"Um craque esquecido": a história de Villadoniga, o estrangeiro com mais gols com a camisa do Vasco

Penarol

Daniel, parente de Villadoniga, comentou sobre os arremessos do tio: "Eram verdadeiros tiros de bazuca".

Nesta matéria, o repórter destaca a origem montevideana do lendário atleta do clube das décadas de 1930 e 1940. Conhecido como "O Arquiteto", graças à sua habilidade em criar jogadas, ou também chamado de "um craque esquecido", conforme alguns uruguaios afirmam.

Villadoniga em atividade pelo Vasco da Gama — Imagem: Ilustrado do Esporte (acervo pessoal)

No Museu do Peñarol, onde Daniel labora, ele deparou-se com outro indivíduo com o mesmo nome. Uma entrevista pitoresca. Daniel Villadoniga, sobrinho do ícone uruguaio que se destacou não apenas no Vasco, mas também no Peñarol e no Palmeiras, compartilhou particularidades sobre a vida do tio, que era irmão da sua mãe. O sobrinho teve algumas oportunidades de visitar o tio no Brasil, país onde o ex-jogador, que faleceu em 2006, optou por residir após se aposentar.

Ele optou por residir em São Paulo e estava localizado nas imediações do Palestra Itália, que servia como reduto do Palmeiras. Guardo na memória a rua onde ele residia. Uns tempos atrás, quando ele já havia alcançado quase seis décadas de vida, eu e ele jogamos bola uma única vez. Subitamente, a esférica apareceu e ele prontamente a chutou, deixando-me apreensivo. Era uma autêntica bomba. Seus chutes intimam o mais forte, como ele já havia mencionado previamente - relembra Daniel, quem hoje já soma 65 anos.

Na imagem, visualizamos Daniel Villadoniga, que é sobrinho de um ex-jogador dos times Vasco e Palmeiras, posando ao lado do troféu do Campeonato Uruguaio de 1936. A foto foi capturada por Bruno Murito.

Ao finalizar sua carreira, ele praticava bocha como um hobby no clube de São Paulo. Villadoniga, na verdade, foi sepultado no túmulo oficial do Palmeiras em 2006, quando faleceu com 90 anos de idade.

"El Architecto" foi um jogador do Vasco da Gama entre os anos de 1938 e 1942, tendo conquistado títulos como o Torneio Internacional Luiz Aranha de 1940 e o Troféu da Paz de 1942. Foi nesse último torneio que Ademir de Menezes, um dos maiores ícones da história do clube, iniciou sua trajetória pelo time.

De acordo com as palavras de Daniel Villadoniga, o seu tio veio ao mundo em Villa del Cerro, um bairro humilde de Montevidéu, no passado e foi criado junto com seus nove irmãos. Como seu pai e sua mãe eram imigrantes da Espanha, ele foi o único de sua família a triunfar no âmbito futebolístico.

Daniel, o sobrinho de Villadoniga, relata as raízes do talentoso jogador uruguaio.

Dentre os membros de sua família, ele e mais oito irmãos se aventuraram na carreira de jogador. Enquanto ele jogava para o Peñarol, o irmão dele atuava pelo Nacional, entretanto, uma lesão alterou o rumo da carreira do irmão. Sorte do jogador que ele soube se destacar no Peñarol, tendo inclusive marcado três gols em um clássico e conquistado três Campeonatos Uruguaios. Daniel é quem relata essa história de sucesso na carreira do jogador.

Ademir de Menezes e Villadoniga unidos pelo Vasco em 1942 - Foto: Reprodução do Jornal dos Esportes.

No time do Peñarol, ele conquistou o título de campeão uruguaio por três vezes consecutivas, sendo elas em 1935, 1936 e 1937, período em que esteve jogando no clube. Em seguida, transferiu-se para o Vasco da Gama, após ter se destacado na Copa América de 1937, onde anotou um gol contra o Brasil logo no primeiro minuto de jogo, mesmo a seleção perdendo por 3 a 2.

A equipe do Peñarol, vencedora do campeonato uruguaio de 1936, está representada na foto com Villadoniga, que aparece na posição secundária à esquerda da imagem. O registro fotográfico se encontra no acervo do Museu do Peñarol.

