todos os dias para progredir, para ser melhor. Então, se não eram finalizações, eram os passes. Se não fosse os passes, era a recepção. Se não fosse nada em campo, então trabalhava na academia. Fazia abdominais, trabalhava potência. Trabalhava tudo para ser melhor, para progredir dia após dia", completou Omar.

A própria trajetória de James Rodríguez comprava esse bom histórico. Em julho de 2010 ele foi vendido ao Porto, clube em que em três temporadas ele foi campeão de sete títulos, sendo três vezes do Campeonato Português. Foi valorizado para o Monaco e de lá foi em alta para o Real Madrid.

Depois, ele passou por mais clubes, somando 13 anos de carreira na Europa até chegar agora o São Paulo, onde foi recebido no aeroporto de forma alucinada. Tudo isso representa bem a expectativa dos torcedores para vê-lo em ação pelo clube tricolor em decisões --Copa do Brasil e Copa Sul-Americana.

"Ele teve uma carreira impressionante, realmente impressionante, bonita e cheia de futebol. Porque além dos times que ele jogou, que eram todos grandes times, ele também apresentou um futebol maravilhoso. Faz muito tempo que não o vejo, mas acredito que ele continue da mesma forma porque se não fosse assim não aguentaria tanto tempo jogando em alto nível como ele faz. E, bom, hoje ele estar em um dos grandes times do Brasil e do mundo realmente coroou uma carreira de aplaudir", disse Omar.

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