Bordadeiras do RN rebatem críticas ao uniforme do Brasil para abertura das Olimpíadas: 'Orgulho do nosso trabalho'

24 Julho 2024
Uniforme Brasil olimpiadas 2024

Jailma Araújo, que atua como coordenadora de Desenvolvimento Econômico e Artesanato do Município e também é presidente da Cooperativa das Mãos Artesanais de Timbaúba dos Batistas, destacou a qualidade das peças produzidas pelas bordadeiras. Ela expressou seu orgulho pelo trabalho realizado pela equipe.

Recentemente, diversas mensagens e opiniões foram divulgadas nas redes sociais criticando o uniforme e fazendo comparações com as roupas de equipes de outros países. Até mesmo foram propostos modelos diferentes criados por estilistas para representar o Brasil. Neste quarta-feira (24), o líder do Comitê Olímpico Brasileiro, Paulo Wanderley, também respondeu às críticas e afirmou que "Não estamos em semana de moda em Paris".

Segundo Alcilene Medeiros, bordadeira de 44 anos que colaborou na confecção das jaquetas da equipe, alguns comentários estão sendo injustos e exagerados. Ela afirmou que, se fosse por conta própria, teria feito o design de forma diferente, porém acredita que algumas críticas possam ser motivadas por preconceito pelo fato do uniforme ter sido fabricado no Nordeste.

Alcilene observou que as críticas têm causado impacto nas bordadeiras e nos apreciadores do trabalho. No entanto, ela destacou que têm sido feitos comentários positivos que reconhecem a importância dos bordados.

"Todos se sentem um pouco incomodados com os comentários, mas de qualquer maneira sabemos que essas observações cruéis não têm a ver com o trabalho em bordado", declarou.

De qualquer maneira, estamos um tanto melancólicos, pois isso também afeta nosso labor, nossa arte manual, nosso carinho que foi investido naquelas criações.

Valdineide Dantas, de 34 anos, que é bordadeira, também concorda com essa perspectiva. Para ela, é entristecedor de certa forma ver o bordado sendo desvalorizado, já que todo o trabalho feito foi realizado com muito carinho e dedicação.

"Não estou apenas expressando minha opinião, mas também a das outras mulheres que trabalharam arduamente durante vários meses bordando imagens de araras, tucanos e onças para esse projeto."

Segundo Alcilene Medeiros, bordadeira, mesmo diante das críticas, a exibição de seu trabalho na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos será uma forma de reconhecimento.

Tenho absoluta convicção de que após essa cerimônia de abertura e o término dos Jogos Olímpicos, seremos incapazes de lidar com a demanda e o grande volume de pedidos que surgirão.

Isto é fantástico, extremamente satisfatório. Todas nós estamos agradecidas por termos tido a oportunidade de estar presentes e participar.

Artes De Bordadeiras Potiguares Nos Uniformes Brasileiros

As costureiras de Timbaúba dos Batistas, uma pequena cidade com pouco mais de 2,3 mil moradores no interior do Rio Grande do Norte, foram as responsáveis por criar as peças de roupa que serão vestidas pelos competidores brasileiros na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, que acontece nesta sexta-feira (26).

As jaquetas da delegação foram personalizadas com bordados que retratam a vida selvagem do Brasil, incluindo tucanos, araras e onças. Este trabalho de customização foi realizado com muita atenção.

Cada peça foi cuidadosamente produzida à mão pelas mulheres trabalhadoras da região Seridó do Rio Grande do Norte, conhecida por ser um centro dessa atividade artesanal no estado. Os esportistas irão vestir essas roupas enquanto competem nos barcos que navegarão pelo Rio Sena.

As mulheres que bordam estão buscando aumentar sua visibilidade e ultrapassar limites ao exibirem sua arte em diversos países durante o evento.

De acordo com a Associação das Bordadeiras de Timbaúba dos Dantas, criada em 1984, o trabalho foi realizado por 80 artesãs da localidade. Elas utilizaram lápis, agulha, goma e máquinas de costura. A equipe inicialmente era composta por 18 profissionais, mas foi aumentando devido à grande procura.

Artesãs do Rio Grande do Norte confeccionam os trajes que serão utilizados pela equipe brasileira nas Olimpíadas de Paris.

Acervo Cresce Com Mais De 2 Mil Peças

No total, foram produzidas e entregues mais de 2.484 peças em aproximadamente cinco meses, sendo a última remessa em abril.

