Alexandre Ramagem: quem é deputado bolsonarista alvo da PF por suposto uso da Abin para proteger aliados e vigiar opositores

Ramagem

O crédito da imagem é atribuído a Carolina Antunes, funcionária da Presidência da República.

Após coordenar a segurança de Bolsonaro durante sua campanha eleitoral em 2018, Ramagem foi nomeado por ele para assumir a direção da Agência Brasileira de Inteligência.

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Foto BBC Brasil

Na quinta-feira (25/01), ocorreu uma operação da Polícia Federal (PF) contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que era diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a administração de Jair Bolsonaro. A investigação se concentra em supostas atividades ilegais que ocorreram durante sua gestão.

A família Bolsonaro tem em Ramagem um importante apoiador, que é cogitado para se candidatar à prefeitura do Rio de Janeiro neste ano, cidade onde o ex-presidente teve início na política.

Durante a campanha de 2018, ele se aproximou do grupo político e foi escolhido pela PF para liderar a proteção do candidato após o ataque que sofreu em setembro daquele ano, o qual quase o tirou a vida.

No ano de 2020, o senador Sergio Moro (União-PR), à época Ministro da Justiça, denunciou Bolsonaro por tentar interferir na Polícia Federal. Nessa ocasião, o ex-presidente tentou apontar Ramagem como diretor do órgão. Contudo, o Supremo Tribunal Federal (STF) vetou tal nomeação pelo fato dos dois possuírem uma relação pessoal próxima.

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Encerramento das Leituras Sugeridas

Atualmente, Ramagem é alvo de suspeitas por supostamente ter utilizado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em benefício dos interesses da família Bolsonaro.

A BBC News Brasil entrou em contato com o deputado Ramagem através de seu escritório, contudo, ainda não houve nenhum pronunciamento do político em relação à operação da PF.

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De acordo com a decisão do juiz do STF, Alexandre de Moraes, que permitiu a operação de hoje, "os agentes federais designados, liderados por ALEXANDRE RAMAGEM, fizeram uso de recursos e serviços ilegais da ABIN para espionagem e intromissão em várias investigações da Polícia Federal, com o objetivo de beneficiar RENAN BOLSONARO, filho do ex-Presidente JAIR BOLSONARO".

Em uma investigação já encerrada, havia suspeitas de que Renan teria realizado tráfico de influência, ao supostamente intermediar encontros entre empresários e membros do governo Bolsonaro. Foi neste caso que a Agência Brasileira de Inteligência possivelmente teria trabalhado em benefício de Renan.

A decisão inclui também alegada participação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na elaboração de relatórios de inteligência para auxiliar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), primogênito do ex-presidente, na investigação de um suposto esquema de corrupção envolvendo a apropriação indébita do salário de funcionários em seu antigo cargo como deputado estadual no Rio de Janeiro.

Posteriormente, o processo ficou estagnado em virtude das resoluções do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que invalidaram as evidências obtidas.

A equipe da BBC News Brasil fez uma tentativa de entrar em contato com Jair Bolsonaro e seu filho Renan por meio do secretário de Comunicação do governo anterior, Fabio Wajngarten, mas não recebeu uma resposta.

Através de sua equipe de apoio, Flávio Bolsonaro rebateu as acusações de ter utilizado a Abin como meio de segurança pessoal, negando tal prática.

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Foto BBC Brasil

Em nota, o senador negou veementemente que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) o tenha auxiliado em qualquer ocasião durante seus 42 anos de vida. Ele classificou como absurda a alegação e tratou-a como mais uma tentativa de criar narrativas fictícias para difamar sua família política.

Durante quase cinco anos, minha vida foi virada de ponta-cabeça e, mesmo após uma investigação extensa, nada foi descoberto. As cortes superiores arquivaram o caso com argumentos puramente jurídicos, como foi divulgado amplamente pelos meios de comunicação.

De acordo com a determinação de Moraes, a averiguação está avaliando se a Abin utilizou o sistema de inteligência First Mile para vigiar aparelhos celulares de oponentes políticos de Bolsonaro, sem a devida autorização judicial e sem a necessidade de intervenção ou conhecimento das empresas de telecomunicação.

Moraes escreveu que a Polícia Federal afirmou que os suspeitos, atuando sob as diretrizes de ALEXANDRE RAMAGEM, valeram-se do software FIRST MILE para rastrear o ex-Presidente da Câmara dos Deputados, RODRIGO MAIA, além da ex-deputada federal JOICE HASSSELMAN e também ROBERTO BERTHOLDO.

