Entenda a ligação da família Brazão com o caso Marielle Franco

Marielle

Na terça-feira (23), o Intercept Brasil divulgou que Ronnie Lessa, um antigo policial militar acusado de assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes, declarou que Domingos Inácio Brazão, um conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, foi um dos instigadores do ataque que resultou na morte da vereadora e do motorista.

O testemunho foi prestado à Polícia Federal e aguarda a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), tendo em vista que Brazão possui o foro privilegiado. Lessa encontra-se detido desde março de 2019 e já foi sentenciado em julho de 2021 por obstruir evidências relacionadas ao caso Marielle Franco.

Em seu último ato à frente da Procuradoria Geral da República (PGR) em 26 de outubro de 2019, Raquel Dodge apresentou uma acusação ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). A acusação apontava Domingos Brazão, um ex-deputado estadual, como o mandante do assassinato de Marielle e Anderson.

Durante o mesmo episódio em que Brazão foi denunciado, Dodge sugeriu que a questão fosse federalizada. Entretanto, a sugestão só foi levada em consideração durante o mandato do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso se deu graças à influência de Flávio Dino, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, que supervisionou a transferência do caso da investigação do Rio de Janeiro para a Polícia Federal (PF).

A preocupação da família de Marielle Franco era que membros de grupos paramilitares interferissem nas investigações, prejudicando o avanço das apurações sobre o assassinato da vereadora. Isso daria aos criminosos o tempo necessário para se desfazerem de qualquer prova que pudesse conectá-los à execução.

Em 2008, Domingos Brazão foi mencionado no exame conclusivo da CPI das Milícias, que foi presidida por Marcelo Freixo, um vereador do Rio de Janeiro pelo PSOL naquela época, que agora é chefe da Embratur. Durante uma década, Marielle Franco trabalhou no escritório do ex-crente e, enquanto representava o seu mandato, teve uma contribuição significativa no comitê.

Segundo a investigação, uma das possíveis razões para o crime seria o envolvimento de Freixo e Marielle na CPI das Milícias. Essa hipótese foi apresentada em maio de 2020 pela ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, durante as discussões a respeito da possível federalização do caso.

A juíza declarou que existe a hipótese de Brazão ter agido com intuito de se vingar, levando em conta a participação do ex-deputado Marcelo Freixo nas denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal, que resultaram na sua remoção do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.

Saiba mais: Bolsonaro concede passaporte diplomático a familiares de indivíduo investigado pela morte de Marielle.

Quando Dodge fez a denúncia, o líder do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP) era o investigador Antônio Ricardo Nunes. Ele não negou a hipótese de que Brazão pudesse ter ordenado o crime por vingança. "Essa é uma pista que também seguiremos", afirmou o oficial.

No ano de 2020, os investigadores que trabalhavam no caso, juntamente com os promotores e policiais civis, conseguiram detectar a presença de uma "bancada da milícia" na Casa dos Vereadores do Rio de Janeiro. Dentre os políticos identificados, encontrava-se Chiquinho Brazão, membro do partido União Brasil e irmão de Domingos.

Chiquinho Brazão foi nomeado secretário de Ações Comunitárias do município do Rio de Janeiro em outubro de 2023 e nesta ocasião esteve acompanhado do prefeito Eduardo Paes. A foto do momento foi compartilhada no Instagram.

Quando Marielle Franco foi morta, Chiquinho Brazão estava no cargo de vereador. Atualmente, ele é o secretário de Ações Comunitárias da Prefeitura do Rio de Janeiro. Conforme apontado por um relatório da Polícia Federal em 2019, os indícios sugeriam que o assassinato esteve relacionado a uma disputa eleitoral.

No relatório apresentado, a Polícia Federal evidencia que Marielle Franco obteve uma quantidade significativa de votos nas localidades de Vargem Grande, Vargem Pequena, Recreio, Barra e Camorim durante as eleições de 2016. Essas regiões são controladas pela milícia e são consideradas a base eleitoral de Chiquinho e Domingos Brazão.

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