"Quase sete anos e não há normalidade", diz assessora de Marielle
A jornalista Fernanda Chaves foi a primeira a depor no julgamento do caso Marielle, que teve início nesta quarta-feira (30), no Rio de Janeiro.
Os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz são acusados de assassinarem a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018. Ambos estão detidos desde 2019 e admitiram a culpa.
Fernanda é a única pessoa que sobreviveu ao ataque e prestou esclarecimentos na qualidade de vítima. Ela atuava como assessora de Marielle e estava no veículo em que a vereadora e o motorista foram assassinados. Por isso, compartilhou com o júri como ocorreram os momentos que antecederam o duplo homicídio.
Ao ser indagada pela promotoria sobre a atuação da vereadora, ela afirmou que um dos temas defendidos por Marielle era o direito à habitação. A argumentação da acusação sustenta que o assassinato de Marielle pode ter sido encomendado em razão da sua oposição à regularização de áreas controladas por milícias.
Marielle sempre foi, fundamentalmente, uma defensora dos direitos humanos. Nesse contexto, sua preocupação com a proteção do direito à moradia era imensa. A luta por habitação foi uma das bandeiras que Marielle levantou mesmo antes de assumir o cargo de vereadora. Por isso, contava com uma equipe de assessoria dedicada a essa questão. A presença dessa assessoria voltada para temas de urbanismo se devia ao fato de que essa causa era extremamente significativa para ela.
Fernanda recordou que sua vida se transformou por completo após o ataque.
Embora já tenham se passado quase sete anos desde aquele atentado, a situação ainda não é normal. Eu precisei deixar o país. Recebi a orientação para sair da minha casa imediatamente. Acabei saindo de lá dois dias e meio depois, acompanhada pela minha família: meu marido e minha filha, para aguardarmos o processo da Anistia Internacional, que ofereceu acolhimento fora do Brasil. Meu marido teve que fechar o escritório e me acompanhar, interrompendo seu trabalho naquele instante para se dedicar a resolver nossas vidas. Eu estava completamente devastada emocionalmente, com uma filha de seis anos que estava na escola, no ano em que ela estava aprendendo a ler e escrever. Naquele dia, ela se despediu dos amigos e não voltou no dia seguinte.
Serão ouvidas ao todo nove testemunhas, sendo sete a favor da acusação e duas em defesa de Ronnie Lessa. A defesa de Élcio de Queiroz optou por não convocar testemunhas para depor.
Os dois réus estão acompanhando o julgamento por meio de videoconferência. A previsão é de que a sessão do tribunal do júri se estenda por, no mínimo, dois dias.
Lessa e Queiroz realizaram uma delação premiada, na qual identificaram os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão como os responsáveis pela ordem do crime. Além disso, acusaram o ex-comandante da polícia civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, de ter facilitado o assassinato e de ter obstruído as investigações. Os três permanecem detidos e enfrentarão um julgamento em um processo distinto no Supremo Tribunal Federal.