Após ataques a ônibus, moradores relatam caos na zona oeste do Rio

Rio de Janeiro

Na segunda-feira (23), ataques perpetrados por delinquentes na zona oeste do Rio de Janeiro tiveram um impacto significativo nas atividades comerciais e escolares, além de causar transtornos no tráfego. Os residentes e trabalhadores locais relataram inúmeras reclamações sobre a falta de transporte público e o congestionamento de várias estradas.

Catita Leal Cesario, residente no bairro de Santa Cruz, é funcionária da Escola Municipal Bertha Lutz, localizada em Guaratiba. Declarou que sua maior preocupação, ao tomar conhecimento dos ataques, foi a de comunicar os pais dos alunos e planejar a evacuação da escola. O retorno dos estudantes para casa não se deu sem dificuldades.

A única alternativa que tínhamos era permanecer na escola ou caminhar até em casa. Decidimos eu e uma amiga seguir o segundo plano. Demoramos cerca de sessenta minutos, caminhamos em passos rápidos, pois havia locais vazios, por isso, aumentamos a velocidade para não ficar expostos.

Os criminosos agiram logo depois que um membro da milícia faleceu em uma ação policial. Eles incendiaram 35 ônibus e um trem, causando o bloqueio de várias vias. Em resposta, a empresa estatal Mobi-Rio paralisou algumas linhas do BRT por motivos de segurança, já que os veículos haviam sido queimados. A concessionária Supervia teve que fechar algumas estações de trem também.

Catita e sua companheira de viagem se depararam com dois ônibus em chamas. De acordo com o depoimento dela, todos os estabelecimentos comerciais estavam fechados, o transporte público não operava e várias ruas estavam congestionadas. Ela menciona ainda a falta de presença policial. "Se eu tivesse visto um carro da polícia, teria ficado surpresa. Só vimos um caminhão dos bombeiros tentando conter um dos ônibus incendiados".

Nas plataformas digitais, são frequentes as publicações similares à de Catita. Várias postagens e fotografias mostram as adversidades enfrentadas pelos deslocamentos. Um registro em vídeo mostra diversos residentes retornando ao lar na carroceria de um caminhão cegonha.

Maiara Santiago compartilhou que sua irmã atua profissionalmente na zona sul e reside na zona oeste. Para retornar à residência, ela desembarcou na estação Coelho Neto e quis pegar a van, entretanto, o valor da passagem era R$10,00 para que a pessoa ficasse em pé durante o trajeto. Conforme outra usuária, o custo do Uber na área era notavelmente alto e, mesmo assim, os condutores cadastrados no app estavam rejeitando as solicitações de viagem.

Aline Saraiva expressou sua dificuldade em chegar em casa, já que seus colegas ficaram presos em congestionamentos causados por veículos incendiados e não há transporte público disponível. Ela concluiu que o Rio de Janeiro está em uma situação crítica. Enquanto isso, outros usuários do Twitter também demonstravam preocupação com seus entes queridos. Carolynna Assis escreveu que, em meio a esta guerra que aflige o Rio de Janeiro, seu pensamento está focado nos amigos e familiares que necessitam retornar para casa neste exato momento.

Cerca de dezessete horas, o Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro divulgou através de suas plataformas online que os incêndios estavam causando efeitos negativos em áreas como Guaratiba, Paciência, Cosmos, Santa Cruz, Inhoaíba e Campo Grande. Posteriormente, outras regiões também sofreram com novos ataques. Um vídeo, que se espalhou pelas redes sociais, retrata o exato momento em que um ônibus foi incendiado em Inhoaíba, com passageiros presos no seu habitáculo. Por sorte, todos conseguiram sair pela porta traseira.

Às 18h40, o município anunciou o estágio de atenção, o terceiro nível em uma escala de cinco, visando alertar a população sobre ocorridos que podem afetar sua rotina. A recomendação foi de evitar as áreas afetadas, levando à suspensão das aulas em dezenas de escolas. Algumas dessas escolas já se pronunciaram informando que não abrirão suas portas nesta terça-feira (24).

A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que tem campus localizado na região oeste da capital fluminense, informou que também implementou medidas de segurança. As avaliações acadêmicas programadas para acontecer nesta terça-feira (24) serão reagendadas e as aulas acontecerão de maneira remota. Por outro lado, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que não possui unidades na região afetada, divulgou um comunicado afirmando que suas atividades ocorrerão normalmente. No entanto, os estudantes e servidores que vivem nas áreas afetadas terão suas ausências justificadas.

O chefe do Executivo estadual, Cláudio Castro, reconheceu que as instituições de segurança foram pegues desprevenidas e afirmou que uma ação de backup está em andamento com o objetivo de assegurar que não haja mais ocorrências desse tipo. Até o momento, as autoridades confirmaram a detenção de 12 indivíduos suspeitos de terem participado dos incêndios.

O prefeito Eduardo Paes utilizou suas redes sociais para se pronunciar sobre os acontecimentos. Ele afirmou que milicianos residentes na Zona Oeste atearam fogo em ônibus públicos financiados com o dinheiro da população. Tal atitude foi uma forma de protesto contra uma ação policial. O prejuízo acaba sendo todo do cidadão trabalhador. Como resultado, os serviços de transporte na Zona Oeste foram suspensos, afetando negativamente a vida dos moradores das regiões supostamente protegidas pelos milicianos. Paes enfatizou que é necessária uma reação firme das forças policiais. Como prefeito, ele apela para que o Governo do Estado e o Ministério da Justiça intervenham para evitar que fatos como esse se repitam.

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