Análise: realinhamento geracional mexe com as eleições nos EUA | CNN Brasil
Uma antiga regra no cenário político norte-americano diz que os eleitores de idade avançada tendem a optar pelo Partido Republicano, enquanto os mais jovens têm preferência pelo Partido Democrata.
Em 2020, a pesquisa de boca de urna revelou que Joe Biden, do partido democrata, ganhou a preferência dos eleitores com menos de 50 anos, enquanto o republicano Donald Trump conquistou a maioria daqueles com mais idade. A vantagem de Biden entre os eleitores jovens (com 65% dos votos na faixa etária dos 18 aos 24 anos) foi decisiva para superar a liderança de Trump, que obteve 52% do voto dos eleitores mais velhos, que compõem mais da metade do eleitorado.
No ano de 2016, Hillary Clinton foi vencida por Trump no Colégio Eleitoral, mesmo tendo alcançado mais votos populares que ele, porém a tendência de os eleitores mais novos apoiarem os democratas permaneceu. Os dados das pesquisas revelaram que Hillary obteve mais votos entre os eleitores que tinham de 18 a 44 anos, enquanto Trump foi favorecido pelos eleitores que possuíam mais de 45 anos.
No ano de 2012, mesmo tendo saído derrotado nas eleições, o político republicano Mitt Romney conseguiu um desempenho superior ao do candidato democrata Barack Obama entre eleitores com idade igual ou superior a 45 anos.
Desde 1988, os eleitores abaixo de 30 anos não têm eleito em grande número os membros do partido Republicano, período em que George H. W. Bush venceu Michael Dukakis, candidato democrata, com ampla margem. De outro lado, os eleitores com mais de 65 anos vêm se abstendo de escolher um representante democrata desde 2000, ano em que Al Gore, embora tenha conquistado mais votos que George W. Bush (candidato republicano), saiu derrotado nas eleições.
Contudo, as normas de outrora não parecem ser válidas nas eleições para presidente deste ano, em que os dois concorrentes são indivíduos idosos e a capacidade deles para governar se configura como uma das questões mais relevantes. Os eleitores sêniores tendem a favorecer Biden, enquanto os eleitores jovens estão se inclinando para Trump.
Um novo levantamento do Marist Poll realizado no indeciso estado da Pensilvânia evidenciou uma eleição acirrada em geral, em que Trump teve 47% e Biden 45%, uma discrepância dentro do limite de precisão.
A pesquisa revela que Trump está ampliando sua base de eleitores para além daqueles que se identificam como brancos e, entre os que têm menos de 45 anos, ele e Biden estão praticamente empatados. No entanto, a tendência é oposta entre os eleitores mais velhos, que ao invés de favorecerem Trump, estão quase divididos segundo a mesma sondagem.
Está se tornando uma característica prevalente em outros estados também. Conforme apontado por uma pesquisa nacional da Quinnipiac University divulgada em maio, Biden e Trump estão empatados na preferência de eleitores mais jovens, mas Biden apresenta uma dianteira considerável entre aqueles com 65 anos ou mais.
Embora haja disparidades nas descobertas das pesquisas, a inclinação geral entre eleitores de idades distintas representa uma mudança significativa em relação a resultados anteriores. Biden tem sido alvo de questionamentos acerca de sua idade, o que tem se infiltrado na sua campanha de reeleição e despertado apreensão entre os eleitores, conforme demonstram pesquisas de opinião.
Durante um evento de campanha em Wisconsin esta semana, a primeira-dama Jill Biden afirmou que é a idade de Joe, e não sua eficiência, que o torna um dos melhores presidentes da história. Ela está atualmente em uma viagem de três dias com o objetivo de conquistar o apoio dos eleitores mais velhos.
Os votantes mais idosos compartilham basicamente da mesma geração de Biden e Trump. Ambos os indivíduos vieram ao mundo na década de 1940.
De acordo com Jeff Zeleny e Eric Bradner, da CNN, os eleitores de idade avançada sobreviveram à Segunda Guerra Mundial e à Guerra Fria, períodos históricos que Joe Biden está tentando abordar ao retratar Trump como uma ameaça à democracia.
Também há menções de que, em 2024, os indivíduos conhecidos como “baby boomers”, ou seja, aqueles nascidos entre os anos de 1945 e 1964, formam uma maioria considerável entre os votantes idosos pela primeira vez. Essa alteração demográfica de grande apelo está sendo almejada pela campanha de Biden não só em Michigan, mas em todo o território nacional.
Na região de Michigan, Zeleny e Bradner mantiveram uma conversa com Linda Van Werden, uma corretora de imóveis que desistiu da aposentadoria para se envolver com a política somente após a eleição de Trump em 2016.
"Jamais imaginei que me tornaria uma das pessoas a empunhar um cartaz político ou a me engajar, porém não posso apenas ficar inerte enquanto tudo isso ocorre", afirmou.
Embora os eleitores mais velhos estejam, em sua maioria, apoiando Biden (enquanto os mais jovens estão se afastando), me surpreendeu constatar que muitos daqueles da terceira idade ainda tenham certa hesitação quanto à idade do candidato.
Em fevereiro, uma pesquisa conduzida pelo New York Times/Siena College revelou que cerca de 75% dos eleitores com 65 anos ou mais afirmaram que Joe Biden era demasiado idoso para exercer com eficiência a função de presidente, enquanto menos da metade dos entrevistados tinham a mesma opinião sobre Donald Trump. Esses resultados são semelhantes àqueles apresentados por toda a população.
No ano passado, Ronald Brownstein, um jornalista da CNN, notou que as pessoas mais velhas eram mais propensas a aprovar o desempenho de Joe Biden em seu cargo político. Ele também argumentou que algumas das vitórias políticas do presidente, como sua defesa pela redução de despesas com medicamentos no programa Medicare, tinham um forte apelo para a população idosa.
Independentemente da causa, se Biden quiser superar os entraves da sua idade para manter o seu cargo, precisará da ajuda de pessoas da mesma faixa etária.
Este texto foi originalmente produzido em língua inglesa.