Clínica onde empresário morreu durante ressonância magnética é alvo de ação na Justiça por outra morte
Fábio realizou um exame de cabeça na clínica Mult Imagem, localizada no bairro Vila Mathias, no dia 22 do mês passado. De acordo com a sua esposa, uma médica da unidade informou que ele teve um infarto fulminante. No entanto, um laudo do Serviço de Verificação de Óbito (SVO) de Santos classificou a morte como "suspeita", pedindo a conclusão do Instituto Médico Legal (IML), que ainda está em processo.
Patrik do Nascimento Silva faleceu após realizar uma ressonância magnética na coluna em 2021. Em entrevista ao g1, sua esposa, a confeiteira Maria Aparecida Dias de Araújo, de 50 anos, revelou que a repercussão da história de Fábio reacendeu suas emoções em relação à morte do marido.
Contactada pelo g1, a clínica Mult Imagem não se pronunciou até o fechamento desta matéria.
Patrik do Nascimento Silva, de 44 anos, faleceu após realizar uma ressonância magnética em Santos (SP) — Foto: Acervo Pessoal
O incidente aconteceu em 14 de maio de 2021 e foi oficialmente registrado pela Polícia Civil como uma morte sob suspeita. Em razão disso, o corpo do condutor passou por uma autópsia no Instituto Médico Legal (IML), que indicou as causas do óbito como "doenças cardíacas, inchaço nos pulmões e obesidade".
A viúva, no entanto, acredita que houve negligência por parte da Mult Imagem. De acordo com ela, Patrik tinha diabetes e não existem evidências de que a clínica tivesse realizado os procedimentos adequados antes da sedação. Além disso, segundo Maria, foi ela quem percebeu que o marido estava se sentindo mal após o exame e acionou a equipe médica.
Maria protocolou um pedido de reparação por danos morais na Justiça, solicitando a quantia de R$ 75 mil. Conforme informou seu advogado, Sérgio Zagarino Junior, o processo foi iniciado em agosto de 2022 e ainda está em tramitação, ou seja, à espera de decisão. Ele destacou que existe um laudo pericial que é favorável à viúva.
"A avaliação antes da anestesia ocorreu durante o exame, mas os exames complementares necessários não foram requisitados. Nessa questão, o Réu não seguiu as boas práticas médicas, pois falhou em cumprir com o dever de fornecer informações adequadas e de pedir os exames necessários", destaca o laudo assinado por um médico especialista.
Patrik do Nascimento e Maria Aparecida estavam juntos há 12 anos — Imagem: Acervo Pessoal.
Segundo a viúva, um médico recomendou a realização de uma ressonância magnética da coluna de Patrik após ele sentir dores na região, em abril de 2021. Como o motorista sofria de claustrofobia [medo de espaços fechados e com ventilação limitada], foi sugerida a sedação.
Em entrevista ao g1, Maria destacou que o esposo já havia realizado exames anteriores sob sedação e nunca enfrentou contratempos. Ele tinha diabetes e era obeso, mas conforme ela, utilizava medicamentos e estava em tratamento.
No dia da avaliação, a confeiteira acompanhou Patrik até a clínica em Santos. O homem estava em jejum, mas fez um teste de glicemia antes de deixar sua casa em Guarujá (SP). "Estava tudo dentro dos padrões e seguimos em frente", recordou Maria.
Ela comentou que aguardou com ele por um período na clínica até que fossem chamados para preencher o formulário de anamnese. Depois disso, Patrik foi convocado para a sala.
Depois de um período sem atualizações, a confeiteira indagou a uma funcionária sobre a situação do marido, que garantiu que o exame havia sido realizado. "Eu esperei, mas a demora começou a me causar uma inquietação, pois percebia que havia algo fora do normal", comentou Maria.
Após algum tempo, ela foi convocada para se juntar ao motorista na sala de descanso. Contudo, a confeiteira ficou chocada ao ver como estava o estado do marido.
