Mulher denuncia ex-marido dono de construtora por série de agressões e violência psicológica
De acordo com a pessoa afetada, que optou por permanecer anônima, os atos de violência tiveram início no terceiro ano de sua relação, a qual começou em 2017. A união foi encerrada em agosto de 2024, depois de uma sequência de agressões.
A vítima sofreu fraturas na mão e nos dedos causadas pelo empresário. — Imagem: Arquivo pessoal
A vítima fez o registro de um boletim de ocorrência em 27 de setembro, na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), e obteve uma medida protetiva. Três dias após, no dia 30, o Judiciário de Roraima emitiu um mandado de prisão preventiva contra Edgilson. Contudo, ele permanece em liberdade.
O g1 entrou em contato com a Polícia Civil para entender o motivo pelo qual o mandado de prisão ainda não foi executado e está aguardando uma resposta.
Em resposta às acusações, o advogado do empresário, Newman da Silva Ferreira Júnior, declarou que seu cliente não cometeu "as ações que lhe são atribuídas, enfatizando sua total inocência". Ele acrescentou que os "eventos mencionados" ocorreram em 2021 e que já foram devidamente esclarecidos às autoridades (veja a declaração completa abaixo).
O empresário Edgilson Dantas Santos foi acusado por uma série de agressões à sua ex-esposa. — Foto: Acervo pessoal.
Violência Verbal E Física
Ao longo de todos esses anos, a vítima compartilhou as diversas agressões que enfrentou, incluindo uma fratura no nariz, dedos das mãos quebrados, além de ter sido estrangulada e ameaçada de morte. Ela declarou: "Ele sempre dizia que, se algum dia fosse preso, eu poderia fazer o que quisesse, mas ele mandaria me matar, e eu acabaria morrendo."
A mais recente violência ocorreu em 2 de junho, na residência onde ela morava com o empresário e a filha adotiva, de 10 anos, em Boa Vista, na capital. Nesse dia, a mulher foi estrangulada e agredida com socos e chutes, chegando a desmaiar.
Os primeiros sinais de violência se manifestaram por meio de palavras e iniciaram-se no terceiro ano de matrimônio. Durante as discussões, a vítima era constantemente interrompida com gritos e ofensas. Com o passar do tempo, o agressor passou a agredi-la fisicamente.
Durante uma das confrontações, ela relata que foi submetida a torturas com um saco plástico na cabeça e que sua cabeça foi colocada dentro de um vaso sanitário. As violências ocorriam, sobretudo, na residência do casal, em Boa Vista, e em uma propriedade rural no município de Cantá, ao norte do estado.
A vítima documentou as agressões que sofreu durante seu casamento com o empresário — Foto: Acervo pessoal.
Por mais de cinco anos, a vítima sofreu agressões com socos, chutes e até teve uma das mãos fraturadas. Em entrevista ao g1 e à Rede Amazônica, ela relatou que, após algumas das violências, Edgilson a incentivava a refletir sobre a família que tinham, prometendo que iria mudar suas atitudes e enviava passagens da Bíblia.
A fim de ocultar e justificar as marcas na pele da mulher, ele a instruía a disfarçar os hematomas com maquiagem e dizia aos outros que ela tinha se acidentado. "Todas as vezes em que ele me agredia, eu me escondia; ele me aconselhava a usar maquiagem, a não comentar [sobre as agressões], a pensar na nossa filha e a não arruinar a vida dela e a dele", relatou ela.
A vítima relata que atingiu seu limite no dia em que foi atacada na presença da filha que tem com o agressor, além de sua sobrinha de 21 anos e um sobrinho de 10. A última agressão que ela enfrentou ocorreu no dia 2 de junho, na residência da família.
Segundo o depoimento dela, Edgilson Santos estava se divertindo com um amigo e, ao retornar para casa, trancou-se no quarto do casal. A vítima solicitou permissão para entrar e tomar um banho, o que deixou o homem irritado. Nesse momento, ele abriu a porta do quarto e arrastou a mulher pelos cabelos para dentro do ambiente.
Ela sofreu várias pancadas no rosto e teve a cabeça arremessada contra a esquina de um banheiro, além de ter sido estrangulada pelo empresário. As crianças foram as responsáveis por chamar a Polícia Militar, que prendeu o homem. Quando foi detido, ele já estava deitado em um outro quarto da casa, dormindo.
"Minha sobrinha ficou completamente atordoada, sem saber como reagir. Foi nesse instante que meu sobrinho de 10 anos chamou a polícia, juntamente com minha filha. Eu havia desmaiado momentos antes e estava bastante ferida, com um corte na cabeça. Havia muito sangue, um imenso volume de sangue", relatou a vítima.
Na delegacia, ela foi pressionada por amigos e pelos filhos de Edgilson, de um casamento anterior, a não registrar a denúncia. Um dos filhos dele, inclusive, chegou a ameaçá-la de morte. Dessa forma, naquele dia, ela optou por não fazer a queixa.
"Recordo que, quando a polícia o retirou do veículo, ele me lançou um olhar que parecia dizer: 'esteja pronto'. Eu estava apavorado, realmente apavorado; é difícil descrever tudo que eu sentia naquele instante. O delegado ainda não havia chegado e meus amigos me aconselhavam a ir embora e a não prestar depoimento, mas eu, me sentindo vulnerável, acabei indo", recorda.
Depois do incidente, ela deixou a residência juntamente com a filha. A partir desse momento, passou a enfrentar abusos psicológicos. Em suas mensagens, o empresário ofendia a mulher e dizia que, se ela o respeitasse, isso "não ocorreria". De acordo com a mulher, ele também a ameaçou de morte se ela decidisse denunciar seus atos.
No dia 27 de setembro, após receber uma sequência de mensagens insultuosas, ela optou por se dirigir à delegacia para registrar uma queixa contra ele. O caso foi acolhido pela delegada Letícia de Oliveira Paiva, comprometida em apoiar vítimas de violência doméstica.
No dia 30 de setembro, uma ordem de proteção foi concedida contra o empresário, que ficou proibido de se aproximar da ex-esposa, pelo 1º Juizado de Violência Doméstica da cidade de Boa Vista.
No mesmo dia, o mandado de prisão a seu respeito foi emitido pelo mesmo tribunal. A assinatura foi da juíza Rafaelly da Silva Lampert.
A defesa do Sr. EDGILSON DANTAS SANTOS, cujo nome foi relacionado a um caso de violência doméstica, torna-se pública para afirmar que o acusado não cometeu os atos que lhe foram atribuídos, declarando sua total inocência.
A denúncia em questão refere-se ao descontentamento da denunciante devido à separação que aconteceu há oito meses, quando o acusado decidiu encerrar o relacionamento. Os acontecimentos mencionados já foram devidamente relatados às autoridades, sendo eventos passados que ocorreram em 2021.
Informa também que, desde o incidente, se colocou prontamente à disposição das autoridades policiais e tem colaborado com a investigação dos fatos, requisitando as medidas necessárias para esclarecer a situação e buscar a justiça.
A defesa informa que seu cliente optou por permanecer em silêncio até agora, visando não interferir nas investigações que estão sendo conduzidas de forma rigorosa pela Polícia Civil e pelo Ministério Público. Essa é também a razão pela qual ele não se manifestou sobre o conteúdo das acusações, as quais estão sob sigilo judicial.