Cidade de SP deixou de ser ‘terra da garoa’ para se tornar ‘cidade das tempestades’

Tempo São Paulo

Durante o período de 1960 a 1990, houve um total de 108 dias em que a precipitação pluviométrica excedeu os 50 mm; em 13 desses dias, a quantidade de chuva ultrapassou os 80 mm e somente três dias registraram mais de 100 mm de precipitação. Por outro lado, no intervalo de 1991 a 2020, foram contabilizados 152 dias com chuva acima de 50 mm, 34 dias em que a quantidade de chuva excedeu os 80 mm e 11 dias em que a precipitação ultrapassou o patamar de 100 mm.

No ano de 2007, o especialista em clima Carlos Nobre previu esse cenário ao ser entrevistado pelo Jornal Nacional: "Devemos antecipar o aumento de tempestades de alta intensidade, secas ainda mais graves, ventanias e uma crescente urgência climática."

Durante este ano, em uma conversa com a equipe da produção "Que Tempo é Esse?", que analisa as consequências das alterações climáticas sobre a área metropolitana de São Paulo, ele expressou que preferiria ter se equivocado. De acordo com Nobre, a ciência não havia antecipado ocorrências que aconteceram em 2023 e que estão ocorrendo em 2024.

De acordo com as pesquisas científicas, era previsto que a temperatura subisse cerca de 1,5°C em relação aos anos 1850 e 1900 até 2023. Era cogitado que essa marca histórica fosse alcançada pela primeira vez entre os anos de 2029 e 2030.

De acordo com o especialista em clima, a presença de uma ilha de calor urbana amplia consideravelmente a intensidade de uma onda de calor. Além disso, em decorrência das alterações climáticas, quando ocorre uma onda de calor abrangente, a cidade de São Paulo é ainda mais afetada pela condição adversa.

Nobre relatou que veio ao mundo nesta metrópole no ano de 1951. Na sua infância, costumava chover fininho cerca de 200 dias no ano, inclusive às três da tarde. Entretanto, esse fenômeno meteorológico não acontece mais. Segundo ele, isso se deve ao aumento da temperatura na cidade, que não favorece a formação de gotículas da garoa a partir da condensação do vapor de água.

De acordo com ele, há 80 anos, quase nunca a cidade experimentava chuvas com mais de 100 milímetros em um período de um ano. "Hoje em dia, temos chuvas acima de 80 mm quase todos os anos, e muitas vezes ultrapassando os 100 mm. Em uma cidade como São Paulo com muito pouco solo permeável, essa chuva intensa não pode ser absorvida pelo solo. Em vez disso, corre e causa inundações e enxurradas, como estamos vendo agora".

Para resolver o problema, de acordo com o especialista, é preciso reabilitar a floresta em áreas urbanas. "Dessa forma, a temperatura será reduzida. Se você visitar um lugar que ainda tenha floresta, como o Zoológico, e comparar a temperatura às 2 da tarde durante o verão, perceberá que a temperatura lá será de 5°C a 8°C mais baixa do que a temperatura numa área a 2 km do zoológico, no meio de estradas e avenidas. Restaurar a vegetação urbana em grande escala é uma ação obrigatória para melhorar o clima", ele afirma.

Qual Clima Estamos Vivendo?

Ler mais
Notícias semelhantes
Notícias mais populares dessa semana