Por que o nosso Natal permanece 'europeizado'? Historiador aponta falta de protagonismo popular

Natal

As celebrações que se tornaram mais brasileiras foram aquelas em que as pessoas das classes populares tiveram participação ativa.

Um indivíduo caracterizado de Papai Noel caminhando em uma rua iluminada pelo sol ou uma representação artificial de uma árvore de Natal distante do seu habitat original. Tais exemplos ilustram a incompatibilidade existente entre as tradições e a natureza brasileira em contraponto aos símbolos e ideais natalinos.

A ausência de um processo de adaptação cultural do Natal no Brasil evidencia, segundo o historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr., a nossa condição de país subordinado ao processo colonizador. O pesquisador aponta que a não adaptação da celebração natalina em solo brasileiro se deve, em grande medida, a fatores sociais.

Segundo o historiador no programa Bem Viver desta segunda-feira (25), por conta dos altos custos associados às celebrações envolvendo essa data, durante muito tempo o Natal se tornou uma celebração restrita às camadas mais abastadas da sociedade, em sua maioria membros da classe média e alta.

Em oposição a isso, Durval Albuquerque Jr. declara que o São João e o Carnaval apresentaram circunstâncias distintas quando se trata das novas interações no solo brasileiro.

As celebrações que incorporaram elementos brasileiros foram aquelas em que as classes populares desempenharam um papel ativo e participativo, incluindo descendentes de povos indígenas e africanos. Um exemplo disso é o Carnaval.

Como ilustração, o investigador destaca que nem todas as pessoas conseguem adquirir as "demandas" da refeição de Natal, ao passo que os alimentos tradicionais do São João são mais viáveis.

Estes são dilemas significativos numa nação muito afetada pela carência, como a nossa. Comemorar o Natal é muito mais desafiador. Então, o que as pessoas menos abastadas fazem durante esta época? Em geral, acabam por celebrar como um evento corriqueiro. É uma ocasião para dançar, beber e comer o que têm ou lhes é possível obter. Portanto, o Natal não é exatamente uma celebração popular", declara.

De acordo com o historiador, as festas de carnaval no Brasil passaram por uma profunda transformação devido às influências europeias, como as festas de salão de Veneza. A religiosidade afro-brasileira tem uma presença marcante nos festejos de fevereiro. Albuquerque Jr. destaca que, apesar de uma boa parcela da população brasileira afirmar ser católica por tradição, muitos não praticam a religião durante o Natal.

Durval Albuquerque Jr. menciona que o Natal tem sua origem relacionada a uma mudança significativa promovida pela Igreja Católica. Isso porque na região do hemisfério norte, as celebrações pagãs do solstício de inverno eram comuns e costumavam acontecer entre os dias 21 e 22 de dezembro. Nesses dias, o sol se mantinha por menos tempo, proporcionando noites mais longas. Já no hemisfério sul, ocorria o contrário.

O Natal surgiu com o propósito de dar um novo significado às celebrações pagãs que ocorriam durante a época da colheita e do solstício de inverno na Europa. Dessa forma, os produtos cultivados durante o inverno, no momento do solstício - que marca a transição do outono para o inverno - foram tradicionalmente associados com o nascimento de Cristo. Não há certeza sobre a data exata do nascimento de Cristo, que supostamente teria ocorrido em 25 de dezembro.

A celebração do Natal, originada de uma tradição religiosa, acabou sendo adotada pelo capitalismo. A ideia é promover a troca de presentes, como aqueles que foram ofertados pelos três Reis Magos ao menino Jesus: incenso, ouro e mirra. Entretanto, a maneira de consumir varia entre diferentes localidades.

"Em alguns lugares, a tradição de presentear no Natal não é comum. Na Espanha, por exemplo, os presentes são dados no Dia de Reis, durante a Cavalgada dos Reis", destaca.

O historiador recorda que, em oposição, o 6 de janeiro teve uma maior disseminação no Brasil, destacando-se as celebrações das Festas e Folias de Reis.

No Brasil, os presentes foram adiados para o Natal, resultando em uma ressignificação da data pela influência do capitalismo. O Natal tem se tornado cada vez mais uma ocasião voltada para a compra de roupas, artigos para casa, ceia e presentes para os outros. Com isso, o caráter religioso do Natal se tornou menos importante, havendo uma grande ênfase na celebração como uma festividade secular e pagã. Essa observação é interessante.

Ao recordar o subgênero literário dos escritos de Natal, Durval Muniz de Albuquerque enfatiza a importância do "propósito da existência" que a data traz consigo.

Qual é o propósito do Natal? É um festejo em honra ao nascimento, celebrando a existência. É de nosso dever festejar a vida, mesmo sendo nós os únicos que têm a consciência da morte. Isso reforça a necessidade de valorizarmos a vida e entoarmos um hino à vida.

Enfatizando uma sociedade cada vez mais intolerante e egocêntrica, o historiador destaca a importância dos valores de afeto e cooperação como fundamentais para o dia 25 de dezembro, ecoando durante todo o ano.

Para mim, o cerne do Natal é a transmissão de valores que, infelizmente, têm sido distorcidos devido à comercialização da data festiva.

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