Josué Medeiros: Preocupação da esquerda com Marçal não deve se transformar em paralisia

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Marçal

O surpreendente avanço do postulante à prefeitura de São Paulo, o coach apoiador de Bolsonaro Pablo Marçal (PRTB), nas pesquisas eleitorais nas primeiras duas semanas de campanha gerou preocupação e até desespero. A chance de Marçal chegar ao segundo turno traz à memória as eleições de 2018, quando Bolsonaro foi eleito presidente, trazendo consigo todos os problemas políticos e sociais decorrentes desse resultado.

A aliança democrática, atenta ao crescimento do grupo bolsonarista na maior cidade do Brasil, identifica a necessidade de combater a aceitação de líderes da extrema-direita, como o candidato Marçal, e suas práticas criminosas visando atrair eleitores. No entanto, é crucial equilibrar esse alerta para evitar que o receio se torne paralisante. De acordo com as últimas pesquisas da Quaest e da FESPSP divulgadas recentemente, a tendência ainda aponta para uma possível vitória da esquerda, representada por Guilherme Boulos (PSOL).

De acordo com a pesquisa recente da FESPSP, divulgada em 26 de agosto, Boulos está na frente com 23,1% das intenções de voto, seguido por Ricardo Nunes (MDB) com 21,6%, Pablo Marçal com 16,8%, José Luiz Datena (PSDB) com 10,7% e Tabata Amaral com 8,6%. Em comparação com o mês de julho, Boulos teve uma queda de 2,7%, Nunes caiu 0,6% e Datena, 1,2%, todos dentro da margem de erro. Por outro lado, Marçal teve um aumento de 5,4% e Tabata, de 3,9%, ambos acima da margem de erro.

De acordo com o levantamento da Quaest, divulgado em 28 de agosto, Boulos teve um aumento de 19% para 22%, representando um crescimento que está dentro da margem de erro. Já Nunes apresentou uma queda de 20% para 19%, o que o fez cair do primeiro para o terceiro lugar. Por sua vez, Marçal teve um aumento de 13% para 19%, enquanto Datena teve uma redução de 19% para 12%, ambos os casos estando fora da margem de erro. Tabata também teve um aumento, de 6% para 8%, o que está dentro da margem de erro.

Esses estudos confirmam a mesma tendência vista nos levantamentos realizados pela Atlas e Datafolha na semana passada. A preferência por Boulos está firme, com 58% dos entrevistados afirmando que não mudariam seu voto de acordo com a pesquisa da Quaest, em comparação com 48% para Marçal e 44% para Nunes. A consolidação da candidatura de Boulos também é evidente no aumento de sua intenção de voto espontânea: de 18,5% em julho para 21% em agosto na FESPSP, e de 9% para 12% na Quaest.

O avanço de Boulos, apesar de estar dentro da margem de erro, se deu principalmente entre os eleitores de baixa renda, que representam a base do lulismo. Essa tendência provavelmente será reforçada com o início da propaganda gratuita na televisão e no rádio, bem como com a intensificação das atividades de campanha nas ruas.

Por outro lado, Marçal fortalece sua ascensão sobre o eleitorado da direita extremista. Ele conquistou os votos que pertenciam a Kim Kataguiri, que registrava 3% na pesquisa da Quaest em julho e 2,8% na pesquisa da FESPSP, além de atrair os votos bolsonaristas que estavam apoiando Nunes. As menções a Marçal na intenção de voto espontânea aumentaram significativamente, indo de 4% para 10% na pesquisa da Quaest e de 6,4% para 13% na pesquisa da FESPSP.

Marçal enfrentará o desafio de manter o crescimento de sua popularidade, mesmo sem presença na mídia tradicional e com suas plataformas digitais bloqueadas devido a suspeitas de práticas econômicas abusivas. O uso de notícias falsas como estratégia, além de resultar em punições legais, pode aumentar a sua rejeição entre eleitores que não fazem parte do grupo bolsonarista. Além disso, sua vida pessoal e negócios estarão sob cada vez mais escrutínio da imprensa e de seus oponentes, o que pode revelar aspectos negativos.

Segundo Nunes, a situação é preocupante. Se a votação fosse hoje, ele não estaria no segundo turno. Ele confiava na força da coligação composta por 12 partidos, no maior tempo de propaganda de TV e rádio e na ampla lista de candidatos a vereador, mas está enfrentando dificuldades com o crescimento de Marçal. Muitos candidatos a vereador estão se escondendo ou declarando apoio ao coach bolsonarista, enquanto a aprovação da administração de Nunes é limitada a um terço dos eleitores. De acordo com a pesquisa FESPSP, 52% dos entrevistados concordam que é preciso mudar o rumo da cidade.

Nos próximos 10 dias, a competição entre Nunes e Marçal na ala direita promete ser acirrada, chegando ao ápice na manifestação pró-Bolsonaro de 7 de setembro, onde Marçal deve se sobressair com o respaldo do presidente, enquanto Nunes corre o risco de ser desmoralizado.

Nesse ínterim, Boulos precisa seguir conquistando os eleitores que apoiaram Lula e Haddad em 2022, apresentando propostas que estejam alinhadas com a realidade dessas pessoas e com os avanços do governo Lula. Isso irá fortalecer sua posição como líder nas eleições de primeiro turno e abrirá caminho para a vitória no segundo turno.

Este texto não expressa obrigatoriamente o ponto de vista de CartaCapital.

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