Depoimento de Ronnie Lessa em julgamento abala parentes de Marielle e Anderson
Luyara Franco, a filha de Marielle, se retirou da audiência assim que Ronnie iniciou seu testemunho. Ela chegou a se sentir mal e retornou depois de uma hora.
Ágatha Arnaus, que é viúva de Anderson, desabou em lágrimas ao ouvir Ronnie dizer que não tinha a intenção de assassinar o condutor.
Vários familiares e amigos optaram por permanecer no corredor do 9º andar do Tribunal de Justiça, localizado no centro do Rio. A ministra Anielle Franco, que é irmã de Marielle, passou uma grande parte do tempo caminhando ao longo do corredor.
Acomodado em um banco, o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, sentia-se revoltado com a indiferença do ex-policia Ronnie Lessa.
"Este julgamento é crucial, pois pode marcar uma nova fase para o Rio de Janeiro. O que o processo sobre Marielle e Anderson revela é a podridão que tomou conta da cidade. O verdadeiro Escritório do Crime estava na Delegacia de Homicídios, onde assassinatos eram encarados como um 'trabalho', como Lessa mencionou em seu depoimento. Quantos outros 'serviços' Lessa já havia aceito?", indaga.
Conforme as apurações, no período de abril de 2017 a fevereiro de 2018, ou seja, durante 10 meses, Lessa realizou buscas sobre Freixo na web.
O autor confesso do assassinato de Marielle afirmou que era o seu alvo, mas mencionou a Edmilson de Oliveira, apelidado de Macale, que essa tarefa era uma "loucura". Macale foi assassinado em 2021.
Ao retornar ao plenário, a ministra Anielle posicionou-se em pé perto da entrada do 4º Tribunal do Júri, ao lado de Monica Benício, a viúva de Marielle, e sua sobrinha Luyara. Comovidas, elas tentavam compreender o motivo pelo qual Lessa estava descrevendo suas propriedades.
Ele chegou a afirmar que foram obtidos com muito esforço, o que deixou Marinete, mãe da vereadora falecida em março de 2018, bastante incomodada.
“Criminoso,” afirmou Marcelo Freixo.
Em relação às razões por trás do crime, Ronnie afirmou que Marielle se transformou em um "obstáculo" para aqueles que encomendaram o assassinato. Ele ainda compartilhou informações sobre a execução do crime, incluindo o instante em que o veículo pilotado por Élcio de Queiroz se alinhou para que ele efetuasse os disparos.
Em seguida, Ronnie se desculpou com os familiares das vítimas: "Aproveito este momento para, com total sinceridade e peso na consciência, solicitar perdão às famílias de Anderson, de Marielle, à minha mãe, dona Fernanda, e a toda a sociedade pelos tristes eventos que nos levaram a esta situação."
"Infelizmente, não é possível retornar ao passado, mas hoje me esforço ao máximo para aliviar a dor de todos, reconhecendo minha parte na situação e trazendo à luz todos os envolvidos nessa narrativa, do princípio ao fim. Sinto que preciso fazer isso para aliviar a carga que pesa sobre minha consciência. Tenho plena consciência de que nunca poderei reverter a perda das pessoas, mas é fundamental que eu peça desculpas, inclusive à minha família", completou.
"Conforme mencionei antes, eu fiquei completamente obcecado por aquilo (...) a minha parte era de R$ 25 milhões. Eu poderia ter dito: 'É o Papa' e, por conta da minha obsessão, poderia acabar fazendo algo contra ele," comentou Ronnie.
O caso de Marielle finalmente vai a julgamento após um prolongado período de 6 anos e 7 meses.