Bertholdo é identificado como o representante legal de Joice Hasselmann e o ex-vice governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que naquela época eram considerados rivais políticos do governo Bolsonaro.

De acordo com o pronunciamento da Polícia Federal, a ação chamada Vigilância Aproximada foi iniciada com base nas evidências coletadas durante a operação denominada Última Milha, que ocorreu em outubro.

Esses testemunhos dão a entender que um "grupo delituoso estabeleceu uma organização alternativa dentro da Abin e se utilizou de recursos e serviços daquela agência de inteligência do Estado para realizar atividades ilícitas, produzindo informações que foram utilizadas para fins políticos e midiáticos, em busca de benefícios pessoais e até mesmo para interferir em investigações realizadas pela Polícia Federal".

O crédito da imagem é atribuído a Carolina Antunes, funcionária da Presidência da República.

A formação acadêmica de Ramagem é em Direito.

A ação alcançou além de Ramagem, outras onze pessoas, incluindo sete servidores federais que foram dispensados de suas atividades.

A Polícia Federal realizou 21 ordens de busca e apreensão, principalmente em Brasília, bem como no Rio de Janeiro e nas localidades mineiras de Juiz de Fora e São João Del Rei.

O escritório legislativo de Ramagem foi foco de atenção. Não houve detenções.

No entanto, Moraes recusou a solicitação da PF de remover o suspeito de seu cargo como deputado.

Essa possibilidade pode ser reconsiderada se o suspeito decidir usar seus poderes para influenciar a produção de provas ou o progresso das investigações, afirmou na sentença.

Diversos representantes do governo Bolsonaro vieram em apoio a Ramagem.

O parlamentar, Sargento Gonçalves (PL-RN), declarou que as ações dirigidas aos deputados que fazem oposição mostram de maneira clara que estão sendo alvos de perseguição, assim como outros políticos. Ele enfatizou que neste momento de instabilidade, é necessário que se mantenham firmes. As palavras do deputado foram enviadas à mídia como uma declaração oficial.

Ramagem: Caminho Para A Abin

Formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) no ano de 2000, Ramagem ingressou na Polícia Federal em 2005 como delegado.

Na Polícia Federal, ocupou cargos de liderança na área de Recursos Humanos entre 2013 e 2014, e na divisão de Estudos, Legislações e Pareceres de 2016 a 2017.

Ele igualmente integrou o grupo de pesquisa da Operação Lava Jato no estado do Rio de Janeiro em 2017.

Após a inauguração de Bolsonaro, Ramagem foi convocado para ocupar um cargo no governo, começando como consultor de alto escalão na Secretaria de Governo sob a direção do general Carlos Alberto Santos Cruz.

Em junho do ano passado, renunciou a esse papel para assumir a liderança da Abin.

O juiz da Suprema Corte concordou com a solicitação do PDT, que apresentou justificativas sobre a relação de amizade entre Bolsonaro e Ramagem, que pode prejudicar "os princípios constitucionais da objetividade, integridade e interesse coletivo", os quais são fundamentais para a escolha do diretor da Polícia Federal.

Naquele tempo, uma imagem de Ramagem junto aos filhos do chefe de Estado em uma celebração de Réveillon, na transição de 2018 para 2019, foi amplamente compartilhada.

Durante o momento, Bolsonaro minimizou a importância do assunto quando respondeu a um comentário em uma plataforma de mídia social: "Então e daí? Antes de [ele] conhecer meus filhos, eu conheci o Ramagem. Isso significa que ele não pode ser vetado? Devo escolher alguém apenas porque é amigo de alguém?"

A estreita relação do delegado com a família gerou muita polêmica devido às circunstâncias em que ocorreu a mudança de liderança na Polícia Federal, logo após a renúncia do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, alegando que Bolsonaro estava tentando interferir na PF.

Durante o momento, o ex-líder da Associação dos Delegados da Polícia Federal, Edvandir Paiva, expressou que Ramagem era considerado como um "profissional diligente e habilidoso" por seus colegas de trabalho.

Em abril de 2020, foi afirmado que a carreira dele não é desacreditada.

No entanto, os delegados estão incomodados com a saída conturbada de Moro, juntamente com as acusações de interferência na instituição, o que coloca a Polícia Federal em suspeição, enfatizou na ocasião.

Depois que a Suprema Corte impediu sua nomeação, a Polícia Federal passou a ser dirigida pelo delegado Rolando Alexandre de Souza. Enquanto isso, Ramagem permaneceu na direção da Agência Brasileira de Inteligência até março de 2022, quando decidiu renunciar e concorrer com êxito nas eleições parlamentares para o cargo de Deputado Federal.

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