Pagers e walkie-talkies: Líbano sofre segundo ataque 'offline' em 24 horas; entenda

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Quatorze indivíduos perderam a vida e centenas ficaram feridos devido às explosões ocorridas nesta quarta-feira, conforme informou o Ministério da Saúde do Líbano. Na terça-feira, o número de feridos quase atingiu três mil. Há registros visuais que capturam as explosões em áreas com grande concentração de pessoas, além de incêndios em veículos e residências.

O grupo radical e a administração do Líbano atribuíram a culpa a Israel, que não fez comentários sobre a situação. Confira o contexto:

Uriã Fancelli, especialista em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Groningen, destaca que essa situação pode estabelecer as bases para que Israel se envolva em um confronto direto com o Hezbollah, intensificando o conflito na área. Confira a análise completa na íntegra da reportagem.

Incêndio gerado por explosões de rádios comunicadores no Líbano — Imagem: Telegram/Reprodução

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O Que Ocorreu?

Radios usados pelo Hezbollah detonaram em 17 de setembro de 2024 — Imagem: Reuters

Os pagers utilizados pelo Hezbollah começaram a detonar simultaneamente no Líbano por volta das 15h45 de terça-feira, no horário local (9h45 em Brasília). As explosões se sucederam ao longo de aproximadamente uma hora. Entre os mais de 2.700 feridos, cerca de 400 foram atendidos em estado grave.

O governo do Líbano solicitou que todos os seus cidadãos que têm pagers descartem os aparelhos de forma imediata, conforme informou a agência de notícias estatal iraniana Irna.

Nesta quarta-feira, no entanto, foram relatadas diversas explosões no sul de Beirute e na região sul do Líbano, áreas controladas pelo Hezbollah. Desta vez, os rádios comunicadores utilizados pelo grupo começaram a explodir, de maneira semelhante aos pagers.

Em imagens e gravações, era perceptível o início de incêndios em veículos e residências, além de explosões e agitação nas multidões — mesmo durante o que se acreditava ser o velório de quatro membros do Hezbollah falecidos no dia anterior.

Causas Das Explosões: O Que Sabemos?

Walkie-talkies danificados por explosões no Líbano — Imagem: Telegram/Reprodução.

Não existem dados sobre como ocorreu a explosão dos walkie-talkies. É provável que os aparelhos tenham sido equipados com explosivos, assim como aconteceu com os pagers.

De acordo com o jornal "The New York Times", fontes oficiais relataram que Israel conseguiu modificar um lote de pagers de uma empresa taiwanesa que havia sido solicitado pelo Hezbollah.

Os dispositivos de pager que foram detonados foram produzidos por uma companhia baseada em Budapeste, conforme revelou a empresa taiwanesa Gold Apollo.

As autoridades comunicaram que uma carga explosiva de menos de 50 gramas foi posicionada perto da bateria de cada pager, acoplada a um interruptor. Dessa forma, os pagers puderam ser ativados à distância.

Por volta das 15h30, no horário local (9h30 em Brasília), os dispositivos receberam uma comunicação que aparentava ter sido enviada pela cúpula do Hezbollah, conforme relatou o periódico. Essa mensagem pode ter levado os usuários a se aproximarem ou a manipularem os aparelhos.

A comunicação "enganosa", por sua vez, acionou os explosivos.

Por Que O Hezbollah Utiliza Radios E Pagers?

Detonações de rádios comunicadores geram tumulto no Líbano — Imagem: Fadel Itani/AFP

O Hezbollah recorre a equipamentos considerados ultrapassados, como pagers e walkie-talkies, para impedir a localização via GPS e a coleta de informações por parte da inteligência israelense. Dessa forma, a utilização de smartphones e celulares foi proibida entre os integrantes da organização.

O The New York Times noticiou que o Hezbollah adquiriu mais de 3 mil pagers da Gold Apollo. A empresa declarou nesta quarta-feira (18) que os dispositivos utilizados pelos membros do Hezbollah não foram fabricados diretamente por ela, mas sim por uma planta autorizada, conhecida como BAC.

Até o momento em que este documento foi publicado, a data de produção e a origem dos walkie-talkies ainda não estão definidas.

Os pagers surgiram como uma forma de comunicação portátil nas décadas de 1950 e 1960 e ganharam popularidade nas décadas de 1980 e 1990, antes do aumento da utilização de telefones celulares.

No Brasil, esses serviços ficaram populares com o nome de "bipes". Para se conectar com outra pessoa, era necessário ligar para uma central de atendimento e informar a um operador qual número deveria receber a mensagem — o texto precisava ser breve.

Quem Comandou O Ataque?

O Hezbollah e o Irã responsabilizam Israel pelos ataques. Até o momento da elaboração desta matéria, ninguém havia reivindicado a autoria. O governo israelense também não se manifestou sobre as alegações.

O periódico "The New York Times", por outro lado, reportou que autoridades cientes da operação, incluindo um funcionário dos Estados Unidos, afirmaram que o Mossad, a agência de inteligência de Israel, está envolvido na ação.

O Que Acontece A Seguir?

Militares do Hezbollah manuseando um lançador de foguetes Katyusha em imagem de abril de 1996 — Crédito: Mohammed Zaatari/AP

Entretanto, o grupo pode encontrar desafios na coordenação de suas ações nos próximos dias, pois a comunicação era feita por meio dos dispositivos que detonaram.

De acordo com o professor Uriã Fancelli, a ameaça de represálias anunciada pelo Hezbollah gera apreensões sobre uma possível confrontação direta entre o grupo extremista e Israel. Ele observa que há também um cenário político que envolve o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

O docente também destacou outros aspectos, como o falecimento de líderes do Hezbollah em ações militares israelenses.

Ademais, o governo de Israel afirma que só conseguirá reintegrar civis ao norte do país, na área limítrofe com o Líbano, através de uma operação militar. O regresso dos habitantes a essa zona tornou-se, de maneira oficial, uma das metas da guerra.

"As reações ao ataque dos pagers, provenientes tanto do Irã quanto do Hezbollah, devem ser meticulosamente pensadas para evitar que Israel tenha a justificativa que precisa para dar início de forma oficial a uma nova linha de conflito", afirmou Fancelli.

A ONU fez um aviso sobre uma "intensificação extremamente alarmante" e solicitou que as partes envolvidas se abstenham de qualquer atitude que possa agravar a situação no Oriente Médio.

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