Conheça a doença que provoca deformação corporal e é confundida com obesidade

Lipedema

Embora seja um distúrbio pouco conhecido pela maioria das pessoas, o lipedema é uma condição médica que atinge aproximadamente de 9% a 10% do público feminino adulto brasileiro, totalizando cerca de 5 milhões de mulheres.

Também conhecido como lipodistrofia dolorosa, o lipedema é uma condição crônica que se caracteriza pela presença de depósitos desproporcionados de gordura em diferentes partes do corpo.

O lipedema afeta os membros, principalmente as pernas, e ocorre em ambos os lados simultaneamente, resultando em inchaço e covinhas. Como resultado, a condição é frequentemente confundida com obesidade e celulite. Além de ser um problema estético significativo, isso também pode causar desconforto significativo.

Embora não seja um transtorno recente - cujo registro teve início na renomada Clínica Mayo, situada nos Estados Unidos, em 1940 - há ainda muito desconhecimento em relação à sua natureza.

O médico cirurgião Fabio Kamamoto, que foi um dos primeiros a tratar o lipedema, expressou pesar opinião de que até mesmo muitos profissionais da saúde não possuem conhecimento sobre a doença. Ele é o diretor do Instituto Lipedema Brasil, que foi criado para conscientizar as pessoas sobre a enfermidade.

A lipedema acarreta uma gordura distinta daquela presente no nosso corpo, em pacientes diagnosticados com essa condição.

De acordo com o cirurgião vascular Sergio Belczak, do Hospital Israelita Albert Einstein, os sintomas provocados por ela incluem dor, peso, sensibilidade exacerbada ao toque e o aparecimento de hematomas sem causa aparente. Em estágios avançados, a condição pode ocasionar restrições na mobilidade corporal e afetar o funcionamento do sistema linfático.

O Que Causa O Lipedema?

A causa exata do problema ainda é desconhecida pelos especialistas, porém é sabido que em dois terços dos casos há uma influência genética envolvida e que os hormônios femininos, tais como estrogênio e progesterona, desempenham um papel desencadeante para seu desenvolvimento.

Do mesmo modo, cerca de 90% dos casos se manifestam em mulheres e são, em geral, decorrentes de mudanças hormonais, como o uso de contraceptivos, gravidez, terapia de fertilidade e menopausa.

Para além das consequências físicas, o lipedema pode ocasionar transtornos psicológicos e psiquiátricos. Isso ocorre, já que, geralmente, as pacientes não obtêm resultados por meio de exercícios e/ou regimes alimentares, o que tende a deixar muitas pessoas decepcionadas ao não presenciarem transformações, inclusive mantendo bons hábitos para saúde.

De acordo com Kamamoto, mesmo as mulheres magras ou que emagreceram muito, têm uma condição dolorosa e que causa deformação progressiva dos membros, tão grave que, em alguns casos, as impossibilita de se movimentar.

Segundo a nossa clínica, entre 5% e 20% das pacientes que buscaram assistência já passaram por procedimentos cirúrgicos bariátricos e tiveram uma queda significante de peso, chegando a perder até 40 quilos. Contudo, é importante destacar que elas ainda mantém uma taxa elevada de gordura nas pernas e continuam a apresentar sintomas de dor e inflamação.

Adicionalmente, o especialista em procedimentos estéticos explica que a grande maioria dos pacientes enfrenta transtornos em relação à sua própria imagem e vive uma sensação de insatisfação corporal. Quando esses fatores se tornam associados entre si, podem culminar em doenças como anorexia, bulimia, depressão e surtos de ansiedade.

Lamentavelmente, não há um conjunto de regras universal para detectar a doença, e nem testes direcionados para identificá-la.

Por conseguinte, é de vital importância que uma avaliação seja realizada por um especialista médico em questão, a fim de examinar o histórico familiar da paciente, avaliar o desenvolvimento do mal e realizar um exame físico para verificar se existem nódulos, hipersensibilidade e perda de elasticidade do tecido adiposo. Estes fatores demonstram que o problema não está relacionado à obesidade.

Os peritos afirmam que a ausência de procedimento e da falta de familiaridade por parte de vários especialistas dificultam a conclusão do diagnóstico e o início do procedimento, o que é arriscado, dado que a condição continua a progredir.

