Ucrânia faz primeiro ataque à Rússia com mísseis dos EUA | Ucrânia e Rússia
A Rússia, que vê a utilização desses mísseis como uma interferência direta dos Estados Unidos, se comprometeu a responder e, também nesta terça-feira, alinhou seus critérios para o uso de armas nucleares (saiba mais abaixo), sinalizando uma intensificação da situação — o país detém o título de maior potência nuclear global.
De acordo com o ministério, cinco mísseis foram impedidos de atingir seu alvo, enquanto o sexto foi danificado parcialmente. Somente alguns fragmentos de um dos projéteis caíram próximo a uma área militar, provocando um incêndio sem causar danos às estruturas.
A pasta também informou que não houve feridos.
Até a última atualização deste artigo, o governo da Ucrânia ainda não havia feito uma declaração oficial sobre o ocorrido. No entanto, fontes do governo dos Estados Unidos e do Exército ucraniano confirmaram à agência de notícias Reuters que os mísseis ATACMS foram utilizados no ataque.
É comum que Kiev não comente sobre as alegações de ataques em solo russo.
Nesta terça-feira (19), o conflito na Ucrânia atingiu a marca de 1.000 dias sem um horizonte para o seu desfecho — não estão ocorrendo negociações de paz, e a situação nas linhas de combate permanece estagnada. Atualmente, as forças russas detêm cerca de 20% do território ucraniano, mas não conseguem progredir.
O chefe de Estado da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, apresentou recentemente uma estratégia para eliminar permanentemente as forças russas, mas não especificou como pretende colocá-la em prática.
Nova Abordagem Sobre Armamento Nuclear
A orientação anterior, definida em um decreto de 2020, afirmava que a Rússia poderia empregar armas nucleares em resposta a um ataque nuclear por parte de um adversário ou a um ataque convencional que colocasse em risco a sobrevivência do Estado.
Conforme anunciado pelo Kremlin, foi uma "reação indispensável" em resposta a novas provocações do Ocidente.
No domingo (17), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deu permissão à Ucrânia para empregar mísseis de longo alcance ATACMS, que foram fornecidos pelos americanos, para realizar ataques no território russo, conforme publicado pelo jornal "The New York Times".
ATACMS: os projéteis norte-americanos que a Ucrânia pode empregar contra a Rússia.
▶️ O que são os mísseis ATACMS? A expressão ATACMS refere-se aos Sistemas de Mísseis Táticos do Exército dos Estados Unidos. Descubra mais sobre o míssil ATACMS aqui.
Em contrapartida, a Rússia possui o maior arsenal de mísseis do planeta — de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) —, incluindo o 9k720 Iskander, que apresenta características similares às do ATACMS.
Confira a comparação entre os dois mísseis no infográfico a seguir:
Informações técnicas sobre os mísseis ATACMS, dos Estados Unidos, e Iskander, da Rússia. — Imagem: Bruna Azevedo/equipe de design g1
Embora o ATACMS seja classificado como um míssil de longo alcance pelas autoridades dos Estados Unidos e pela Lockheed Martin, existem definições em fontes como a Enciclopédia Britannica e o CSIS que o categorizam como de curto alcance, com um alcance máximo de até 480 km.
Conforme um estudo realizado pelo CSIS, a Rússia possui pelo menos 24 tipos diferentes de mísseis em seu arsenal, que vão desde mísseis de curto alcance, como o Iskander, até mísseis de cruzeiro e intercontinentais, com um alcance superior a 5.300 km.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (à esquerda), e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. — Imagem: Reprodução
Até o momento, a Ucrânia não podia utilizar mísseis de longo alcance que foram fornecidos pelos Estados Unidos. O uso desses mísseis contra a Rússia era considerado uma questão delicada, uma vez que o presidente russo, Vladimir Putin, acredita que isso alteraria a natureza do conflito e já havia ameaçado retaliações. Em meio às suas advertências ao Ocidente, Putin declarou que poderia realizar testes nucleares.
Biden alterou sua postura a menos de dois meses de se despedir da Casa Branca. Em janeiro, o republicano Donald Trump assumirá a presidência dos Estados Unidos, e ainda não está claro se ele continuará a apoiar a Ucrânia no embate.
