'Megalópolis' é megalomaníaco, autoindulgente, teatral demais e uma experiência incrível; g1 já viu

Megalopolis

Para tornar seu sonho antigo uma realidade, o cineasta conhecido por obras-primas como "Apocalypse Now" (1979) e "Drácula de Bram Stoker" (1992) está usando recursos próprios para cobrir um orçamento aproximado de US$ 140 milhões.

Liberado das limitações das exibições de teste e da aversão ao risco dos diretores de grandes estúdios, Coppola produz uma obra que pode não ter a mesma eficiência de um filme convencional, mas esse não aparenta ser o seu propósito.

A obra apresenta uma estrutura irregular, com performances e diálogos amplificados, além de várias falhas técnicas. No entanto, diferentemente de muitos de seus pares, em nenhum momento pode ser considerada monótona – alguém mencionou "Coringa: Delírio a dois"?

"Megalópolis" chega às telas do cinema brasileiro nesta quinta-feira (31), apresentando uma experiência intensa e sem limites, explorando as aspirações e anseios de um grande artista. A ausência de limites resulta em vários desafios, e, em certos momentos, fica complicado discernir se a plateia ri da obra de Coppola ou se se une a ele em sua visão.

Quem se importa? Ir ao cinema para assistir a um filme é, sem dúvida, uma experiência singular – é uma pena que o apenas aceitável "Venom: A última rodada" tenha dominado as maiores telas.

Confira o vídeo promocional de 'Megalópolis'.

O Que Pertence A César

Motivado pela frustrada tentativa de golpe de um senador romano ocorrida décadas antes de Cristo, Coppola narra a trajetória de decline de uma versão dos Estados Unidos que se apresenta como Nova Roma.

Em um futuro breve da narrativa, um tipo de arquiteto estatal (Adam Driver) confronta políticos, banqueiros e suas emoções internas na busca pela construção de uma cidade ideal.

Da mesma forma que acontece com a função do protagonista, há uma escassez de explicações ou contextualizações – essa é uma das belezas da "fábula", conforme descreve o próprio diretor da obra.

Em uma grande ironia, a narração com a voz poderosa de Laurence Fishburne (o Morpheus de "Matrix") acaba gerando mais confusão do que clareza.

Giancarlo Esposito em uma imagem do filme 'Megalópolis' — Foto: Divulgação

Com o passar do tempo, contudo, o espectador mais descontraído percebe que é mais vantajoso desistir de procurar por indícios ou interpretações e simplesmente se entregar à montanha-russa criada pelo diretor.

Aqueles que conseguem têm a oportunidade de desfrutar de uma das experiências mais divertidas do ano – se não, as duas horas e 18 minutos podem parecer eternas.

Assim como a emoção de um parque de diversão, a construção da história é instável e repleta de momentos de altos e baixos. Há também um toque de circo nas atuações e nos diálogos exagerados.

Superada a estranheza inicial, a quase totalidade do elenco – que inclui desde Driver, da mais recente trilogia de "Star Wars", até Giancarlo Esposito, de "Breaking Bad", e Aubrey Plaza, de "White Lotus" – explora o absurdo para oferecer atuações indiscutivelmente lúdicas.

A principal exceção é Nathalie Emmanuel, conhecida por seu papel em "Game of Thrones". Embora seja uma das personagens principais, a atriz britânica não demonstra a mesma amplitude de atuação que seus colegas, parecendo estar sempre um ou dois níveis abaixo deles.

Aubrey Plaza em uma imagem de 'Megalópolis' — Foto: Divulgação

Apesar de contar com um orçamento de filme de grande sucesso, os setores de arte e efeitos visuais também enfrentam dificuldades, possivelmente devido ao modo de filmar do diretor, que é reconhecido por sua abordagem mais envolvente – e, por vezes, resistente – em vários elementos da produção.

Cenários que buscam simular uma aparente riqueza e modernidade em um ambiente simples e um tanto vazio são frequentes e, sem exceção, despertam um certo desânimo, que só é superado por sequências grandiosas afetadas por efeitos visuais exagerados.

No final, até os erros se tornam parte, quase de forma involuntária, da essência kitsch da película. Tudo tem um toque de ridículo, um ar de improviso, é completamente exagerado, mas incrivelmente divertido.

"Megalópolis" é a narrativa sobre o anseio utópico de um artista apaixonado, que ignora aspectos como fronteiras ou até mesmo a resistência de outros para realizar seu projeto idealizado – e Coppola consegue transmitir isso na tela de uma maneira que apenas um grande mestre poderia.

Cartão de avaliação crítica G1 — Imagem: G1

Imagem de 'Megalópolis' — Crédito: Divulgação

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