Mundo assiste hoje à construção da “grande Eurásia” sonhada por Putin

Vladimir Putin

No programa "Observatório de Geopolítica" da TVGGN, discutem-se os impactos da reunião entre Putin e Xi, bem como os desdobramentos do conflito no Oriente Médio.

Postado em 24 de outubro de 2023 às 16h58min.

A reunião entre Vladimir Putin, da Rússia, e Xi Jinping, da China, na semana passada, não recebeu a devida atenção da mídia ocidental. Embora ofuscada pela visita de Joe Biden, dos Estados Unidos, a Israel, em meio ao conflito com o Hamas, o encontro entre Putin e Xi foi extremamente relevante. Ele reforçou a ideia de que a criação da "grande Eurásia" esperada por Putin está em andamento.

A relevância do encontro entre Xi e Putin, o efeito da guerra no Oriente Médio e as atitudes da China e Rússia no conflito entre Israel e Hamas foram discutidos no Observatório de Geopolítica, apresentado na noite de segunda-feira (23) no Youtube. O programa foi mediado por Pedro Costa Junior, cientista político, com análises de Valdir Bezerra e Ana Lívia Esteves, especialistas em Rússia, e participação de Milena Megre, consultora dos Brics e especialista em energia.

Bezerra destacou a baixa visibilidade dada pela mídia ocidental sobre o encontro. Ele relatou que, durante a visita de Putin à China, o presidente russo ressaltou em uma entrevista que aquele era o seu 40º encontro com Xi, a quem considera um amigo pessoal. "Considerando a quantidade de acordos e alinhamentos que foram alcançados nesses 40 encontros, é impressionante", expressou Bezerra. Diante das câmeras, Xi se voltou para Putin e declarou que eles são os "principais estímulos que estão influenciando o cenário mundial hoje".

Projeto Ambicioso De Putin

Valdir Bezerra, diretamente de Moscou, fez uma explanação sobre a história contemporânea da Rússia, destacando o grande objetivo de Putin de criar uma Europa unificada, que se estendesse de Lisboa a Vladivostok. O líder russo buscava combinar os recursos energéticos do país com os recursos industriais do restante do continente, a fim de criar uma região independente de agentes externos ao continente, inclusive prevendo um regime de segurança no lugar da OTAN. Infelizmente, a resposta da Europa Ocidental foi de rejeição e recusa às intenções russas.

Em seguida, surgiu a opção B de Putin. "Bom, se ele não conseguiu realizar a formação da Europa unificada, a alternativa foi conceber uma Eurásia unificada, que representaria a harmonia entre dois projetos distintos". O primeiro é a união econômica euroasiática, liderada pela Rússia, estabelecida em 2014 com Belarus, Armênia, Cazaquistão e Rússia, com base no modelo europeu de livre circulação de bens, pessoas e dinheiro.

No ano de 2015, Putin juntamente com Xi assinaram um acordo que agregou ao processo de harmonização o plano de integração chinês, conhecido como a nova rota da seda. Esta iniciativa envolve a construção de sistemas ferroviários e de infraestrutura com o objetivo de ligar desde a região ocidental da China até os principais mercados europeus passando pela Ásia central, inclusive a Rússia em si.

A união entre o projeto transnacional chinês e os interesses de Moscou formaram a base da Eurásia idealizada por Putin. A visita do líder russo à China reforça a ideia de que estamos vivenciando a construção dessa "grande Eurásia", uma vez que a criação da "grande Europa" proposta por Putin em conjunto com o Ocidente foi impedida devido às ações inconstantes do Ocidente em relação a Moscou, destacou Bezerra.

Ana Lívia Esteves, que reside atualmente na Rússia, destacou que algo fascinante sobre o surgimento da Eurásia na atualidade é a "nova maneira como os estados convivem, que não será como a que estávamos acostumados a ver nas décadas de 1990 e 2000".

Será fascinante observar como esses países vão proceder com a integração de maneira igualitária e seguindo novas normas, visto que agora não poderão contar com as regulamentações da OMC devido às sanções impostas à Rússia. Ana Lívia Esteves lembrou que a Rússia não pode mais utilizar essas regulamentações, enquanto a China precisará estabelecer um novo conjunto de leis para negociar com a Rússia. Estaremos de olho em como esse processo se desenrolará.

De forma irônica, ela explicou que a Rússia teve que fazer várias concessões para ser aceita na OMC, até mesmo contrariando algumas das suas elites internas. Contudo, logo depois de conseguir entrar no grupo, o país passou a ser severamente sancionado, levantando questionamentos sobre o quão importante é seguir as regras da OMC.

Milena Megre esclareceu como o BRICS ampliado se encaixa nessa situação. Na visão dela, o grupo enfrenta um impasse em relação ao mundo desenvolvido, que está pressionando por uma transformação energética em seus meios de produção.

Atualmente, as questões das mudanças climáticas têm sido amplamente debatidas em todo o mundo. Porém, os países em desenvolvimento, como os BRICS, estão priorizando seus investimentos em fontes de energia verde, contudo, eles compreendem que a economia deve vir em primeiro lugar. Esses países utilizarão sua energia disponível para impulsionar a produção e o crescimento interno. Isso é diferente do que ocorreu no ocidente, em que os países mais poluidores durante a Revolução Industrial agora podem se dar ao luxo de defender fontes de energia mais limpas.

A especialista apontou que países como a Rússia, China, Brasil, Índia, África do Sul, Irã e Egito têm ricas reservas de petróleo e gás, mas uma migração gradativa para fontes de energia mais limpas precisa ser realizada.

"Nós passamos do uso do carvão para o petróleo gradualmente ao longo do tempo. Por isso, não devemos abandonar o uso do petróleo de maneira precipitada. Acredito que essa transição seja o que dificulta a aceitação do setor internacional."

Tensões No Oriente Médio: Riscos De Conflito

Ana Lívia Esteves e Valdir Bezerra avaliaram a disputa bélica entre Israel e Hamas e concluem que a Rússia não tem interesse algum em ver o conflito se intensificar, contrariando alegações de líderes ocidentais e da mídia. Na verdade, Moscou almeja a interrupção das hostilidades e aponta o dedo para o ocidente por dificultar uma solução pacífica na ONU.

A Rússia tem utilizado uma retórica onde os EUA são acusados de monopolizar as negociações de paz relacionadas aos conflitos no Oriente Médio, excluindo a opinião da comunidade global e evitando abordar o tema principal, que é a criação de um estado para a Palestina. Além disso, Putin mencionou que os assentamentos israelenses são um dos motivos que geram o conflito, afirmou Ana Lívia.

Enquanto a Rússia não tem interesse em aumentar o conflito, a China também não está disposta a fazê-lo, devido ao fato de ela ser a maior importadora mundial de recursos energéticos e essa região fornecer uma grande quantidade de suprimentos. Em resumo, ambos farão o que for necessário para evitar uma escalada do conflito. Essa foi a conclusão de Bezerra.

O programa de Geopolítica é exibido semanalmente, às 19 horas, na TVGGN. Veja o episódio completo abaixo e explore outros programas clicando neste link.

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