Macron parte para o “tudo ou nada“ contra a extrema direita na França | Blogs CNN | CNN Brasil

10 Junho 2024
Macron

A escolha do líder francês Emmanuel Macron de dissolver a Assembleia Nacional, que é a câmara inferior do Parlamento francês, foi amplamente considerada um movimento político de grande impacto na França. No entanto, a decisão não foi tomada por impulso. Macron sabia que precisava agir para reenergizar o seu governo, que tem sofrido derrotas repetidas para a extrema direita. Foi uma jogada de alto risco, que reflete a urgência da situação atual.

Macron optou por tomar uma decisão após os resultados das pesquisas de boca de urna nas eleições do Parlamento Europeu mostrarem que a lista de eurodeputados do partido de extrema-direita de Marine Le Pen, intitulado União Nacional, conseguiu um total de 32% dos votos, enquanto o partido centrista de Macron, conhecido como Renascimento, obteve apenas 15%. O terceiro lugar ficou com o partido Place Publique, de esquerda, que conseguiu uma porcentagem de 14%.

A extrema direita tem avançado não somente na França, mas em toda a Europa, aproveitando a insatisfação com a imigração, o crime e a crise econômica elevada.

Em virtude do fracasso, Macron discursou em escala nacional na noite do domingo (9) para anunciar a dissolução da câmara legislativa e o chamado de novas eleições. Ele declarou que a primeira votação terá lugar em 30 de junho e a segunda em 7 de julho, pouco antes dos Jogos Olímpicos, que começam em 26 de julho.

Ao declarar sua escolha, o líder da França admitiu a sua desvantagem. “Não seria justo agir como se nada tivesse ocorrido ao finalizar este dia.” Além disso, ele adicionou: “Mais que tudo, é um gesto de fé. Eu acredito em vocês, meus amados conterrâneos, na habilidade do povo francês de optar pela opção mais equânime para si e para as próximas gerações.”

Em resumo, Macron investe na esperança de que seu suporte seja fortalecido e expressa sua confiança na população francesa para assegurar esse resultado.

A razão pela qual a escolha foi considerada "destemida", "corajosa" e "muito arriscada" é porque nas duas últimas ocasiões, os franceses não cumpriram as expectativas de Macron.

Durante as eleições legislativas de 2022, o líder francês havia perdido sua maioria absoluta no parlamento. Desde então, enfrentou dificuldades na governança, como a Reforma da Previdência. Para conseguir aprovar o principal projeto de sua gestão, Macron foi forçado a usar o artigo 49.3 da Constituição, que dispensa a aprovação da Assembleia Nacional. Essa medida foi tomada porque a equipe do presidente temeu não ter o apoio da maioria dos deputados.

Agora, com o partido político liderado por Le Pen ganhando o dobro dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu, a falta de força do governo de Macron está evidente pela segunda vez.

De acordo com fontes próximas de Macron, o presidente já cogitava a dissolução da Assembleia Nacional seis meses atrás. Isso seria uma jogada audaciosa para revitalizar seu segundo mandato, uma vez que não possui maioria parlamentar absoluta, e para recuperar o controle político, em vez de assistir à lenta queda do macronismo nos próximos três anos.

Faltando três anos para encerrar seu mandato, Macron convocou os cidadãos franceses a confirmarem sua capacidade de liderar até as eleições presidenciais de 2027.

Desde a implantação da Quinta República, em 1958, a Assembleia Nacional da França já foi dissolvida pela sexta vez. Das cinco vezes anteriores, em quatro, a maioria presidencial foi confirmada.

Macron está fazendo uma aposta em um cenário político inédito, no qual a extrema-direita está ganhando força não apenas na França. As eleições parlamentares estão evidenciando que esse fenômeno se manifesta em diversos países europeus.

Os opositores do governo de Emmanuel Macron afirmam que ele não conseguirá alcançar o mesmo êxito que Charles de Gaulle em 1968, quando a dissolução parlamentar concedeu à liderança governamental a maioria absoluta após as manifestações estudantis de maio. Há o receio de que a situação possa acabar como em 1997, quando Jacques Chirac dissolveu o parlamento e os socialistas recuperaram o poder.

No ano de 1996, sabedor dos perigos que enfrentava, Chirac justificou sua escolha: "A dissolução jamais foi realizada por mera conveniência do presidente, e sim para solucionar uma crise política".

Caso Marine Le Pen conquiste a maioria parlamentar nas eleições, é improvável que Macron abdique de seu cargo. Todavia, a posição de primeiro-ministro seria perdida por seu governo e um “governo de coabitação” seria instaurado, que é um termo utilizado na França quando o presidente e o primeiro-ministro são oriundos de campos políticos diferentes.

Le Pen e Jordan Bardella, que lidera a lista da União Nacional, tentaram enquadrar as eleições europeias como um referendo sobre o mandato de Macron. Por sua vez, Macron eleva a aposta e convoca as eleições legislativas para o final do mês, de olho em mais apoio.

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