‘O Jesus que não se interessa pelas dores do mundo é um Jesus que serve ao capitalismo’, diz líder evangélico; assista
Nos séculos 3 e 4, com o intuito de distanciar a população de certas festividades pagãs, a Igreja Católica decidiu que o dia 25 de dezembro, que já era associado à celebração romana do deus Sol, passaria também a marcar o nascimento de Jesus Cristo. Com o passar do tempo, essa ideia se firmou, e atualmente a figura central da celebração foi ofuscada por outros personagens e práticas ligadas ao consumismo e às compras, resultando em uma adaptação da festividade religiosa ao contexto econômico e cultural atual.
De maneira semelhante à data, a figura de Jesus e sua jornada são influenciadas por contextos políticos, sociais e econômicos que frequentemente moldaram as representações de Cristo. Mas, afinal, quem foi Jesus e quais ensinamentos e práticas seus que podem ser aplicados nas políticas e lutas sociais contemporâneas?
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Para abordar o assunto, o programa de televisão Trilhas do Nordeste, da Brasil de Fato Pernambuco, conversou com Jackson Augusto, membro da coordenação nacional do Movimento Negro Evangélico (MNE) e comunicador na página “Afrocrente”, que integra fé, identidade afro-brasileira e a luta por justiça social. Segundo Jackson, as imagens de Jesus nos dias de hoje retratam um homem bem distinto do "Jesus que viveu na Terra, o Jesus de Nazaré".
O líder evangélico acredita que a interpretação teológica que separa Jesus do tema das desigualdades sociais ajuda a perpetuar as injustiças do sistema capitalista. "Esse Jesus que ignora o sofrimento do mundo e foca apenas na vida após a morte; o Jesus que não se preocupa com o presente, com o planeta, é um Jesus que beneficia o capitalismo. Trata-se de um Jesus que se alinha a um sistema que é injusto no aqui e agora", afirma Jackson Augusto.
“Essa abordagem teológica conta com recursos e apoio - até mesmo de editoras - e está presente nos principais centros de estudos religiosos. Por outro lado, a teologia que prioriza os necessitados, que apresenta um Jesus que chegou a este mundo desprovido de poder, um Jesus que não é ouvido nem visto, não encontra espaço nas grandes instituições de influência religiosa”, observa Augusto.
Veja a entrevista na íntegra.
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A esquerda e os protestantes.
A visão predominante no Brasil a respeito de Jesus e seu significado também tem sido influenciada pela atual polarização política no país. No cenário político brasileiro, Jesus tem sido utilizado tanto como um "cabo eleitoral" quanto para menosprezar segmentos da sociedade. Aqueles que promovem uma religiosidade combativa em relação a supostos adversários encontram na esquerda o desafio de estabelecer um diálogo com grupos vinculados ao protestantismo.
Em relação à conexão entre líderes religiosos fundamentalistas e políticos de extrema-direita, Jackson Augusto é claro: "não há como barrar esses líderes de se unirem a quem consideram conveniente." No entanto, ele ressalta que, do ponto de vista da esquerda, é essencial não ver os mais de 30% da população como um grupo homogêneo e facilmente influenciado pela direita.
"Existem mais de 60 milhões de evangélicos no Brasil. É um número expressivo de indivíduos que podem refletir e elaborar diversas ideias, cada um com sua própria perspectiva sobre o mundo. Frequentemente, tendemos a enxergá-los apenas como uma massa manipulável, esquecendo que são pessoas que raciocinam e estabelecem relações lógicas entre a política e suas vidas diárias", alerta.
O Trilhas do Nordeste é o programa de entrevistas da Brasil de Fato Pernambuco, que é exibido todas as segundas-feiras, às 19h45, na TVT São Paulo (canal 44.1) ou nos canais do Youtube do Brasil de Fato e da TVT.
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