Esta é a edição de 1936 do Campeonato Uruguaio, vencida pelo Peñarol, e a taça está presente devido ao clube ter conseguido cinco títulos. Villadoniga teve um papel crucial nessa competição, jogando em 1935, 36 e 37, e conquistando o título em todas as três ocasiões - afirma Eduardo Cicala, membro da comissão de história do Peñarol.

Eduardo Cicala, funcionário do Museu do Peñarol, discorre acerca do título conquistado pelos uruguaios em 1936.

Compreenda a narrativa por trás da Copa Atlântico, a pioneira jornada do Vasco pelo continente sul-americano.

Durante suas duas passagens pelo Peñarol, Villadoniga participou de 78 jogos e marcou 33 gols. Embora tenha sido fundamental para o clube na década de 30, período em que o Uruguai venceu a Copa do Mundo de 1930 e a Copa América de 1935, Villadoniga construiu sua história e se conectou mais com o Brasil.

Ele teve uma trajetória muito bem-sucedida no futebol brasileiro, tendo atuado no Rio de Janeiro pelo Vasco da Gama - clube no qual se tornou o estrangeiro com maior número de gols marcados - e em São Paulo, defendendo o Palmeiras por cinco anos até encerrar sua carreira esportiva no mesmo clube. Durante sua vida, voltou apenas uma vez ao Uruguai, e isso foi para rever a minha mãe, que infelizmente faleceu vítima do câncer. Este atleta faleceu na cidade de São Paulo aos 90 anos.

Por um valor de 12 mil réis, ele ingressou no Vasco. No começo de sua carreira, seu nome era grafado de forma incorreta como "Villadonica", conforme relatado por historiadores uruguaios em uma entrevista concedida ao site ge.

A fotografia mostra a Comissão de História do Museu do Peñarol, que é responsável por gerenciar a organização e curadoria das exposições que mostram a rica trajetória do clube esportivo uruguaio.

Nos anos 90, dirigi-me ao complexo residencial situado no Parque Antártica, cidade de São Paulo, atualmente ocupado pelo Allianz Parque, para visitá-lo. Ele foi muito amável e afável, acolhendo-me e respondendo às minhas dúvidas. Confirmou-me também que seu apelido era grafado com "g", não "Villadonica", como divulgado pelos veículos de comunicação da época - relatou Richard Gutiérrez, da Comissão de História do Peñarol.

Imagem das Palmeiras em 1942. Em posição vertical estão Oberdan, Echevarrieta, Begliomini, Junqueira, Villadoniga, Waldemar Fiume, Zezé Procópio, Og Moreira, Del Nero, Lima, Claudio e Clodô; agachados, estão Claudio Cardoso e Del Debbio - Fotografia Divulgada pelo Palmeiras.

Villadoniga estabeleceu uma conexão mais forte com o Palmeiras do que com o Vasco da Gama, no entanto, sua trajetória no clube carioca o consagrou como o estrangeiro com mais gols na história, tendo marcado 40 vezes, superando Cano, que atualmente joga no Fluminense, e é o segundo colocado. A passagem por São Januário deixou uma marca indelével em Villadoniga, conforme declarado por seu sobrinho Daniel.

Daniel Villadoniga menciona o tio que fez parte do time do Vasco: "Ele desfrutou de anos maravilhosos no Rio de Janeiro"

Segundo um artigo do Jornal dos Esportes, arquivado na Biblioteca Nacional, Villadoniga foi dispensado e deixou o Vasco da Gama devido ao elevado custo dos acordos, que já não justificavam mais sua presença.

Assim, Villadoniga partiu do Vasco e escreveu seu nome na história do Palmeiras, onde se encontra entre os cinco maiores artilheiros estrangeiros do clube, tendo participado de mais jogos e conquistado mais títulos. Por sua vez, em São Januário, continua a ser o estrangeiro com maior número de gols marcados pelo clube, sem concorrência.

Villadoniga deixa o time do Vasco — Imagem: Jornal dos Esportes

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