As costureiras de Timbaúba dos Batistas ficaram encarregadas de replicar os desenhos - previamente desenvolvidos pela Riachuelo, companhia responsável pela confecção dos uniformes - e posteriormente bordá-los para serem encaminhados à fábrica, onde as ilustrações foram aplicadas nas jaquetas.

Além da deadline apertada, outra dificuldade para as costureiras foi a complexidade dos desenhos, de acordo com a responsável pelo setor de Economia e Artesanato da cidade e líder da Cooperativa das Artesãs de Timbaúba dos Batistas, Jailma Araújo.

Em geral, o processo de produção de uma peça demandava cerca de 8 horas, conforme relatado por Valdineide Dantas, que realiza o bordado.

Jaílma Araújo, que é a líder da cooperativa, comentou que várias das bordadeiras possuem outras ocupações em meio período. Ela mencionou que isso acontece devido às crises enfrentadas pela atividade.

Jailma Araújo está trabalhando em uma obra de arte que será impressa nos uniformes da equipe brasileira durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. A imagem foi divulgada através de uma reprodução de arquivo pessoal.

Existe aquela artesã que fica em casa o dia todo, que ganha a vida exclusivamente com o bordado, que é a maioria. E há aquelas que alternam, exercem outra atividade em determinado período e depois se dedicam ao bordado.

Recentemente, de acordo com ela, graças ao suporte do governo na promoção e venda, "as possibilidades surgiram e o artesanato em bordado foi reconhecido novamente".

"Isso incentivou as nossas artesãs a acreditarem que o bordado pode ser a chance de aprimorar a nossa qualidade de vida", afirmou.

Concretizando Um Sonho

Após concluírem a tarefa, as artesãs desejam apenas aproveitar o momento. Elas irão se encontrar em um espaço público na localidade de Timbaúba dos Batistas durante a abertura dos Jogos Olímpicos para acompanhar o resultado de seus esforços.

A bordadeira Jailma Araújo afirmou que esse instante representa a concretização de um desejo e que espera com grande expectativa pela inauguração. "Qualquer artesão, qualquer criador sonha em ver o seu trabalho reconhecido, apreciado", afirmou.

Ter alcançado um emprego que foi exigente, devido à quantidade e à importância do projeto...ver que foi concluído, que conseguimos realizar isso, é motivo de grande satisfação para nossa cidade, para nossas costureiras e para nosso estado. É uma grande alegria, é tocante", acrescentou.

Vestimenta decorada pelas artistas bordadeiras de Timbaúba dos Batistas - Imagem gentilmente cedida por Marcel Merguizo/ge/ARQUIVO

Município Prospera Com Bordados

Valdineide Dantas adquiriu habilidades de costura e bordado quando tinha apenas 11 anos, aprendendo com sua mãe, que hoje, aos 55 anos, também se dedica a essa atividade. Sua experiência é um claro reflexo da importância dessas práticas na economia de Timbaúba dos Batistas, mostrando como são passadas de geração em geração.

Segundo o Sebrae-RN, cerca de 33% dos trabalhadores do município estão envolvidos na prática do bordado.

Valdineide Dantas era uma das artesãs do sertão do Rio Grande do Norte que contribuíram no processo de fabricação.

A cidade em que vivemos é extremamente pequena e a principal fonte de renda é a produção de bordados. Esse projeto beneficiou diversas famílias. O trabalho com bordados é a única forma de sustento de Valdineide Dantas, uma habilidosa bordadeira.

Muitas mulheres, como Valdineide, se dedicam à costura em casa. Ela mencionou que a maior parte das peças feitas para as Olimpíadas foi produzida por ela, que foi responsável por transferir os desenhos dos animais para o tecido antes de serem bordados por outras pessoas - inclusive por ela mesma. A fase final foi a aplicação nas jaquetas, que foi feita na fábrica da Riachuelo.

A presidente da Associação das Mãos Artesanais de Timbaúba dos Batistas, Jailma Araújo, foi responsável pela avaliação final.

Eu analisava minuciosamente os pontos e as cores. Cada detalhe precisava estar perfeitamente alinhado, tanto em relação às cores e pontos, como na expressão facial, que devia ser o mais realista possível", relatou.

Além das jaquetas de ganga com animais bordados, os uniformes também incluem saias, calças e camisetas nas cores da bandeira brasileira. Todos os produtos são fabricados em uma fábrica utilizando matéria-prima reciclada.

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