Quem foi Mario Molina, o químico que ajudou a salvar a camada de ...

19 Mar 2023
Mario Molina

O Doodle do Google deste domingo (19) celebra o 80º aniversário do falecido químico Mario Molina, que ajudou a descobrir que os clorofluorcarbonetos (CFCs) podem destruir a camada de ozônio da Terra, bem como a existência do buraco da ozonosfera na Antártida.

Molina é uma figura “notável no mundo da química e da ciência ambiental”, segundo explica o Google Discovery. “Ele é um dos pesquisadores que descobriram como certos produtos químicos estavam afetando a camada de ozônio da Terra, que é crucial para proteger a vida no planeta dos raios ultravioleta prejudiciais”, afirma o site.

Do banheiro ao Nobel

O mexicano nasceu na Cidade do México em 19 de março de 1943. Desde criança, Molina mostrou grande interesse em ciência. Ele até transformou seu banheiro em um laboratório improvisado para realizar experimentos.

O jovem de 22 anos se tornou engenheiro químico formado pela Universidade Nacional Autônoma do México em 1965. Ele posteriormente completou estudos de pós-graduação na Universidade de Freiburg, Alemanha (1967) e concluiu um doutorado em Físico-Química pela Universidade da Califórnia, Berkeley, nos Estados Unidos (1972).

Cerimônia do Prêmio Nobel - Estocolmo, Suécia, 10 de dezembro de 1995 — Foto: Centro Mario Molina

Conforme o Centro Mario Molina, o cientista pioneiro foi um dos principais pesquisadores do mundo em química atmosférica. Em 1974, foi coautor, junto do químico estadunidense Frank Rowland, do artigo original que previa o afinamento da camada de ozônio devido à emissão de certos gases industriais, os clorofluorcarbonetos (CFCs), que lhes renderam o Prêmio Nobel de Química em 1995.

Graças ao trabalho, as Nações Unidas adotaram o Protocolo de Montreal em 1987, um tratado internacional que proibiu a produção de muitos produtos químicos prejudiciais à ozonosfera.

Enfrentando a indústria

Conforme contou Molina ainda vivo em entrevista ao O Eco em 2006, na época anterior ao seu estudo, não se acreditava que havia nenhum efeito nocivo dos CFCs, que eram muito utilizados.

“Eles tinham substituído gases de refrigeração tóxicos, e também eram usados como propelentes para latas de spray”, disse o químico. “Eles eram tão estáveis que circulavam ao redor do globo terrestre. Era possível medir quantidades muito pequenas, até mesmo no hemisfério Sul, apesar da maior parte das emissões vir do hemisfério Norte.”

Os especialistas em processos atmosféricos que tinham algum conhecimento de química aceitaram a ideia rápido, embora fazendo perguntas e refinando questões. Mas foi a comunidade científica mais ampla que questionou os resultados.

“Cientistas normalmente são céticos e, portanto, essa reação foi natural. Alguns até achavam que o que nós queríamos era criar notícia, mas é claro que não era essa a ideia”, disse o químico.

Mario Molina e sua equipe recorreram à imprensa para divulgarem resultados. No começo, não deu muito certo, pois eles estavam falando de gases invisíveis, os CFCs, que estavam afetando uma camada também invisível, que nos protege de raios igualmente não enxergados por nós, os ultravioleta.

“Mas nós conseguimos logo no começo que Estados Unidos e Canadá proibissem o uso desses compostos nas latas de spray”, recordou o cientista. “Isso foi no começo, mas havia oposição da indústria química, que alegava que nada havia sido provado”.

Mario Molina recebe Medalha da Liberdade em novembro 2013 — Foto: Centro Mario Molina

O que ajudou a comprovar o perigo representado pelos CFCs foi a descoberta do buraco do ozônio sobre a Antártida. De acordo com Molina, nas altitudes onde este último gás é mais abundante, nos meses da primavera, uma parte da camada sobre o continente desaparecia completamente.

“Mais de 99% do ozônio sumia. Inicialmente uma fração da comunidade científica acreditou que fosse um fenômeno natural”, disse o pesquisador. “Era tão espetacular que achavam que não podia ter nada a ver com os CFCs. Mas experimentos subsequentes estabeleceram muito claramente que eram de fato os CFCs que estavam causando isso”.

Durante sua carreira, Molina trabalhou em várias universidades e instituições, incluindo a Universidade da Califórnia, Berkeley, e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, entre 1989 a 2004.

Ele ainda foi membro da Academia Nacional de Ciências e do Instituto de Medicina dos Estados Unidos e, por oito anos, foi um dos 21 cientistas que serviram no Conselho de Assessores em Ciência e Tecnologia (PCAST) do presidente Barack Obama; ele já havia estado no mesmo conselho que o presidente Bill Clinton.

Por seu trabalho e contribuição para a ciência, Molina recebeu inúmeros prêmios além do Nobel, incluindo mais de 40 doutorados honorários, o Prêmio Tyler de Energia e Ecologia em 1983 e o Prêmio Sasakawa das Nações Unidas em 1999.

O cientista emblemático morreu em 7 de outubro de 2020, aos 77 anos. Mas seu legado continua por meio do Centro Mario Molina, fundado por ele em 2004. A organização promove a sustentabilidade e a proteção ambiental por meio da ciência e da educação no México.

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