A remoção da restrição acontece em um período de aumento das tensões entre as nações da Ásia, Europa e Estados Unidos. O início de uma nova etapa da ofensiva russa na Ucrânia, que se intensificou em maio, levou a Otan e aos EUA, que apoiam a Ucrânia, a avaliar a possibilidade de permitir o uso de mísseis de longo alcance que foram entregues às forças ucranianas.
Com essa nova etapa do conflito, os Estados Unidos começaram a relaxar algumas limitações, mantendo apenas a restrição referente aos mísseis de longo alcance. Por outro lado, na Europa, os países intensificaram os pacotes de apoio financeiro, e o presidente da França, Emmanuel Macron, chegou a avaliar a possibilidade de enviar tropas francesas para a Ucrânia, o que resultou em ameaças por parte de Putin.
▶️ Qual a relevância disso? Os russos alegam que uma linha crucial seria transposta caso mísseis ocidentais fossem empregados em seu solo.
Zelensky e Biden depois de firmarem um acordo nesta quinta-feira (13). — Imagem: Alessandro Garofalo/Reuters
Os Estados Unidos e outros países da OTAN, ao fornecerem à Ucrânia apoio em forma de armamentos, capacitação e recursos financeiros, buscam evitar um confronto direto com a Rússia.
Dessa forma, a escolha de revogar a restrição ao emprego dos mísseis americanos de longo alcance representa uma significativa alteração na posição de Biden, que se mostrou prudente em relação a esse tema ao longo de sua administração. A autorização também se dá após a vitória de Trump nas eleições nos Estados Unidos.
A agência de notícias Tass informou que legisladores russos veem a autorização para que a Ucrânia realize ataques no território russo utilizando mísseis fornecidos pelos EUA como um acontecimento sem precedentes, com potencial para desencadear uma terceira guerra mundial. A declaração também ressalta que a reação será instantânea.
De acordo com representantes do governo dos EUA consultados pelo "The New York Times", a preocupação de que Putin intensifique suas ameaças em resposta à permissão para que a Ucrânia utilize mísseis americanos ainda persiste, mas foi ofuscada pela necessidade imediata diante da atual situação do conflito.
Tropas Norte-coreanas Na Guerra Da Ucrânia
Míssil ATACMS dos Estados Unidos em um teste de lançamento realizado pelo Exército americano em dezembro de 2021. — Imagem: John Hamilton/U.S. Army via AP, Arquivo.
No meio de outubro, a agência de inteligência da Coreia do Sul relatou ter identificado o deslocamento de 1.500 soldados da Coreia do Norte para a Rússia. Esse número foi revisado e as previsões dos governos sul-coreano e ucraniano indicam que entre 10 e 12 mil militares norte-coreanos poderão ser enviados até dezembro.
De acordo com o "The New York Times", essa cifra pode alcançar até 50 mil militares norte-coreanos enviados às tropas da Rússia, que poderiam ser empregados em uma nova etapa de ataque contra a Ucrânia.
De acordo com informações da Coreia do Sul, aproximadamente 12 mil soldados da Coreia do Norte foram enviados à Rússia de forma sigilosa e estão sendo treinados em instalações militares russas. A inteligência da Ucrânia também afirmou que esse mesmo número de militares norte-coreanos já se encontra na Rússia, com o treinamento das tropas acontecendo em cinco diferentes bases militares.
A participação da Coreia do Norte no conflito entre Rússia e Ucrânia elevou o grau de preocupação e tensões com a Coreia do Sul, além de países ocidentais integrantes da Otan. Os Estados Unidos, a Holanda e a própria organização militar expressaram ter evidências do envio de tropas norte-coreanas à Rússia, considerando isso uma escalada "muito grave" na situação. As autoridades sul-coreanas informaram que estão analisando a possibilidade de fornecer armamentos à Ucrânia como uma forma de reação.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta sexta-feira que "é uma questão nossa" caso o país utilize forças da Coreia do Norte e que possui total liberdade para tomar as medidas necessárias para assegurar a segurança da Rússia.
Conforme o chefe de Estado, as forças armadas da Rússia estão progredindo em diversas frentes de combate no solo ucraniano, tendo cercado um considerável contingente de soldados na área de Kursk. Em meio à controvérsia, deputados russos aprovaram um acordo com a Coreia do Norte que estabelece cooperação militar bilateral.