A mulher relatou que perguntou a uma enfermeira se a condição era comum, e recebeu a informação de que se tratava de um efeito da anestesia, mas que poderia tentar despertá-lo. A confeiteira seguiu a instrução, mas após dez minutos tentando chamar o homem, questionou a profissional sobre a possibilidade de medir a glicemia, já que ele era diabético.
"Uma jovem que estava prestando atendimento a um menino virou-se para trás. Assim que ela se virou, saiu da sala e retornou acompanhada de um médico," recordou Maria, que foi rapidamente retirada do local.
Após cerca de 40 minutos sem receber notícias do esposo, conforme descreve o relato, a confeiteira começou a contatar familiares, expressando sua preocupação de que algo estivesse errado, até que foi chamada novamente e, dessa vez, recebeu a notícia sobre o falecimento do motorista.
De acordo com a viúva, o médico da clínica solicitou que o profissional do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) declarasse o falecimento, mas ele se negou a fazê-lo. Assim, a polícia foi chamada e o incidente foi registrado como "morte em circunstâncias suspeitas" na Central de Polícia Judiciária (CPJ) do município.
Segundo a confeiteira, a clínica não estava preparada para realizar esse tipo de exame, já que não possuía um desfibrilador na época. Além disso, ela afirmou que não foi contatada pela unidade.
Patrik do Nascimento Silva deixou dois filhos de seu casamento anterior e sua esposa — Foto: Arquivo Pessoal
A doceira estava em um vínculo de 12 anos com Patrik, que deixa dois filhos de outro casamento e estava à espera de adoção. "Meu marido tinha 44 anos, repletos de aspirações e projetos", disse a mulher.
Fábio Mocci Rodrigues Jardim faleceu aos 42 anos em Santos, São Paulo — Foto: Acervo Pessoal e Mult Imagem
A comerciante relatou que o exame estava agendado para o meio-dia da terça-feira (22). No entanto, conforme ela, o marido só foi atendido às 14h. Sabrina mencionou que o parceiro não reclamou de fome, mesmo após ter passado oito horas em jejum. "Levou muito tempo, foi uma grande demora. Mas ele ficou calmo, esperando", afirmou.
Sabrina relatou que saiu da clínica para almoçar nos andares de baixo do edifício assim que seu marido foi atendido. Ela mencionou que retornou à unidade em menos de meia hora e questionou uma das funcionárias sobre o estado do esposo. "Ela respondeu que estava tudo bem, que ele estava realizando o exame, um pouco agitado, mas dentro do normal", recordou.
Fábio Mocci Rodrigues Jardim deixou duas filhas, uma com 6 anos e outra com 14 — Foto: Arquivo Pessoal
Conforme a narrativa, a empresária permaneceu na clínica esperando a conclusão do exame. Logo após indagar sobre a situação do marido, ela notou uma "agitação incomum" de pessoas que entravam e saíam do ambiente de forma apressada. Sabrina voltou a perguntar sobre o seu parceiro.
Depois de cerca de 40 minutos de "stress e apreensão", Sabrina avistou dois membros da equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) se dirigindo à sala de ressonância. Diante disso, ela questionou mais uma vez sobre a situação.
A comerciante presenciou a blusa do esposo ser cortada para os primeiros atendimentos, mas logo recebeu a notícia do falecimento dele devido a um infarto agudo. A mulher relatou que sua mãe e uma amiga chegaram ao local logo em seguida, assim como a polícia.
"Permanceram nas proximidades para saber o que estava ocorrendo. Eu não consegui suportar, apenas chorava”, recordou. Ela complementou que precisou se dirigir à delegacia para formalizar a ocorrência, enquanto o corpo do marido foi levado ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO), que emitiu um relatório sobre a morte suspeita.
No relatório, foi mencionado que a instituição considerou "a realização de uma autópsia e de testes toxicológicos" feita por um especialista forense como "uma medida cautelosa e imprescindível". "Devido à exposição a outras drogas, remédios e substâncias biológicas, que não foram especificadas, e com a intenção não identificada - no domicílio".