O excêntrico magnata que espalhou superstição da sexta-feira 13

Embora a superstição tenha raízes profundas na história, atribui-se a ele o mérito de ter popularizado a data na cultura contemporânea por meio de seu livro Sexta-feira 13, que narra a trama sinistra de um corretor da Wall Street que distorce o valor das ações para se vingar de seus adversários, levando-os à ruína.

De acordo com Steve Roud, autor do guia "Superstições da Grã-Bretanha e Irlanda" da editora Penguin, a combinação de sexta-feira com o número 13 sempre foi considerada um sinal de má sorte.

A fé religiosa se transformou em um desinteresse generalizado por iniciar projetos ou realizar atividades significativas em uma sexta-feira.

????‍♀️ As explicações que ligam o número 13 à sorte negativa englobam a quantidade de indivíduos que participaram da Última Ceia e o total de bruxas pertencentes a um grupo.

Eventualmente, esses dois fatores, a sexta-feira e o número 13, que já despertavam temor de forma independente, acabaram se juntando - precisamente com a obra de Thomas W. Lawson.

Entretanto, a conexão entre a data e Lawson não se limita a isso. A tradição conta que alguns meses após a publicação de seu romance, mais precisamente em uma sexta-feira 13, no mês de dezembro de 1907, um imenso navio que ele havia encomendado e que fazia referência ao seu nome afundou.

O acidente marítimo ocorreu, na verdade, nas primeiras horas do sábado, dia 14, mas em Boston, onde Lawson residia, ainda era sexta-feira, dia 13.

A embarcação era o maior barco à vela já criado sem nenhum tipo de motor. Quando naufragou, levava aproximadamente 60 mil barris de óleo leve, e o derramamento resultante é visto como o primeiro grande desastre ecológico desse gênero.

A conexão de Lawson com a sexta-feira 13 foi apenas uma das razões que o tornaram memorável. Outro fator importante é que ele viveu e faleceu na miséria, após ter sido, em certo momento, um dos homens mais abastados dos Estados Unidos.

Lawson veio ao mundo em 1857 em Charlestown, Massachusetts. Na infância, ele ficou sem o pai, um ex-combatente da Guerra Civil, que faleceu devido a ferimentos que havia sustentado.

Com apenas 12 anos, ele foi compelido a entrar no mercado de trabalho e conseguiu um emprego como mensageiro em um banco em Boston. Nesse ambiente, começou a desenvolver o desejo de enriquecer.

Desde cedo, ele se destacou na negociação de ações, e estudiosos relatam que possuía uma habilidade notável para selecionar os papéis que teriam a maior valorização.

No entanto, sua riqueza seria adquirida de forma duvidosa: aproveitando suas habilidades para influenciar os mercados financeiros.

Lawson tornou-se um especialista em mineração, com foco particular no setor de cobre, uma vez que Boston era o principal centro financeiro desse ramo.

A explosão do preço do cobre no final do século XIX o fez acumular uma fortuna de milhões.

Enquanto ele acumulava riqueza, muitos dos clientes sob sua orientação sofriam perdas significativas, o que o tornou um dos mais polêmicos "barões ladrões" da conhecida Era Dourada.

Um dos seus primeiros insucessos foi a recomendação de investir nas minas de ferro de Grand Rivers, em Kentucky, que resultaram em um grande fracasso.

Contudo, a sua atividade mais controversa — e, na época, a mais rentável — foi a sua contribuição para a fundação da Amalgamated Copper Mining Company, um consórcio que, segundo rumores, buscava monopolizar a indústria do cobre, assim como a Standard Oil, dos irmãos Rockefeller, havia feito com o setor de petróleo.

Lawson criou o contrato em parceria com William Rockefeller e Henry Rogers, que era o diretor da Standard Oil.

Em 1899, a Amalgamated Copper adquiriu a Anaconda Copper Company, uma bem-sucedida empresa de mineração de cobre, em uma transação que certos especialistas classificam como "o mais notável acordo na história de Wall Street" - e um dos "menos éticos", de acordo com outros.

Os investidores, desejosos de adquirir ações da companhia apoiada por influentes magnatas do setor empresarial, desembolsaram uma quantia exorbitante pelos certificados, sem perceber que se tratava de uma empresa fictícia (a Amalgamated Copper não possuía diretores de fato, apenas funcionários da Standard Oil).

Ao final, revelou-se que a holding foi constituída como parte de uma estratégia astuta para comprar a Anaconda Copper Company, que se tornaria uma das principais mineradoras globais do século 20.

A Amalgamated Copper nunca dominou o setor de cobre, e suas ações supervalorizadas foram perdendo seu valor.

Sexta-feira, 13 de agosto: descubra a origem da superstição associada a essa data.

De Especulador A Defensor Da Reforma

Insatisfeito com a reputação negativa que já possuía, Lawson criou mais inimigos ao publicar, em 1906, uma sequência de artigos intitulada "Finanças Frenéticas: A História da Amalgamated". Nesses textos, ele expôs as transações sombrias que teve com seus parceiros Rockefeller e Rogers.

O conteúdo também foi lançado na forma de livro.

O multimilionário, que no começo do século 20 enfrentou significativas perdas financeiras, admitiu ter cometido uma série de delitos e violações, que incluíam subornar integrantes do Legislativo e fazer "manobras" com o dinheiro público.

Um dos capítulos da obra também expunha "de que maneira as manobras de Wall Street impactam a nação".

Lawson se transformou em um defensor de reformas. Ele lançou diversas críticas sobre os problemas que identificou como parte do "sistema", incluindo seu livro Sexta-feira 13, de 1907.

Contudo, nem as pessoas que ele havia iludido nem seus colegas, que o mantiveram à margem, demonstraram interesse em suas propostas para tornar o mercado financeiro mais equitativo.

A peculiar vida pessoal do empresário, responsável pela criação de um vasto empreendimento denominado Dreamworld na cidade de Sciutate, assim como de embarcações luxuosas, incluindo o Thomas W. Lawson, acabou consumindo sua riqueza.

Na década de 1920, suas obrigações financeiras eram tão elevadas que ele precisou vender seus pertences em um leilão.

Ele faleceu em 1925, na miséria e à margem da sociedade.

Entretanto, seu legado perdura. Alguns ressaltam sua genialidade no mundo dos negócios (em 2007, o autor Ken Fisher o mencionou em sua relação das "100 mentes que transformaram o mercado").

Alguns admiradores apreciam suas iniciativas para transformar Wall Street, um projeto no qual dedicou consideráveis recursos financeiros e trabalho árduo — e que antes lhe trouxe bons lucros, até que sua sorte começou a mudar.

E existem aqueles que, sem perceber, se beneficiam de outras criações originadas da brilhante mente deste financista, que se tornou um justiceiro e autor.

Por exemplo, se você está lendo este texto na sala de estar de sua casa, confortavelmente acomodado em seu sofá, é provável que o seu bem-estar tenha origem em Lawson, que encomendou a criação de um dos modelos de sofá mais renomados nos Estados Unidos, o qual ainda leva seu nome.