Logo após a paciente obter o diagnóstico, ela é assistida por um grupo composto por diversos profissionais, como endocrinologista, ginecologista, nutricionista, cirurgião vascular, cirurgião plástico, psicólogo e psiquiatra, dentre outros.

Recomenda-se que a paciente não aumente seu peso e pratique atividades físicas de impacto reduzido, de preferência com o acompanhamento de um especialista em educação física.

As ações desenvolvidas na água são bastante aceitáveis, tendo em vista que não produzem efeito negativo e colaboram para a promoção da circulação.

A função de um fisioterapeuta é extremamente benéfica. Por meio de abordagens como a drenagem linfática, o enfaixamento compressivo e a implementação de meias de compressão ou botas pneumáticas, ele é capaz de aprimorar a circulação linfática e o fluxo sanguíneo que retorna ao coração.

As terapias com ondas de choque são uma opção viável para ajudar a melhorar a circulação e a romper as formações fibrosas formadas pela gordura.

A nutrição é um tema diferente e crucial para indivíduos que experimentam lipedema. Simplesmente diminuir a ingestão de calorias não é suficiente; é necessário aderir a uma alimentação que ajude a superar todos os aspectos da condição.

De acordo com a nutricionista Adriana Kachani, que é especializada em imagem corporal e transtornos alimentares, uma dieta adequada deve ser anti-inflamatória e ter baixo índice glicêmico para evitar a resistência à insulina. Além disso, é importante que a alimentação ajude a combater a retenção de líquidos e a recuperar o tecido conjuntivo. Kachani é colaboradora do Programa da Mulher Dependente Química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

A profissional de nutrição, frequentemente, opta por seguir a dieta do mediterrâneo, que se apoia na ingestão de alimentos frescos e não processados, tais como o azeite, frutas, verduras e cereais. Isso se deve ao fato de que a dieta contém gorduras saudáveis, proteínas magras e ingredientes com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.

Existem diversas opções de chás que promovem a circulação sanguínea e são anti-inflamatórios, tais como o chá de cavalinha, hibisco e gengibre. Além dessas opções, vale a pena consumir colágeno, vitaminas como a vitamina C e A, além de prebióticos e probióticos para melhorar o funcionamento do intestino.

"É crucial enfatizar a importância de limitar o consumo de álcool e alimentos processados nessa situação", ressalta.

Em casos em que a doença se encontra em um estágio avançado, o procedimento terapêutico pode abranger intervenções cirúrgicas.

Kamamoto, um cirurgião plástico, afirma que, embora existam algumas medidas que podem melhorar os sintomas, de acordo com o Consenso Americano de Tratamento de Lipedema, publicado em 2021, a única técnica efetiva para a remoção das células doentes é a cirurgia.

A operação diminui a massa dos membros em cerca de 40%. Algumas investigações mostram vários lucros em termos de qualidade de vida, com menos incômodo. A observação de indivíduos por até oito anos depois da intervenção expõe que tais vantagens persistem.

Este método é um tipo de procedimento de lipoaspiração especializado realizado por especialistas para tratar uma condição específica. Utilizando cânulas que succionam a gordura e fontes de calor, como o laser, a pele é encorajada a se aderir ao corpo, pois a retirada do tecido adiposo pode causar excesso de pele. O cirurgião vascular Belczak, do Einstein, explica essa técnica.

Obter um diagnóstico e tratamento para uma doença pode ser um desafio complicado para pessoas que têm condições financeiras para pagar por um plano de saúde ou atendimento particular, mas para aqueles que dependem do setor público de saúde, é ainda mais árduo.

Por essa razão, o Instituto Brasil Lipedema e demais organizações têm conduzido estudos referentes a essa questão, além de disseminar mais informações a respeito.

Belczak afirmou que muitas pessoas estão engajadas na pesquisa e estudo desse assunto, o que resulta em uma grande quantidade de argumentos e evidências que reforçam a necessidade de um tratamento adequado pelo Sistema Único de Saúde.

Confira sete sugestões do serviço de saúde britânico para perder peso de forma eficiente e saudável.

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